Robert Plant sempre carregou um desconforto em ser tratado como um monumento do rock. O vocalista do Led Zeppelin nunca se mostrou à vontade com a ideia de se tornar uma estátua viva de um passado glorioso. Para ele, a música era movimento, transgressão, energia, não uma moldura dourada pendurada no museu da história.
Led Zeppelin – Mais NovidadesFoto: David McClister – Shorefire
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Ainda nos anos 1960, quando o Zeppelin começou a despontar nos Estados Unidos, a banda já chamava atenção pelo peso e intensidade. “Começamos como desconhecidos em Denver, e quando chegamos a Nova York já éramos a segunda banda a tocar, antes do Iron Butterfly, e eles não quiseram subir ao palco”, recordou Plant certa vez. Em poucos meses, os ingleses passaram de coadjuvantes a atração principal, deixando claro que um novo som havia chegado para mexer nas estruturas.
Esse impacto inicial ajudou a fixar o grupo como uma das bases do heavy metal, ao lado de Black Sabbath e Deep Purple. Mas a associação nunca agradou. Plant foi direto em sua rejeição ao rótulo, chegando até a ironizar: ao se deparar com um pôster do Judas Priest, comentou: “Se de alguma forma eu sou responsável por isso, eu me sinto realmente muito embaraçado.” O couro, os rebites e a teatralidade do Priest, para ele, eram quase uma caricatura daquilo que o Zeppelin buscava.
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Com o passar das décadas, Plant manteve essa distância crítica do metal. “Hard Rock, Heavy Metal nos dias de hoje é apenas uma maneira de se dizer ‘Venha e me compre. Estou de braços dados com o Diabo – mas somente nesta foto, pois depois disso serei muito legal, e um dia vou crescer e empresariar um grupo Pop'”, disparou em tom ácido. Para ele, muitos dos desdobramentos soavam como fórmulas comerciais, distantes do espírito selvagem e imprevisível que ele associava ao rock.
Nos anos 1980, a cena das hairbands reforçou essa sensação. Para Plant, aqueles grupos tentavam reproduzir a aura do Zeppelin, mas acabavam mergulhados em laquê, spandex e poses que beiravam o pastiche. Já na virada dos anos 1990, o grunge trouxe algum alívio, com bandas que, ao menos, soavam autênticas e intensas.
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O choque maior veio nos anos 2000, com o sucesso mundial do nu metal. Foi aí que Plant não escondeu a perplexidade diante do fenômeno Linkin Park. Em trecho de entrevista publicada na Far Out, ele questionou abertamente: “Linkin Park… é isso mesmo que o rock se tornou?” A mistura de rap, guitarras e eletrônica parecia, para ele, uma ruptura brusca com a linhagem que vinha do blues e do hard rock.
Ainda que Plant não reconhecesse ali a continuidade do gênero, muitos apontavam outro lado: a legitimidade da dor transmitida por Chester Bennington. Em músicas como “Crawling” e “Faint”, havia uma intensidade emocional que conquistava milhões de fãs. Plant podia não se enxergar naquele estilo, mas admitia que o rock sempre foi feito para quebrar regras e se reinventar, ainda que isso deixasse ícones do passado desconfortáveis.
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No fim, a trajetória mostra um músico que nunca quis ser dono de um legado imutável. Do incômodo com o Judas Priest ao estranhamento com o Linkin Park, Robert Plant reafirma uma visão que acompanha toda a sua carreira: o rock não é sobre rótulos ou heranças fixas, mas sobre transformações, algumas que ele aplaudiu, outras que preferiu ver de longe.
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