E como resolver esta disparidade de gênero? A investigadora aponta vários caminhos, que começam “na paridade de salários, nas universidades, nos eventos”. Mas também precisa de mudanças estruturais na sociedade como um todo. “A sociedade que vai ter que se organizar. Porque enquanto a mulher ficar sobrecarregada e cuidar da casa, cuidar dos filhos, o homem sempre vai ter a vantagem no mercado de trabalho”, analisa.
Além dos relatos de dificuldade de acesso ao emprego altamente qualificado em Portugal, Andrea também identificou nas entrevistas relatos de preconceito contra as mulheres e sexualização das brasileiras. “Isso foi unanime. A subalterização do corpo da brasileira, sempre associada à sexualidade, além de micro violências e micro agressões são muito maiores entre as mulheres”, analisa. O que foi transversal em relação ao gênero foi a dificuldade para validação dos diplomas acadêmicos.
Ao DN Brasil, Ramiro Januário dos Santos, chefe do setor de Ciência e Tecnologia da Embaixada do Brasil em Lisboa, disse que “os Governos do Brasil e de Portugal mantêm diálogo multissetorial permanente para fomentar os mecanismos e instâncias de reconhecimento”. Ao mesmo tempo, destaca que “o instituto da autonomia universitária, em ambos os países, impede que os governos determinem, por tratado internacional, o reconhecimento automático de graus no ensino superior, à semelhança do que já foi feito para o ensino fundamental e médio”. Ainda segundo Ramiro, “espera-se subsidiar e sugerir linhas de ação às instâncias de diálogo bilateral da Cimeira Brasil-Portugal (que se reúne anualmente) para abordar os desafios identificados” no relatório.
A questão de gênero é uma das principais preocupações. “Um dos principais resultados do mapeamento é a presença significativa de cientistas mulheres (70% do universo do estudo). Esse dado — associado ao achado de que cerca de 40% dos respondentes declararam não trabalhar em suas áreas de formação — leva à constatação de que há uma situação de subutilização de competências, em especial de pesquisadoras, a qual importa enfrentar”, detalha.
O relatório em livro terá dados ainda mais detalhados, como regionalidades, salários por área e saúde mental. A previsão é que seja publicado ainda este ano. O mapeamento também teve apoio da Universidade do Minho e da Unicamp.
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