“Chasing Roo”, filme de Skye Fitzgerald, expõe práticas brutais no maior abate comercial de animais terrestres do mundo

Um novo documentário intitulado “Chasing Roo”, realizado pelo premiado cineasta Skye Fitzgerald, está a gerar ondas de choque ao expor a brutalidade sistemática da indústria comercial de abate de cangurus na Austrália. O filme oferece provas irrefutáveis de que a prática viola repetidamente os próprios padrões mínimos de bem-estar animal definidos pelo governo australiano – desmentindo declarações oficiais feitas a legisladores norte-americanos e outros intervenientes internacionais.

O documentário mostra que a caça noturna de cangurus, promovida pelo governo como “humanitária”, é, na realidade, uma atividade marcada por crueldade extrema. Estima-se que cerca de 1,2 milhões de cangurus adultos e 400 mil crias (joeys) sejam mortos anualmente, muitas vezes em condições que infringem o Código Nacional de Prática australiano, o qual exige que os animais sejam abatidos com um único tiro na cabeça.

“Este filme desmonta completamente a narrativa oficial sobre o tratamento supostamente humanitário dos cangurus”, afirmou Wayne Pacelle, presidente da organização Animal Wellness Action e do Center for a Humane Economy. “O que se vê no terreno são práticas de crueldade e engano, com o governo e a indústria a colaborarem numa campanha de desinformação.”

Num dos momentos mais chocantes do filme, um caçador é filmado a cortar os membros de um canguru ainda vivo, que tenta desesperadamente escapar após ser pendurado num camião. “Vamos continuar, e mais tarde tratamos de o abrir. Vamos deixá-lo morrer,” diz o caçador na gravação.

“Chasing Roo”, lançado na plataforma Amazon Prime em julho, também acompanha o trabalho de socorristas de vida selvagem e veterinários que lutam para salvar os animais feridos ou órfãos.

A divulgação do filme surge num momento crucial: cresce o apoio no Congresso dos EUA ao Kangaroo Protection Act, legislação bipartidária que pretende proibir a importação e venda de produtos derivados de cangurus. A proposta de lei (S.2162 e H.R.1992) prevê sanções civis e criminais para quem participe em atividades comerciais envolvendo estes animais.

“A matança em massa de cangurus para fins comerciais é desnecessária e cruel – podemos e devemos fazer melhor”, declarou a senadora Tammy Duckworth, autora da proposta no Senado. O senador Cory Booker, coautor, reforçou: “Esta lei garantirá que os Estados Unidos deixam de ser cúmplices na exploração cruel dos cangurus.”

A pressão internacional tem levado várias marcas desportivas globais a mudar de rumo. Adidas, Nike, Puma, Diadora e Sokito já deixaram de utilizar couro de canguru nos seus produtos. New Balance, ASICS e Umbro comprometeram-se a fazê-lo até 2026.

Segundo Jennifer Skiff, diretora de programas internacionais do Center for a Humane Economy, “o governo australiano e a indústria têm enganado legisladores com falsas promessas de práticas humanas. Este filme mostra que a realidade é o oposto do que é promovido oficialmente.”

Outro argumento frequentemente usado pelas autoridades australianas – o de que os cangurus atingiram níveis populacionais considerados pragas – também é desmentido no documentário. Especialistas indicam que os caçadores não conseguem atingir as quotas de abate anuais impostas pelo governo, evidenciando que as populações são inferiores ao alegado.

A parlamentar australiana Georgie Purcell, do estado de Victoria, viajou até Washington para testemunhar junto de congressistas e refutar as alegações do seu próprio governo. “A indústria de abate de cangurus é desregulada, sem fiscalização e profundamente cruel. O mundo deve condenar esta prática antes que levemos a espécie à extinção”, afirmou.

O documentário revela ainda a sorte cruel dos joeys – as crias encontradas nas bolsas das mães abatidas –, que segundo o código comercial devem ser mortas com pancadas na cabeça ou decapitação. No entanto, o filme mostra que muitos são simplesmente deixados a morrer, uma prática rotineira que contradiz todas as garantias de “abate ético”.