As águas profundas do Oceano Pacífico Norte, ao largo do Havai, estão a sofrer um processo de acidificação a um ritmo mais acelerado do que à superfície, de acordo com um novo estudo liderado por investigadores da Universidade do Havai em Mānoa. Os resultados foram recentemente publicados na prestigiada revista científica Journal of Geophysical Research: Oceans.
Desde o início da revolução industrial, há mais de 200 anos, que o dióxido de carbono (CO₂) libertado para a atmosfera tem vindo a ser absorvido pelo oceano, provocando um aumento da acidez da água do mar. Contudo, este novo estudo revela que as alterações químicas estão a intensificar-se de forma mais dramática nas camadas subsuperficiais do Pacífico Norte, particularmente na região próxima da estação oceanográfica ALOHA, situada a cerca de 100 quilómetros a norte da ilha de O‘ahu.
“Sabíamos, com base em estudos globais anteriores, que certos indicadores de acidificação podiam alterar-se mais rapidamente abaixo da superfície. No entanto, ficámos surpreendidos ao verificar que todos os indicadores de acidificação oceânica estavam a mudar mais depressa nas profundezas”, afirmou Lucie Knor, investigadora pós-doutorada na Escola de Ciência e Tecnologia do Oceano e da Terra (SOEST) da Universidade do Havai, e autora principal do estudo.
A investigação baseou-se em 35 anos de dados recolhidos pela iniciativa Hawai‘i Ocean Time-series, que monitoriza a química da água do mar desde a superfície até quase cinco mil metros de profundidade. Os cientistas identificaram um aumento dos níveis de carbono em todas as camadas do oceano, em grande parte devido à decomposição natural de organismos que afundam. Nalgumas zonas, o ritmo de acidificação foi acelerado por águas mais frias e com menor salinidade.
“Nas águas profundas do Pacífico Norte, que já são naturalmente bastante ácidas, este aumento rápido da acidez pode ter impactos significativos em espécies de plâncton e outros organismos marinhos que habitam essas zonas”, explicou Knor. “A longo prazo, estas alterações químicas também poderão comprometer a capacidade do oceano de absorver mais CO₂ da atmosfera.”
O estudo surge num contexto de aumento de eventos extremos, como vagas de calor marinhas e fortes episódios de El Niño, fenómenos que têm vindo a alterar de forma significativa as condições dos oceanos nas últimas décadas. Os cientistas alertam para o impacto combinado destes eventos com a acidificação crescente, o que representa uma preocupação crescente para gestores de pescas e conservacionistas de corais.
A equipa de investigação sublinha ainda que as águas subsuperficiais analisadas no Havai têm origem em zonas mais a norte do Pacífico, sendo transportadas por correntes oceânicas até à estação ALOHA. Estas massas de água já trazem consigo alterações provocadas por mudanças ambientais noutras regiões, o que ajuda a explicar o agravamento da acidificação em profundidade.
“Demonstrámos que alterações à escala regional na química da água e na circulação oceânica são factores decisivos para a intensificação da acidificação abaixo da superfície na região do Havai”, acrescentou Christopher Sabine, co-autor do estudo e professor de Oceanografia na SOEST.
Os investigadores continuam agora a analisar de forma detalhada a evolução do carbono de origem humana nas várias camadas da coluna de água, com o objectivo de compreender melhor os impactos futuros no equilíbrio químico dos oceanos.