O líder norte-coreano, Kim Jong-un, declarou que a Coreia do Norte deve acelerar a expansão do seu arsenal nuclear, acusando os Estados Unidos e a Coreia do Sul de incorporarem um “elemento nuclear” nos seus exercícios militares conjuntos, algo que, segundo o regime de Pyongyang, aumenta o risco de guerra. As declarações foram divulgadas pelo jornal oficial Rodong Sinmun e pela agência estatal KCNA, após Kim ter inspecionado o ‘destroyer’ Choe Hyon, de 5.000 toneladas, no porto ocidental de Nampo, na segunda-feira, 18 de agosto.
“O ambiente de segurança em torno da Coreia do Norte está a agravar-se dia após dia e exige uma mudança radical e célere na teoria e prática militar, bem como uma rápida expansão da nuclearização”, citou o Rodong Sinmun, resumindo as palavras do líder norte-coreano. Kim considerou que os exercícios conjuntos, apesar de sempre provocatórios, se tornaram “mais graves” por integrarem agora uma componente nuclear.
A denúncia surge em plena realização do exercício militar anual Ulchi Freedom Shield, que começou esta semana e decorre até 28 de agosto. Trata-se de uma manobra conjunta entre Washington e Seul, descrita como defensiva, mas que mobiliza cerca de 21 mil militares – incluindo 18 mil sul-coreanos – para operações simuladas de comando e treino no terreno. A presença contínua de 28 mil soldados norte-americanos na Coreia do Sul alimenta há décadas as críticas de Pyongyang, que acusa os aliados de prepararem uma invasão.
Durante a inspeção ao destróier Choe Hyon, uma embarcação revelada em abril e equipada com sistemas nucleares, Kim acusou os aliados de “musculatura militar” e de demonstrarem a sua “vontade de incendiar uma guerra”, responsabilizando-os pelo que designa como destruição do equilíbrio de paz e segurança na região.
A posição de Pyongyang contrasta com o discurso da nova presidência sul-coreana. O porta-voz de Lee Jae Myung, que tomou posse em junho com uma agenda de reaproximação ao Norte, sublinhou que “Seul sempre encarou os exercícios Ulchi como defensivos”, sem, contudo, avançar mais comentários às acusações de Kim. O presidente sul-coreano tem defendido a restauração do acordo militar intercoreano de 2018, que estabeleceu zonas de segurança na fronteira, mas que foi suspenso em 2024 após uma escalada de tensões.
O impasse diplomático permanece desde 2019, quando falharam as negociações entre Kim Jong-un e o então presidente norte-americano, Donald Trump. Apesar de três encontros históricos, não foi alcançado qualquer entendimento sobre a desnuclearização da península. Trump, agora novamente na presidência dos EUA, tem manifestado a intenção de retomar os contactos, mas Pyongyang mantém a rejeição a qualquer negociação.
A China, principal aliada da Coreia do Norte, também reagiu às declarações de Kim. A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning, afirmou em conferência de imprensa em Pequim que “a posição fundamental da China sobre a questão da península coreana não mudou”. Pequim apelou a que “todas as partes envolvidas reconheçam as causas profundas da crise e trabalhem em conjunto para preservar a paz e estabilidade”, reiterando a defesa de uma solução política.
A península coreana permanece tecnicamente em guerra desde 1953, com a divisão entre Norte e Sul marcada pela Zona Desmilitarizada. As recentes declarações de Kim e a intensificação dos exercícios militares aliados voltam a acentuar a fragilidade de um equilíbrio que tem sido mantido à custa de sucessivas demonstrações militares e impasses diplomáticos.