Um mês depois, o tema não saiu de cima da mesa do Eliseu. Esta semana, ainda antes do anúncio de quinta-feira, França já se tinha desdobrado em iniciativas. Na segunda-feira, assinou, em conjunto com outros 30 países, uma carta a apelar ao fim da ofensiva israelita na Faixa de Gaza, que já matou mais de 59 mil palestinianos; na terça-feira, apelou a Israel que autorize a entrada da imprensa internacional no enclave palestiniano; para a próxima semana, ficou reagendada a conferência em Nova Iorque.
A insistência de Emmanuel Macron em dar “uma contribuição decisiva para a paz no Médio Oriente”, como o próprio escreveu, pode não depender exclusivamente da situação no terreno, mas da situação política francesa ainda mal recuperada de um ano de sucessivas crises políticas. “[Macron] está a tentar preservar a paz civil em França, porque as tensões [internas] estão a aumentar”, argumenta Karim Émile Bitar, especialista nas relações entre a Europa e o Médio Oriente no Instituto de Estudos Internacionais e Estratégicos de Paris, ao Observador.
Porém, dado o primeiro passo, o principal desafio de Paris continua a ser outro: comandar a posição europeia sobre o tema e levar os restantes aliados a tomar a mesma decisão — o facto de a decisão só ir ser formalizada daqui a dois meses abre a possibilidade de outros países se juntarem a França até lá, destaca a BBC. Entre estes, destacam-se outras duas potências europeias: Reino Unido e Alemanha. Os três líderes conversaram por telefone esta sexta-feira e concordaram que “é tempo de acabar a guerra a Gaza”. Mas Keir Starmer, pressionado internamente, parece estar mais próximo do passo seguinte do que Friedrich Merz, que continua a colocar o reconhecimento imediato da Palestina como uma linha vermelha.
Desde que o Hamas atacou o festival Nova e vários kibbutz no dia 7 de outubro de 2023 e, consequentemente, Israel lançou uma ofensiva militar na Faixa de Gaza, que a posição de França tem evoluído. Logo após o ataque, em que foram mortas 42 pessoas com cidadania francesa, Emmanuel Macron deslocou-se a Israel, onde defendeu que a comunidade internacional devia combater o Hamas, numa coligação nos mesmos moldes daquela que foi fundada para fazer frente ao Estado Islâmico. Na mesma viagem, Macron encontrou-se com o presidente da Autoridade Palestiniana e considerou que a segurança israelita dependia do “relançamento do processo político com os palestinianos”.
A ideia de uma coligação internacional de combate ao Hamas nunca avançou, mas Macron também não consolidou uma posição firme sobre o conflito à medida que este se foi desenrolando. Por um lado, foi criticando o governo de Benjamin Netanyahu enquanto o número de vítimas civis continuou a subir e foi defendendo o estabelecimento do Estado palestiniano; por outro, nunca cedeu na defesa do direito de Israel se defender.
No final de 2024, tanto o Politico como o Le Monde definiam a política externa macronista para o Médio Oriente como um “ziguezague”, dividida entre os membros da sua administração e da sua equipa diplomática mais próximos da Palestina ou de Israel. “Continuo sem saber o que o Presidente realmente pensa“, declarava, à data, um antigo diplomata francês ao Politico. Nos media franceses, multiplicava-se uma mesma crítica: o Presidente está a “procrastinar”.