Uma equipa de arqueólogos revelou a descoberta de novos fósseis de hominídeos recuperados da área do Projeto de Pesquisa Ledi-Geraru, que tem estado a decorrer na Etiópia, durante a última década.


Entre os principais achados estão 13 dentes recém-analisados que pertencem a pelo menos duas linhagens de hominídeos ancestrais: o ramo Australopithecus – a mesma linhagem dos A. afarensis – e outra, o ramo Homo, de onde descendem os humanos modernos, os Homo sapiens.




“Esses espécimes sugerem que o Australopithecus e o Homo primitivo existiram como duas linhagens na região de Afar antes de 2,5 milhões de anos atrás”, adiantaram os investigadores.


Esta sobreposição de dois hominídeos no registo fóssil é rara. Esse vazio de inforfação teria levado os arqueólogos a acreditar que o Homo aparecera depois do Australopithecus, não sendo contemporâneos.


As espécies de Australopithecus são caracterizadas por andarem na vertical como os humanos modernos, mas tinham cérebros relativamente pequenos, mais próximos dos macacos. Um dos fósseis de Australopithecus afarensis mais conhecidos e melhor representado são os famosos restos fossilizados de Lucy, descobertos em 1974 na Etiópia.

“Esta nova análise mostra que a imagem que muitos de nós temos em nossas mentes de um macaco para um neandertal para um ser humano moderno não está correta – a evolução não funciona assim”, sublinha a coautora do estudo Kaye Reed.

Sítio arqueológico de Ledi-Geraru.Arqueólogos descobriram dentes de um ancestral humano na região de Afar, na Etiópia – Amy Rector/Virginia Commonwealth University


O sítio arqueológico de Ledi-Geraru, na região de Afar, é já conhecido por terem sido documentados anteriormente achados como o mais antigo maxilar humano conhecido e algumas das primeiras ferramentas de pedra.


Os investigadores dataram os fósseis analisando camadas de cinzas vulcânicas acima e abaixo dos achados. 


Dez dentes de Australopithecus têm cerca de 2,63 milhões de anos, dois dos dentes do Homo têm cerca de 2,59 milhões de anos e terceiro tem cerca de 2,78 milhões. 


Os dentes do Homo podem pertencer à mesma linhagem de um maxilar de 2,8 milhões de anos já encontrado no local, mas esse dado ainda não foi confirmado, explicou Reed.


Os arqueólogos também argumentam que os dentes de Australopithecus agora analisados são de um tipo diferente dos já identificados de A. afarensis e A. Garhi.


Assim, a equipa de investigadores aponta para a possibilidade desta dentição hominídea pertencer a uma nova linhagem desconhecida até então, o que torna as etapas da rede da evolução humana ainda mais complexa.


Dentição aponta para nova linhagem de hominídeos




Durante a investigação, os dentes de Australopithecus revelaram semelhanças aos da linhagem afarensis tanto em contorno como em tamanho dos molares.

Porém, as características das cúspides e dentes caninos nunca tinham sido identificadas anteriormente em afarensis ou dentes de garhi, afirmou Brian Villmoare, principal autor do estudo e professor associado do departamento de antropologia da Universidade de Nevada, em Las Vegas.


Contraste entre o perfil oclusal geral mais equilátero do LD 760 M 1 (novos fósseis – esquerda) e detalhe da fita distal (linhas laranja) e contorno de bilobato (linhas azuis) observadas no espécime A. afarensis M 1 A.L. 400-1 (direita) – B. Villmoare et al. / Nature (2025)


Também se observou que a dentição tinha uma forma diferente comparativamente à dentição de qualquer espécie de Homo, ou do antigo parente humano Paranthropus, conhecido pelos seus grandes dentes e músculos de mastigação.


“Obviamente, estes são apenas dentes”, disse Villmoare, “mas continuamos o trabalho de campo na esperança de recuperar outras partes da anatomia que possam aumentar a resolução sobre a taxonomia”, acrescentou.

Para Stephanie Melillo, paleoantropóloga e professora assistente da Universidade Mercyhurst, na Pensilvânia, o novo estudo é importante porque fornece informações sobre um período de tempo de três milhões a dois milhões de anos atrás, um período misterioso em estudos evolutivos humanos”.


Os fósseis de Australopithecus de Ledi-Geraru ainda não foram batizados, mas a morfologia dentária distinta sugere fortemente uma “espécie única”. Será necessário uma “evidência fóssil mais completa” para dar um nome a uma nova espécie dizem os antropólogos da equipa.


Entretanto, os cientistas deixam claro que a história evolutiva é mais “como um arbusto com numerosos ramos, onde muitos dos quais terminaram em extinção”.


“Aqui temos duas espécies de hominídeos que estão juntas. E a evolução humana não é linear, é uma árvore espessa, existem formas de vida que se extinguem, remata Kaye Reed.