O Presidente norte-americano declarou esta segunda-feira que vai “liderar um movimento para acabar com o voto por correspondência” e a utilização de urnas electrónicas. Numa publicação na rede social Truth Social com várias falsidades (“somos agora o único país do mundo que usa o voto por correspondência”, alegou incorrectamente), Donald Trump justificou a iniciativa com o combate à “fraude eleitoral”, acusando o Partido Democrata, na oposição, de “fazer batota em níveis nunca antes vistos” – uma velha alegação sua, nunca comprovada pelos tribunais e pelas autoridades eleitorais.

O recurso ao voto antecipado por correspondência, a que Trump atribui a sua derrota eleitoral de 2020, frente a Joe Biden, é no entanto comum em estados republicanos e democratas (é mesmo maioritário no Oeste), sobretudo entre o eleitorado mais idoso, militares no activo, pessoas com dificuldades de locomoção e habitantes de regiões remotas. Em comunicado, a União Americana para as Liberdades Civis (ACLU, na sigla inglesa), considera o anúncio de Trump como “parte da sua estratégia para fomentar a desconfiança nas eleições e evitar que os eleitores o julguem”.

Na mesma publicação na Truth Social, Trump disse que dará forma à iniciativa ao “assinar uma ordem executiva para ajudar a trazer honestidade às eleições intercalares de 2026”, em que os republicanos, actualmente com curtas maiorias na Câmara dos Representantes e no Senado, arriscam perder o controlo do Congresso e a possibilidade de aprovar legislação sem negociar com os democratas.

A Constituição norte-americana não reserva ao Presidente qualquer papel na organização e condução dos actos eleitorais, cabendo a responsabilidade a cada estado e território dos EUA, pelo que a Administração Trump não pode proibir o recurso ao voto por correio ou às urnas electrónicas. No entanto, argumenta Trump, a referida ordem executiva terá força de lei porque “os estados são meramente um ‘agente’ do Governo federal na contagem e tabulação dos votos” e estes “têm de fazer o que o Governo Federal, representado pelo Presidente dos EUA, lhes ordena”. Abre-se assim uma provável nova frente de conflito, a ser dirimido nos tribunais, entre a Administração federal republicana e os estados governados pelos democratas.


Esta é também uma nova tentativa de interferência, por parte da Casa Branca, na organização das intercalares de Novembro de 2026. Em Julho, Trump pediu à assembleia legislativa do Texas, de maioria republicana, para aprovar um novo mapa eleitoral que, através do redesenho de vários círculos uninominais, uma velha e controversa prática conhecida como gerrymandering, poderá custar cinco mandatos ao Partido Democrata na Câmara dos Representantes em Washington (onde os republicanos têm apenas três mandatos de vantagem).

Os deputados democratas no Texas, que fugiram do estado durante duas semanas para travar a votação por ausência de quórum, regressam agora ante a promessa de um contra-ataque concertado: a Califórnia do democrata Gavin Newsom já anunciou que irá igualmente propor um novo mapa eleitoral para penalizar os republicanos, podendo também o estado de Nova Iorque entrar na ofensiva. Do lado republicano, porém, a Florida, o Ohio, o Missouri e o Indiana, poderão também redesenhar os seus mapas eleitorais em benefício do partido de Trump.

O Texas deverá concretizar o plano ainda esta segunda-feira (hora local), enquanto a assembleia legislativa californiana terá até ao final desta semana para aprovar a convocação de um referendo, a realizar em Novembro, sobre um novo mapa eleitoral. Em ambos os casos, as iniciativas encontram pouco precedente: os círculos eleitorais são normalmente revistos a cada dez anos, após a realização dos censos nacionais, para reflectir a evolução demográfica. Os dois processos, a que se juntarão previsivelmente outros, acontecem a cinco anos do próximo levantamento e a um de umas eleições encaradas como um referendo à segunda Administração Trump.