A poucas horas do encontro em Washington, esta segunda-feira, com o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e os aliados europeus, Donald Trump recorreu novamente à rede social Truth Social para se dissociar das exigências de Kiev. “Lembrem-se como isto começou. Não vai haver devolução da Crimeia entregue por Obama, há 12 anos, sem um único tiro disparado, e não vai haver entrada da Ucrânia na NATO”, escreveu o Presidente dos Estados Unidos, que colocou em Zelensky o ónus de alcançar a paz.
“O Presidente Zelensky da Ucrânia pode pôr termo à guerra com a Rússia quase imediatamente, se quiser, ou então pode continuar a lutar”, acrescentou Trump.
Após a cimeira com o Presidente russo Vladimir Putin, na sexta-feira, no Alasca, Trump aproximou-se ainda mais do discurso de Moscovo sobre uma eventual conclusão do conflito armado: não haverá um cessar-fogo rápido sem um “acordo abrangente” entre russos e ucranianos.
As exigências russas são conhecidas: o bloqueio da adesão de Kiev à NATO e o redesenho da fronteira entre as duas antigas repúblicas soviéticas, com eventuais cedências de território ucraniano para Moscovo, sobretudo no Donbass, e o reconhecimento da anexação russa da península da Crimeia, ocupada em 2014.
Por seu turno, Kiev recusa discutir qualquer cedência de território ou abdicar de uma eventual adesão à NATO, e também à União Europeia (UE).
Já esta segunda-feira, a BBC noticiou que o Governo do Reino Unido aceita, sem expressá-lo publicamente, o princípio da troca de “território por paz”. À estação britânica, fontes governamentais de Londres sublinham contudo que qualquer decisão sobre a matéria cabe exclusivamente aos ucranianos. A ideia de um direito de veto russo a uma adesão de Kiev à NATO e à UE, no entanto, é explicitamente recusada pelos europeus.
Sem uma proposta de acordo saída da cimeira do Alasca, as atenções viram-se portanto, esta segunda-feira, para Washington. Trump recebe Zelensky, com quem se encontrará por volta das 13h locais (18h em Portugal continental). O Presidente ucraniano viajou acompanhado da presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, do chanceler alemão Friedrich Merz, do Presidente francês Emmanuel Macron, da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, do primeiro-ministro britânico Keir Starmer, do Presidente finlandês Alexander Stubb e ainda do secretário-geral da NATO, Mark Rutte.
A comitiva europeia visa pressionar Trump a não subscrever a lista de exigências russas para um acordo de paz na Ucrânia e, simultaneamente, evitar uma nova “emboscada” norte-americana contra Zelensky, humilhado publicamente durante a sua anterior visita à Casa Branca, em Fevereiro.
Mas haverá um momento em que Zelensky não contará com a companhia dos europeus frente a Trump. O horário conhecido aponta para uma recepção aos líderes europeus, na Casa Branca, por volta das 17h de Portugal continental. Uma hora depois, Trump recebe e reúne-se então com Zelensky num encontro bilateral. Segue-se mais tarde, por volta das 20h de Lisboa, outra reunião entre Trump e os representantes europeus.
Em Washington, e frente ao alinhamento parcial de posições entre a Administração Trump e o Kremlin, Zelensky conta apenas com um sinal positivo: a aparente disponibilidade norte-americana, até ver, para apoiar uma prestação de significativas garantias de segurança (resta conhecer em que termos), por parte dos europeus, à Ucrânia, para evitar uma nova ofensiva russa num cenário pós-acordo.
Já após ter aterrado nos EUA, o líder ucraniano publicou uma mensagem em tom optimista na rede social X. “Estou confiante de que vamos proteger a Ucrânia, garantir a segurança efectivamente, e que o nosso povo ficará para sempre grato ao Presidente Trump, a toda a gente na América, e a cada parceiro e aliado pelo seu apoio e assistência inestimáveis”, escreveu Zelensky.
“Todos partilhamos um forte desejo de terminar esta guerra rapidamente e de forma confiável. E a paz tem de ser duradoura”, acrescentou.
O caminho a ser feito para chegar ao dito acordo, que passa esta segunda-feira pela capital dos EUA, continua contudo a ser sinuoso e a estar repleto de incógnitas. Ainda esta noite, pelo menos sete pessoas morreram e outras 20 ficaram feridas, incluindo várias crianças, num ataque russo à cidade ucraniana de Kharkiv, uma entre várias acções ofensivas lançadas durante a madrugada.