A polémica entre Rita Matias, deputada do Chega, e Catarina Furtado, apresentadora da RTP, estalou no final de julho. Tudo começou com uma entrevista de Rita Matias ao programa Facto Político, da SIC Notícias, em que esta se pronunciou sobre a demolição de barracas no bairro do Talude, em Loures.

Questionada a propósito do Rendimento Social de Inserção (RSI), mecanismo de apoio social fortemente contestado pelo Chega, Rita Matias admitiu não saber qual o valor médio que cada beneficiário recebe por mês.

A apresentadora da RTP reagiu às declarações da deputada numa história no Instagram. “Não sabe do que fala. Só sabe que não gosta de certas pessoas e que lhes quer mal. Das primeiras lições que digo aos meus filhos: não falem do que não sabem porque é perigoso, feio. Ignorante duas vezes e mau”, escreveu.

A deputada do Chega ripostou com um vídeo nas redes sociais dizendo que “indecente e imoral” é o salário auferido pela apresentadora na RTP. “A Catarina Furtado decidiu fazer um exercício de sinalização de virtude este fim de semana e comentar uma entrevista que dei à SIC Notícias”, começa por dizer no vídeo, acrescentando que a estrela da televisão pública lhe chamou “ignorante” por comentar assuntos que desconhece.

Catarina Furtado critica opinião de Rita Matias sobre demolições em Loures. Deputada ataca salário da apresentadora

“Ora, profundamente ignorante e desconhecedora do objeto da entrevista é Catarina Furtado, que resume 18 minutos de entrevista a dez segundos que deve ter visto nas redes sociais ou a uma frase do ‘Expresso’, que tem aquela independência que já conhecemos”, continua, antes de se atirar à apresentadora: “Eu compreendo o nervosismo da Catarina Furtado. É que ela sabe que nós sabemos que o seu salário é cerca de 15 mil euros por mês. Pagos por quem? Pelos contribuintes portugueses!”. “Isto sim parece profundamente indecente e imoral, porque não reconheço no trabalho da Catarina uma necessidade para ter este valor. Percebam que o seu salário é superior, por exemplo, ao do Presidente da República ou ao do primeiro-ministro. A utilidade do serviço da Catarina fica ao critério de cada um, mas estes tachos e tachinhos na RTP são para acabar e o problema deles é que sabem que o Chega, quando chegar ao Governo, vai mesmo atrás destes tachos incompreensíveis”.

De seguida, começou a circular em redes como o Instagram ou o Threads uma suposta resposta de Catarina Furtado ao ataque de Rita Matias. “Posso ser ignorante e receber 15 mil euros por mês, mas ao menos não sou fascista”, lê-se numa legenda sobre uma fotografia de Catarina Furtado. No topo da publicação, o logo da RTP Notícias ajuda a tentar dar credibilidade à informação. No entanto, e apesar de colecionar gostos, partilhas e comentários, trata-se de uma informação falsa.

Desde logo, basta procurar no site da RTP Notícias, cujo logo encabeça a publicação, para procurar a dita “notícia” sobre o assunto para perceber que ela não existe. Além disso, não há qualquer registo desta frase em declarações públicas, entrevistas ou redes sociais da apresentadora. Após esta troca de farpas com Rita Matias, Furtado fez apenas uma publicação sobre “tranquilidade” que muitos utilizadores interpretaram como uma “resposta” ao episódio.

“A tranquilidade que hoje carrego não é conformismo. É uma força tranquila que me dá alento para continuar. Porque enquanto houver desigualdade, injustiça ou silêncio, o meu coração continuará inquieto. Mas com a certeza de que vale sempre a pena agir. Com amor. Com coragem. Com a verdade”, lê-se numa publicação feita após o incidente. “Acredito profundamente que quando usamos a nossa voz, o nosso tempo e a nossa energia para servir causas maiores do que nós, estamos a dar sentido à nossa existência”.

Ainda assim, o Observador contactou a assessoria de Catarina Furtado, que esclarece que “as declarações são falsas”.

Conclusão

A frase foi publicada no Threads e no Instagram, mas não corresponde a nenhuma declaração documentada de Catarina Furtado. Não há qualquer registo em declarações públicas, entrevistas ou redes sociais da apresentadora.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.


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