“Contra tudo e contra todos”. Foi assim que Maria Fernanda Bruno, de 67 anos, fundou o primeiro café em Portugal dedicado aos BTS. A família pensou que era uma loucura, os amigos riram-se. E ainda houve quem lhe perguntasse porque é que não fazia antes algo “mais português, como da Amália”. Mas Maria não se deixou abalar.
Loucamente apaixonada pela boy band sul-coreano de há oito anos para cá, quando viajou até à Coreia do Sul, Maria Bruno tornou-se obcecada em criar, em Setúbal, um espaço onde outros fãs dos BTS pudessem sentir-se em casa. Ninguém lhe deu crédito. Por isso, sozinha, tratou de tudo para poder abrir aquilo que agora já se afirmou como um ponto de referência na cidade.
“Isto é a minha vida, o meu sonho e o meu projeto”, diz, com orgulho, no pequeno café perto do Jardim do Bonfim, onde as paredes já quase não têm espaço para mais assinaturas de ARMYs — o nome dados aos fãs dos BTS — vindos de todo o mundo.
O J Coffee abriu portas a 13 de março do ano passado. A fundadora diz que escolheu aquele dia de aniversário de Jimin, membro do grupo e que faz anos a 13 de outubro. Na altura, foi o primeiro café em Portugal totalmente dedicado à famosa banda sul-coreana.
Da viagem a Busan ao primeiro café BTS português
A paixão começou em 2017, quando Maria ouviu pela primeira vez uma música dos BTS. O filho incentivou-a, mas foi Jimin quem lhe tocou o coração. “Não por ser o melhor cantor ou o melhor dançarino, mas porque dizia algo a mim”.
A partir daí, mergulhou no universo da banda, conheceu a comunidade de fãs, os ARMYs da qual faz parte, e a sua vida mudou para sempre. Em 2023, o marido surpreendeu-a com uma viagem à Coreia do Sul, onde visitaram Busan, cidade natal de Jimin e “muito parecida a Setúbal por ser piscatória”. Lá, Maria entrou no café do pai do artista, o Magnata, e ficou inspirada.
“Fiquei logo com a ideia de montar alguma coisa dedicada a eles. Pesquisei, fiz o plano e o projeto. A minha filha não queria, o meu marido também não, mas eu fui forte e fui em frente, tratei de tudo”, conta à New in Setúbal.
O J Coffee (como se pode ler na montra, apesar de o nome verdadeiro ser Jimin Coffee) é pequeno, mas transborda identidade. Quem entra percebe que nada ali foi feito ao acaso: as paredes estão cobertas de fotografias dos BTS, existem bandeiras da Coreia do Sul e assinaturas de fãs que já chegam ao teto.
“Nós somos ARMYs, não fãs. ARMY é como um escudo: defendemos os BTS e eles defendem-nos a nós”, explica Maria.
A decoração cresce com a ajuda das próprias clientes, que trazem objetos e lembranças para o espaço. Há também relíquias especiais, como uma camisola e um boné assinados pelo pai de Jimin, que Maria conheceu pessoalmente na sua segunda viagem à Coreia, em fevereiro deste ano.
Mais do que um café, o J Coffee afirma-se como um ponto de encontro de fãs de todas as idades e de todo o mundo. “Já vieram ARMYs dos Países Baixos, França, Suíça, Inglaterra, Brasil e de todo o País”, conta.
Há clientes habituais do bairro, mas também grupos que viajam de propósito para visitar este recanto coreano. Para entrar, não é preciso ser fã, mas só os verdadeiros ARMYs têm direito a deixar a sua assinatura nas paredes do espaço.
Sabores vindos diretamente da Coreia do Sul
Como seria de esperar, na carta brilham os sabores das ruas sul-coreanas: salsichas, bolinhos de arroz, onigiris, café coreano frio e uma seleção de bebidas coloridas inspiradas nos sete membros da banda (cada cor corresponde a um deles).
“Temos mais coisas da Coreia do que de Portugal, e vem tudo diretamente de lá”. Ainda assim, o espaço também vende produtos portugueses, a começar pelo café, para os clientes que preferem algo mais tradicional.
Gerido a meias com o marido, e com o apoio constante do filho e do neto, o espaço funciona de segunda a sábado, das 7 da manhã às 19 horas. Desde a abertura, a reação das pessoas ao conceito mudou radicalmente.
“No início, ninguém entendia. Havia quem me dissesse para abrir algo mais tradicional, mas eu disse: eu abro aquilo que gosto”.
Agora, o J Coffee é um espaço querido e reconhecido pelos setubalenses. Maria até já pensa em organizar eventos e ações solidárias para unir ainda mais os fãs. Até lá, a fundadora do café continua a ir atrás dos concertos dos membros da banda, não interessa o país. “Estive este domingo em Amesterdão para um concerto e em janeiro fui a outro em Paris. Não falho nenhum”.
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