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Opinião de João Rosado. O jovem talento do FC Porto parece não caber no futebol de combate que se vê em Portugal.

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Rodrigo Mora, jogador do FC Porto

Rodrigo Mora, jogador do FC Porto

Eurasia Sport Images/ Getty

Na cidade-berço e no estádio que podia ter sido o estádio-berço de Jorge Jesus, o setubalense Bruno Lage teve uma tirada que antecipou em inglês corrente algo parecido com aquilo que o inimitável JJ proferiu quando há dois dias recebeu Kingsley Coman no Al-Nassr.

Em mais um vídeo viral para a coleção do amadorense, é possível observar Jesus a dar as boas-vindas ao reforço que chegou do Bayern Munique agarrando-se com unhas e dentes ao sorriso que disfarçou o para sempre inegociável divórcio da língua de Shakespeare. Ex-treinador de Swansea e Shelffield Wednesday, Lage, a avaliar pelo que se ouviu sábado à noite na conferência de Imprensa, foi mais expedito a declamar “Welcome to the Portuguese league” aos jogadores do Benfica, que só foram para o chuveiro depois do curto rescaldo ao triunfo despido de qualquer poesia na Reboleira.

Bruno Lage, técnico do Benfica, no jogo frente ao Estrela da Amadora

MIGUEL A. LOPES/ LUSA

Sendo certo que o futebol não é patinagem e a nota artística nem sempre se torna importante no jogo, conforme o autor da sentença o celebrizou (um tal Jorge Jesus), por outro lado, torna-se claro que a mensagem “very british” do atual técnico encarnado esbarrou numa sólida contradição. Da mesma forma que não foi Coman a receber de braços abertos o míster que hoje vai tentar adiantar-se na conquista da Supertaça saudita, também teria outra lógica que fosse o balneário das águias a soltar o citado desabafo perante Bruno Lage e não o seu… “opposite”.

Jorge Jesus, treinador do Al Nassr e ex-técnico do Benfica

VCG/ Getty

E não é uma questão de semântica, trata-se apenas de uma questão de números. Entre os 18 emblemas que competiram na segunda jornada da Liga (a primeira em que se cumpriu na íntegra o calendário), o Benfica foi o que mais faltas cometeu, ultrapassando os rivais na corrida para o título. Diante do Estrela, sempre com Richard Ríos em maré alta, o onze da Luz convidou o árbitro a assinalar 23, mais 9 que o adversário e quase o quádruplo da produção de Sporting e de Sporting de Braga, as equipas de melhor cadastro na ronda.

No renovado Alvalade, assistiu-se ao duelo com mais tempo útil (61 minutos e 10 segundos, correspondentes a 63,7%) e aquele que no final registou menos 10 faltas do que as cometidas pelos comandados de Bruno Lage no histórico José Gomes. Os leões fizeram 6, a exemplo do que aconteceu em Alverca e por conta do Braga que se converteu à metodologia Guardiola.

Sob a orientação de Carlos Vicens, o homem que durante as últimas oito temporadas foi adjunto de Pep em Manchester, os arsenalistas golearam no resultado e na folha disciplinar, em contraste com as 15 feitas por um dos primodivisionários. Sem surpresa, também no Ribatejo o tempo útil superou os 50% (58,17%, resultantes de 56 minutos e 26 segundos sem interrupções), com a particularidade de as 21 faltas no total representarem o “contributo” individual do Santa Clara na receção ao Moreirense.

Logo a seguir ao Benfica, os insulares revelaram-se o conjunto mais faltoso, embora o proveito tenha sido substancialmente diferente. O representante nacional na Liga Conferência perdeu por 1-0 num confronto intenso entre dois Vascos que levou David Silva a apitar 39 irregularidades. Às 21 a cargo dos escolhidos por Vasco Matos responderam os eleitos de Vasco Botelho da Costa com 18, quase (e)levando o desafio à condição de partida-wrestling do fim de semana alargado.

O quase, aqui, tem demasiadas letras para tão escassa diferença face às incidências que transformaram o AVS-Casa Pia na batalha das batalhas. Na Vila das Aves, ambos os contendores voaram para as 20 infrações, ou seja, aquilo que podia ser, no mínimo, um espetáculo capaz de justificar as honras de abertura da jornada redundou num frente a frente com 40 (!) lances fora da lei, muito perto dos 42,25% que traduziram o tempo útil cronometrado.

Francesco Farioli, treinador do FC Porto, no jogo frente ao Gil Vicente

JOSE COELHO/ LUSA

Bem visto tudo isto, se calhar o único que está certo é Francesco Farioli, que ainda ontem viu o FC Porto cometer… 20 faltas, mais 11 que o Gil Vicente. Farioli prefere guardar Rodrigo Mora, a última pérola do futebol português, na redoma dos suplentes e poupá-lo à “selva” que alguns acham que vai render milhões no mercado audiovisual internacional.

Distribuir tanta fruta pelos nove jogos por jornada (tivemos agora uma média de 31 por desafio) não augura grandes frutos num futuro centralizado na venda dos direitos televisivos. O resto são “peanuts”, para utilizar a peculiar anglo-terminologia de Jorge Jesus em 2009, quando ainda estava no berço o primeiro título com Vieira e o alquimista da Amadora já moía algumas cabeças de amendoim.