AMOR POR ACASO || Erin passou a última noite de férias em Lisboa a falar durante horas com um rapaz. Um mês depois, reencontraram-se
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Quando veio passar férias a Lisboa pela primeira vez, Erin não imaginava que, três anos depois, estaria a mudar-se dos EUA para Portugal para viver com um jovem português que conheceu por acaso.
Na altura, em agosto de 2023, trabalhava em Nova Iorque e ainda não tinha planos para as férias de verão. Até que um dia recebeu um convite de um grupo de amigos da Florida, a sua terra natal nos EUA, para se juntar a eles do outro lado do oceano. “Eles estavam a viajar pela Europa e tinham chegado a Lisboa. Eu tinha terminado a relação com um rapaz uns meses antes e não estava a sentir-me muito bem. E eles disseram-me: ‘’Vem para Portugal. Vamos para a praia, levamos-te a passear’.”
Erin acedeu ao convite: “Creio que comprei o bilhete umas duas semanas antes de partir. Não planeei o meu verão. Apenas pensei: ‘É isto que preciso de fazer. Parece-me uma ótima oportunidade’.”
Depois de “uma semana e meia” pela capital portuguesa, durante a qual aproveitou para conhecer também as praias da Costa da Caparica e a cidade do Porto, Erin preparava-se para voltar para Nova Iorque quando fez match com um rapaz no Tinder. Marcaram um encontro no Miradouro da Senhora do Monte, com vista privilegiada para a capital.
“Bebemos umas cervejas, falámos durante horas e depois ele levou-me a passear por Lisboa na moto dele. Foi uma noite tão romântica”, descreve à CNN Portugal.
“Na manhã seguinte, voltei para Nova Iorque”, diz.
A partir daquele primeiro encontro, falaram “todos os dias por telefone” e trocaram mensagens pelo WhatsApp. Erin recorda-se de uma sensação estranha, como se já se tivessem conhecido antes. “Eu só pensava: ‘Uau, nunca falámos um com o outro, nunca nos conhecemos, mas sinto que tenho de te contar tudo sobre a minha vida. Por onde é que tens andado’?”, lembra-se de pensar.
“Foi como se ele já me conhecesse, apesar de nunca nos termos visto antes”, explica.
O reencontro – e o primeiro beijo
Um mês depois, reencontraram-se. Erin tinha convidado Luís a visitar Nova Iorque – um convite inocente, sublinha. “Eu sou mesmo assim, gosto muito de receber pessoas. Em Nova Iorque e na cultura americana, toda a gente é muito informal em relação aos encontros.”
“Nessa altura, eu ainda pensava que podíamos ser só amigos”, confessa. “Eu estava numa fase em que estava a aceitar ser solteira e viver sozinha. E ele também”, complementa.
Mas assim que olharam um para o outro em Williamsburg, um bairro de Brooklyn, em Nova Iorque, algo mudou. “Encontrámo-nos na estação de comboios, demos um passeio para ir comprar qualquer coisa para comer e, sem que nada o tivesse previsto, demos o nosso primeiro beijo junto ao rio”, recorda.
Fotografia aérea do East River, com Manhattan à esquerda e Brooklyn à direita (AP Photo/Mark Lennihan)
“Quando nos beijámos, lembro-me de me sentir nas nuvens”, descreve, entre risos, reconhecendo o clichê. Mas a sensação foi mesmo essa, garante: “Senti-me como se as cores mudassem à nossa volta. Não sei explicar. Foi uma euforia.”
Luís passou uma semana em Nova Iorque, que coincidiu com o 30.º aniversário de Erin. “Divertimo-nos muito”, conta. “Passeámos por Nova Iorque, fomos a Washington D.C., visitámos Filadélfia.”
Apesar de se sentirem atraídos um pelo outro, Erin conta que, nessa altura, nenhum dos dois acreditava que pudessem ficar juntos. “Estávamos mesmo convencidos de que não íamos namorar, porque era impossível estar numa relação à distância. Eu achava que isso não era uma possibilidade”, confessa Erin. Afinal, separava-nos todo um oceano.
A única certeza então era que gostavam muito da companhia um do outro. “Não sentimos qualquer pressão para ter algum tipo de relação. Estávamos apenas a desfrutar do tempo.”
“Um dia perfeito”
Um mês depois, em novembro, foi a vez de Erin voltar a Lisboa para se reencontrarem, na altura também por ocasião do 30.º aniversário do Luís. “Foi tão engraçado, estávamos a entrar numa nova década juntos.”
Erin lembra-se bem desse dia em que voltou a Portugal para estar com Luís – e não por acaso. “Honestamente, foi um dia perfeito”, diz. “Começámos devagar porque eu estava com jet lag e precisava de dormir um pouco. Depois fomos de moto até ao Hot Dog Cascais – eu sei, muito americano da minha parte, mas gosto mesmo de cachorros quentes”, admite, afastando qualquer afronta à gastronomia portuguesa.
Depois disso, segue-se um roteiro que Erin se recorda ao pormenor: passaram pelo Farol de Santa Marta, em Cascais, e seguiram até ao Guincho, onde pararam no Núcleo de Interpretação da Duna da Cresmina para “apreciar a paisagem” e “beber um café tranquilamente”.
“De lá, seguimos para Sintra e explorámos as ruínas da antiga igreja” de São Pedro de Canaferrim, continua Erin, como se estivesse a viver tudo outra vez. “À medida que o sol se ia pondo sobre a serra, sentámo-nos lado a lado e foi aí que dissemos que gostávamos um do outro pela primeira vez.”
Foi um momento “calmo, bonito e completamente inesquecível”, descreve. Tanto assim foi que o casal nem se apercebeu que estava a ser fotografado por um grupo de turistas precisamente nesse momento. “Estávamos a olhar para o pôr do sol nesta pequena ruína de uma igreja e alguém nos tirou uma fotografia”, recorda. Hoje é uma das suas fotografias favoritas em casal.
Erin e Luís foram fotografados por um grupo de turistas quando confessaram pela primeira vez que gostavam um do outro, meses depois do primeiro encontro em Lisboa (Cortesia Erin)
Erin recorda-se que esse dia terminou com ambos a seguirem de moto “pelas estradas sinuosas de Sintra, com as luzes de Natal já penduradas, pois já estávamos no final de novembro”.
“Foi um dia tão específico e bonito, cheio de pequenos momentos que o tornaram mágico. Nunca o vou esquecer.”
A partir desse reencontro, a distância entre ambos parecia cada vez maior à medida que os meses iam passando. “Nunca tinha sentido tanto desejo e tanta vontade de estar com alguém. Eu dava por mim constantemente a pensar nele. Ele telefonava-me, mandava-me fotografias e mensagens todos os dias.”
Erin recorda-se que era particularmente difícil gerir o fuso horário entre ambos. “Eu lembro-me que havia alturas em que saía do trabalho e ia jantar fora com amigos. Depois voltava a casa porque tínhamos marcado um Facetime, e ele adormecia. Cheguei a ficar irritada algumas vezes porque fiz planos a contar chegar a casa para falar com ele”, assume.
Também acontecia Erin chegar a casa após uma saída à noite com amigos e Luís estar a acordar. “Então falávamos nessa altura e era muito engraçado”, recorda.
Uma “loucura” no Dia dos Namorados
Foi numa dessas videochamadas que Luís lhe contou que tinha um bilhete a mais para um concerto no Dia dos Namorados, depois de um amigo com quem ia ter cancelado à última hora. Era um “um concerto anti-Dia dos Namorados” dos Salto, no MusicBox, em Lisboa, diz Erin. “Então ele disse-me: ‘Gostava mesmo que estivesses aqui. Tenho um bilhete a mais’.”
“Acabei por comprar um voo para Lisboa nessa manhã”, conta Erin. “Parti nessa noite e cheguei a Lisboa no dia seguinte.”
Foi assim que passaram o Dia dos Namorados juntos, ainda sem o serem. “Fiquei só um dia, porque estava a trabalhar, mas liguei para o trabalho a dizer que não me sentia muito bem e passámos o dia juntos.”
“Foi a coisa mais louca que alguma vez fiz”, confessa Erin. “Mas também foi um dia muito feliz.”
Meses mais tarde, em maio de 2024, voltam a encontrar-se, novamente em Nova Iorque. Erin recorda-se que estavam a viajar pela costa leste dos EUA quando começaram a ter uma conversa franca sobre o que ambos procuravam. Lembra-se de fazerem questões um ao outro sobre se queriam ter filhos, se gostavam de casar, como era a relação de um e do outro com as respetivas famílias. “Enfim, as coisas de que tens de falar se queres estar numa relação”, resume. Clarificadas as expectativas de cada um, decidiram começar a namorar oficialmente.
Erin e Luís num restaurante em Nova Iorque. (Cortesia de Erin)
Luís voltou para Portugal, mas não demorou muito a regressar a Nova Iorque, onde ficou a trabalhar alguns meses na tese de doutoramento. “Nessa altura, estávamos juntos todos os dias. Ele chegou a viver comigo”, sublinha Erin, que trabalhava na altura como analista de dados e vivia numa casa partilhada com outros colegas. “Se namorar à distância foi difícil, viver num apartamento pequeno em Nova Iorque foi muito, muito difícil”, admite Erin, que lembra como os apartamentos nova-iorquinos são “minúsculos”, “mais pequenos do que em Lisboa”.
“Depois, a minha renda aumentou imenso. E eu pensei, ‘ok, está na altura de deixar Nova Iorque. Aqui é demasiado caro’”, conta Erin. Foi então que surgiu a ideia de se mudar para Portugal.
O casal mudou-se primeiro para Miami, na Florida, para ficar perto da família e amigos de Erin enquanto aguardavam que o visto que tinha solicitado para Portugal fosse aceite. Durante esses três meses em Miami, viveram num estúdio que mais parecia “uma caixa de sapatos”, compara Erin. “Eu só pensava: ‘se eu consigo viver com este homem aqui, eu consigo viver em qualquer situação’”, recorda-se, entre risos. “Foi o melhor teste”, conclui agora. “Eu sabia que podia viver com ele em qualquer situação.”
Erin conseguiu o visto no início deste ano e mudou-se para Portugal em fevereiro. “Estou a adorar. Penso que esta é a melhor decisão para a minha vida nesta altura. Acho que estava destinado a ser assim”, confessa.
“Normalmente, não sou de correr assim tantos riscos. Quero dizer, nunca me tinha mudado para fora dos EUA. E estava muito assustada por não ter emprego, nunca tinha ficado sem emprego até então”, admite. “Mas também tinha trabalhado muito para poupar algum dinheiro, de modo a poder passar algum tempo sem trabalhar, uma vez que não nos contratam sem um cartão de residência. E isso pode demorar meses”, aponta.
“Acho que, por ser adversa ao risco, a nossa relação assumiu níveis de validação e confiança, como se eu quisesse ter a certeza de que podíamos viver juntos. Queria ter a certeza de que estávamos destinados a ficar juntos.”
A vida em Lisboa
Nestes últimos seis meses tem aproveitado para se ambientar à vida em Lisboa. Conta que costuma encontrar-se com o mesmo grupo de pessoas todos os dias para jogar voleibol na praia. Entretanto também já fez “várias amizades” com outros imigrantes na capital. Confessa que tem sido difícil fazer amizades com portugueses – “os dois grupos não se misturam”, diz.
Aprender a língua também tem sido um desafio. Apesar de estar a ter aulas de português, Erin confessa que a língua é “difícil” e explica que, “como os portugueses falam muito bem inglês, não temos oportunidade de praticar” fora das aulas. “Mas sou muito boa a pedir comida e bebidas em português”, sublinha, entre risos.
Sobre o futuro, Erin diz que está “muito feliz em Portugal” e que vai dedicar os próximos tempos a ambientar-se ao país e a procurar emprego, já que o trabalho onde estava anteriormente obrigava a que estivesse presencialmente nos EUA. “Mas planeamos ficar aqui no médio prazo, até percebermos qual o passo seguinte.”
Por vezes, confessa, dá por si a pensar como a sua vida deu uma reviravolta desde aquele primeiro encontro, ao acaso, na última noite que passou de férias em Lisboa. “Por vezes, estamos só a passar tempo, sentados no sofá ou a passear para ir buscar comida ou assim, e eu comento com o Luís: ‘Dá para acreditar que um dia eu vim para aqui de férias e agora estou aqui a viver aqui contigo?’”
“Não consigo acreditar que, se eu não tivesse ido de férias, não teria encontrado o amor da minha vida.”
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