O PSI perdeu grandes cotadas e desde 2010 o seu peso no PIB caiu cerca de 9 pontos percentuais, o que demonstra a tendência decrescente da importância do mercado bolsista nacional na economia.

A entrada em bolsa do Novobanco acabou no “the biggest IPO that never happened”, com a venda ao grupo francês BPCE a pôr fim ao sonho da Bolsa portuguesa de ter um segundo banco cotado.

Na bolsa portuguesa são mais as empresas que saem do que as que entram, o que explica a perda de peso no PIB.

Nos últimos 15 anos o valor do mercado de ações português tem vindo a perder importância relativa na economia nacional.

No fim de 2010 o valor de mercado do PSI (então com 20 títulos) era de 61,6 mil milhões de euros e o Produto Interno Bruto português era de 179,6 mil milhões de euros. O peso da capitalização bolsista no PIB era então de 34,29%. Nessa altura o principal índice da Bolsa de Lisboa tinha empresas como o Banco Espírito Santo, a Portugal Telecom, o Banco BPI, a Brisa, a Cimpor, a Inapa e a Portucel (que viria a ser a Navigator). Todas desapareceram do índice, algumas delas deixaram mesmo de existir (P T, BES e Inapa ) e outras deixaram de estar cotadas (Brisa e Cimpor).

Também nessa altura a Sonae tinha três empresas no PSI20 – a Sonae SGPS, a Sonaecom, a Sonae Indústria. Hoje no PSI está apenas a Sonae SGPS.

Um ano antes, em 2009, a Teixeira Duarte fazia parte da principal montra da bolsa nacional e, um ano depois, o Banif entrava no PSI 20. A primeira deixou de ter condições para se manter e o Banif, pura e simplesmente, entrou em liquidação.

O peso da capitalização bolsista da bolsa portuguesa no PIB nacional caiu 8,79 pontos percentuais nos últimos 15 anos.

Em 2010 o valor de mercado do então PSI20 era de 34,29% e no primeiro semestre de 2025 o peso do atual PSI caiu para 25,5% (tendo em conta um PIB estimado de 291 mil milhões). Isto apesar de no primeiro semestre do ano o valor do PSI ter crescido 17% influenciado pela evolução das cotações do BCP, da EDP e da Jerónimo Martins.

A queda do peso do PSI na economia é ainda maior se tivermos em conta o ano passado, onde o rácio Market Cap / PIB Nominal não chega a 24%. Em 2024, o valor de mercado do PSI (já com os atuais 15 títulos) era de 66 mil milhões de euros. O PIB, em termos nominais (a preços correntes) atingiu os 284,9 mil milhões de euros, pelo que o peso do PSI no PIB no ano passado supera ligeiramente os 23%. Muito longe dos 34,3% no longínquo ano 2010.

Se formos mais atrás, a 2008 (ano da crise do subprime), vemos que os 20 títulos que compunham o PSI-20 tinham um valor de mercado de 46,36 mil milhões e o PIB nominal nesse ano era de 179,1 mil milhões . O peso do PSI no PIB em 2008 era então de 25,9%, acima do atual peso no PIB.

Apesar da quebra suave de 0,3% do PSI em 2024, assistiu-se a uma redução acentuada da capitalização bolsista, que sofreu uma diminuição de 17,5%, passando de 80 mil milhões de euros no final de 2023 para 66 mil milhões em 31 de dezembro de 2024. Em consequência, a capitalização bolsista passou de 30% do PIB nominal no final de 2023 para 23,5% do PIB de 2024.

Segundo a Maxyield, que ajudou o Jornal Económico neste trabalho, esta perda de posição relativa da capitalização bolsista deve-se fundamentalmente ao universo EDP, à Jerónimo Martins, à Mota-Engil e à saída da Greenvolt do mercado bolsista.

Desde 2022 até ao primeiro semestre de 2025, assistiu-se também a um ligeiro crescimento do free float.

Em 2024 o free float médio, ponderado pelo peso de cada cotada no PSI, passou de 43,2% em 31 de dezembro de 2023 para 44,8% no final de 2024. Esta evolução é fortemente explicada pelo BCP – pela redução da participação do acionista estratégico Fosun, que chegou a ser de quase 30% e reduziu para 20,03% – e pela Ibersol, acompanhados da diminuição dos CTT e Galp resultante da política de share buyback (recompra de ações).

“Verifica-se que quatro cotadas continuam com um free float [capital disperso em bolsa] superior a 50% (Galp, CTT, EDP e BCP), sendo que o conjunto constituído pela Altri, Jerónimo Martins, REN, NOS, Navigator e Sonae SGPS tem um free float no intervalo de 30% a 50%”, refere a Maxyield.

Olhando pelo retrovisor para 2014, ano em que se dá a Resolução do BES e que arrasta consigo a Portugal Telecom, verificamos que pela primeira vez o índice da bolsa lisboeta fica reduzido a 18 títulos. Era a primeira vez que o PSI 20 não tinha os 20 títulos que o próprio nome indicava. Uma tendência que vinha para ficar, já que desde essa altura o PSI nunca mais voltou a ter 20 ações na sua composição. Em 2015 chega a ficar reduzido a 17 títulos – ano em que é a vez do Banif ser alvo de uma medida de Resolução. Desde 2010 até agora as empresas que entraram para o índice principal da Bolsa de Lisboa são irrisórias. Os CTT entraram em bolsa em 2013 com uma oferta pública inicial (IPO), na sequência do processo de privatização.

Depois temos o Banco Montepio que entrou no PSI em 2016, mas saiu da bolsa em 2017. A Sonae Capital que entrara em bolsa em 2008 passa a integrar o PSI-20 em 2016, mas em 2020 sai do índice e finalmente temos o grande IPO da última década – a Greenvolt que entrou em bolsa em julho de 2021. Mas em 2024 a empresa de energias renováveis foi comprada pelo fundo de private equity norte-americano KKR e saiu de bolsa.

Em 2024 PSI passa a ter 15 cotadas

Na sequência da saída de bolsa da Greenvolt, em 2024, o PSI deixou cair o “20” e passou a incluir 15 sociedades cotadas no mercado regulamento do Euronext Lisbon. Composição que se mantém até hoje.

Hoje o PSI tem 15 títulos, na sequência da mudança de regras da Euronext.

As regras da Euronext exigem no mínimo 100 milhões de euros de valor bolsista em free float (capital disperso). Sendo que esse valor pode cair para 75 milhões sem que a cotada tenha de sair do índice na revisão trimestral. Só na revisão anual do índice é que um título pode sair do PSIse não se verificar o critério dos 100 milhões em free float. Depois cada cotada do PSI tem de ter 15% do capital em free float, mas há tolerância para que dois títulos no PSI possam ter entre 10% e 15% na revisão anual.

Iniciativas para chamar empresas para a bolsa há muitas… mas

Não faltam iniciativas para chamar as empresas portuguesas para a bolsa. Recentemente, a CMVM avançou com a segunda edição do Sandbox Market4Growth, com o intuito de atrair mais do que as 16 empresas da primeira experiência (que foi considerada um fracasso). Este programa foi lançado em novembro de 2023 para permitir às empresas simular o acesso ao mercado de capitais português sem custos e com o acompanhamento especializado da CMVM e de mais de 20 parceiros.

Este ano há ainda a registar a reunião de líderes de mais de 160 empresas de 11 países europeus no programa IPOready da Euronext. O objetivo do IPOready é apoiar as empresas que considerem uma admissão à negociação num mercado Euronext nos próximos anos.

As empresas tecnológicas dominaram claramente o programa, representando 67% dos participantes da edição de 2025, dividindo-se entre 41% de techmedia e telecomunicações, 13% de cleantech e 13% de healthtech.

No grupo de empresas que participaram no IPOready de 2025 havia 18 portuguesas, o número mais elevado de sempre.

O IPO do Novobanco era a grande esperança para este ano, mas falhou com a anunciada venda ao BPCE por 6,4 mil milhões de euros.

A OCDE publicou em 2020 um relatório sobre o mercado de capitais português, o “OECD Capital Market Review of Portugal 2020 – Mobilising Portuguese Capital Markets for Investment na Growth”. Nesse relatório a OCDE dizia que esta redução do número de empresas cotadas é uma tendência europeia, no entanto, “em Portugal a redução foi mais acentuada”. A OCDE diz ainda que em Portugal a queda pode ser explicada pelo saldo líquido entre as “poucas” entradas em bolsa e o elevado número de saídas. Desde 2000 que o número de empresas que saem da Bolsa de Lisboa supera o número de novas entradas no mercado, “com excepção de 2008”, constatou a OCDE.