Pela radiação que libertaram e até pelos testemunhos que se vão conhecendo, assume-se que os ataques atómicos a Hiroshima e Nagasaki, no Japão, resultaram em muitos casos de cancro. Um novo estudo, no entanto, contraria esta ideia.
Os números não são claros, mas estima-se que tenham morrido cerca de 140.000 pessoas em Hiroshima e 74.000 em Nagasaki até ao final de 1945, por consequência dos efeitos dos ataques atómicos, do calor e do envenenamento agudo por radiação.
Uma vez que a exposição a altos níveis de radiação aumenta o risco de cancro, muito se diz sobre os cancros que afetaram, posteriormente, os sobreviventes.
Contudo, Philip Thomas, professor de gestão de risco na Universidade de Bristol, explicou que a estimativa do seu estudo aponta para que 3100 dos 324.000 sobreviventes dos bombardeamentos atómicos morreram ou morreriam de leucemia induzida por radiação ou tumores sólidos.
Esta investigação mostra que a radiação, embora perigosa, é uma causa mais fraca de cancro do que muitas pessoas pensam.
Disse Thomas, cuja carreira anterior foi dedicada à indústria nuclear, citado pelo Financial Times.
Pessoas expostas à radiação parecem não transmitir efeitos aos filhos
O professor e investigador alargou a análise da Fundação de Pesquisa sobre os Efeitos da Radiação Japão-EUA, cujo Estudo sobre a Expectativa de Vida se concentrou numa amostra de 87.000 sobreviventes hibakusha (termo usado para referir as vítimas dos ataques das bombas atómica, no Japão) desde 1950.
Ao incluir dados adicionais sobre saúde e demografia, a sua análise abrangeu um total estimado de 324.000 pessoas nas duas cidades que sobreviveram aos efeitos imediatos das bombas.
O estudo utilizou uma variedade de técnicas matemáticas e estatísticas para extrapolar a mortalidade por cancro desde o final da década de 1940 até 2055, quando o sobrevivente mais jovem possível teria 110 anos.
Teoricamente, o risco de leucemia induzida por radiação começa a aumentar dois ou três anos após a exposição e atinge o pico após cerca de 10 anos. Por sua vez, alguns tumores sólidos podem levar mais de 50 anos para se desenvolver.
Mesmo os sobreviventes que receberam doses massivas de radiação viveram vidas notavelmente longas.
Esclareceu Thomas, acrescentando que mesmo aqueles que absorveram 2,25 gray – mais de três vezes o nível que causa doença por radiação – morreram com uma idade média de mais de 78 anos.
Para Amy Berrington, professora de epidemiologia do cancro no Instituto de Investigação do Cancro de Londres, “os receios sobre os riscos da radiação ionizante podem ser ampliados por alguns e minimizados por outros”. Afinal, trata-se de “uma questão muito complexa”.
Contudo, conforme explicou, “as conclusões gerais de Thomas são amplamente consistentes com investigações anteriores sobre os riscos de cancro nos sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki”.
Apesar da consistência, “temos de ter muito cuidado ao extrapolar as conclusões para outros contextos de exposição sem mais informações sobre as diferentes doses a que a população foi exposta”.
A professora destacou ainda outra conclusão curiosa do estudo: até agora, não há evidências claras de que as pessoas expostas à radiação transmitam quaisquer efeitos adversos aos seus filhos.
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