Apostar em quem vai marcar o gol primeiro ou qual será o segundo turno das eleições vai ficar no passado. Agora, as casas de aposta têm cotações que preveem qual modelo de inteligência artificial (IA) vai ser considerado o melhor, segundo reportagem do jornal Wall Street Journal.

Na prática é como apostar em cavalos de corrida, só que os “cavalos são programas de IA, como o GPT-5, (da OpenAI), o Gemini (do Google) ou o Grok (de Elon Musk).

Mercado de bets chegou na disputa de modelos de IA Foto: Adobe Stock

E quem determina o vencedor não é o site, mas algum critério externo previsto com antecedência. O LMSYS Arena, por exemplo, é um ranking de desempenho em testes padronizados e pode ser usado como parâmetro. Benchmarks técnicos, que medem o raciocínio, linguagem e programação dos modelos de IA também.

Essas apostas funcionam assim: cada prediction market (ou contrato, em português) custa centavos e representa a chance daquele modelo ser o vencedor. Se o modelo ganha, a aposta rende dinheiro; se não, quem apostou perde tudo.

Mas tem um detalhe, a pessoa não precisa esperar até o apito final para saber se ganhou ou perdeu. Se a aposta que ele fez começa a valer mais (porque mais gente também passou a acreditar nela), ela pode vender antes e garantir lucro.

Nos sites Kalshi e Polymarket essa forma de apostar já envolve milhões de dólares todos os meses. O Wall Street Journal encontrou Foster McCoy, jogador que ganhou US$ 10 mil em poucas horas porque apostou no fisco do GPT-5.

O trader de 27 anos percebeu que as pessoas interpretavam errado um site de rankings online que parecia exaltar a nova IA do OpenAI. Então apostou US$ 4,5 mil para o Gemini ser eleito a “Melhor IA do mês”. Conforme mais apostadores seguiam seu palpite, ele obteve lucro e sacou o valor, segundo a reportagem.

Agosto não foi um marco apenas para McCoy. Foi nesse mês que o volume de negociações nos mercados de previsão de IA superou US$ 20 milhões. A Kalshi, única plataforma disponível nos Estados Unidos atualmente, registrou um volume dez vezes maior de aposta em IA na comparação ao início do ano, segundo um porta-voz.

A reportagem mostra como como Rishab Jain, um estudante de Harvard, fica de olho em pistas nas redes sociais e até em comentários de pesquisadores para adivinhar qual modelo vai se sair melhor.

Na véspera do lançamento do GPT-5, Sam Altman, CEO da OpenAI, postou uma foto da Estrela da Morte de Star Wars, que logo depois foi respondida por um pesquisador do Google DeepMind com a imagem de uma esfera sob ataque. Jail não juntou as pontas e entendeu como um sinal de confiança dos criadores do Gemini.

O estudante também vasculha linhas de código nos apps do Google e fica de olho em acervos públicos no GitHub relacionados aos produtos da empresa. A ideia é procurar mudanças no back-end que indica o lançamento de uma nova versão do Gemini. Desde junho, ele já ganhou US$ 3,5 mil.

“Estou quase obsessivamente atualizado sobre o que acontece nesse mundo”, diz Jain à reportagem. “O Google tem tantos produtos que precisam integrar um novo modelo antes do lançamento oficial, e você consegue ver essas mudanças acontecendo nos bastidores, se souber onde olhar”.

As estratégias variam. Há quem aposte nas grandes empresas da indústria e outros preferem os menos conhecidos – e mais baratos. Ainda tem quem compra um prediction marketk em sites diferentes, e isso leva o nome de “arbitragem” no jogo.

Por enquanto não há consenso sobre esse mercado, se ele vai atrair apostadores ocasionais ou será restrito a pessoas como McCoy e Jain.

“Eu sou só um cara que gosta de tecnologia e tem algum tempo e dinheiro”, diz James Cole, de 35 anos que recentemente fechou a própria empresa. “Estou especulando basicamente por instinto e um pouco de pesquisa”. Cole diz que está no lucro até agora.

A busca por informação sobre os modelos de linguagem será o diferencial nessa tendência, segundo disse o professor de Economia da Universidade George Mason Rabin Hanson ao Wall Street Journal. “Se você sabe um pouco mais, você ganha mais dinheiro”, diz.