Rafael Lourenço, líder do conhecido gangue brasileiro Fantasmas do Cajuru, foi assassinado na Póvoa de Varzim, na madrugada de domingo passado, pelas 5h03, com cinco tiros. O óbito foi declarado no local, onde estiveram os Bombeiros da Póvoa de Varzim, a Ambulância de Suporte Imediato de Vida (SIV) de Vila do Conde, a Viatura Média de Emergência e Reanimação (VMER) do Hospital Pedro Hispano e a Polícia de Segurança Pública (PSP). A zona esteve cortada, incluindo parte da via da Avenida Vasco da Gama, uma vez que há suspeitas de que o homem, de 35 anos, tenha sido perseguido e agredido ao tentar fugir dos disparos, uma vez que foram encontradas marcas de sangue ao longo de vários metros do sítio onde foi encontrado o corpo. Ao que se sabe, estaria a viver em Lisboa, mas foi encontrado já sem vida na rua Dr. Artur Aires, enquanto se encontrava em fuga do atirador. A história, que se parece mais com uma série da Netflix, é ainda muito vaga e com muitas nuances e pontas soltas à volta da sua morte. Mas sabemos isto: o homem estava a ser procurado pelas autoridades brasileiras por ser líder de um grupo criminoso, e extremamente violento, localizado na zona de Curitiba, no estado de Paraná, que se dedicada ao tráfico de droga internacional, lavagem de dinheiro e a uma longa lista de homicídios. 

Corria o ano de 2009 quando Rafael Lourenço foi detido no Brasil, mas acabou por gozar da  liberdade condicional, que o ajudou a voltar a dirigir a máquina de crime que comandava naquela região. Sempre com as autoridades em cima de si, no ano de 2021 foi novamenteapanhado e, em 2023,  julgado. Mas o criminoso nunca chegou a voltar à cadeia – fugiu para Portugal. De acordo com o Jornal de Notícias, as autoridades portuguesas já o tinham sinalizado por tráfico de droga, mas ainda faltavam provas que pudessem levar a uma eventual detenção.  

Emboscadas e assassinatos 

A imprensa brasileira detalha que o gangue tinha uma fórmula mágica que utilizava frequentemente: mais de uma dezena de homicídios eram realizados por emboscadas, na rua, e todos estariam relacionados com negócios duvidosos de tráfico de droga, havendo vítimas que eram do próprio gangue, bem como familiares dos mesmos. Uma  investigação do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (DENARC), da Polícia Civil brasileira, feita entre 2019 e 2024,  refere que o grupo terá lavado o equivalente a mais de 40 milhões de euros em tráfico de estupefacientes, principalmente cocaína, que depois era exportada do Brasil para outras partes do mundo.

De acordo com as autoridades brasileiras, para a internacionalização do negócio do tráfico de droga, o grupo criou várias empresas, que estão em nomes de terceiros, para conseguir camuflar-se da Polícia, e conseguia de forma quase perfeita apagar qualquer rasto de declarações de impostos e de finanças

A queda do império  

Mas basta um erro, um pequeno imprevisto ou percalço, e tudo se desmorona. Uma das encomendas de droga do grupo desapareceu e, a partir daqui ,surgiu uma avalanche de assassinatos, e todos com características semelhantes às do próprio Rafael Lourenço. Um dos líderes, Bruno Felisbino, também foi morto a tiro,  em abril do ano passado, num centro comercial, quando se encontrava precisamente com Lourenço, que o terá deixado sozinho durante alguns minutos: um carro rapidamente chegou e disparou contra ele. Foi assim, na verdade, que as autoridades acreditam que Rafael Lourenço, bem como outros dois membros, Hélder Felisbino (irmão do ex-líder) e Romulo Faria, assumiram o controlo do gangue brasileiro.deste trio, nenhum teve um final feliz:Romulo acabou detido pelas autoridades  e Hélder Santos também foi morto.  

Desta forma, só faltava a última das três cabeças: Rafael Lourenço, cuja Polícia brasileira acredita que estaria escondido na zona do Nordeste brasileiro. Foi mesmo em território português que acabou por ser morto, possivelmente por rivais que aspiravam a ser os novos líderes.

O caso foi entregue à Polícia Judiciária (PJ).Até ao momento, não há notícia de qualquer detenção.