O vocabulário do TikTok não está, oficialmente, só no TikTok: “Skibidi”, “delulu” e “tradwife” são algumas das palavras que foram acrescentadas ao Dicionário de Cambridge, uma referência linguística internacional.

“A cultura da internet está a mudar a língua inglesa e é fascinante observar o seu efeito e capturá-lo no dicionário”, justificou ao Guardian o gestor do programa lexical, Colin McIntosh. “Não é todos os dias que vemos palavras como estas a entrarem no Dicionário de Cambridge. Só acrescentamos palavras que acreditamos que têm potencial para ficar.”

Não existe uma expressão em português para traduzir as palavras agora dicionarizadas. “Skibidi” (originalmente “skibidi toilet”) nasceu de uma série criada por Alexey Gerasimov, que consiste em vídeos numa casa de banho, com uma cabeça humana a sair da sanita. A palavra “skibidi” é uma onomatopeia que deriva do refrão da música Give It To Me, de Timbaland, que acompanha o vídeo.

O seu significado é abstracto e difícil de entender para quem não pertence à geração Alfa, os nascidos depois de 2010, que criaram e popularizaram a expressão. Pode significar “fixe” ou, pelo contrário, “mau”, ou ser usado apenas como uma piada.


“Delulu” nasceu a partir da palavra “delusion”, que em português significa algo como “alucinado” ou “delirante.” A entrada no dicionário define-a como: “Acreditar em coisas que não são reais ou verdade, geralmente por vontade própria.”

Já a expressão “tradwife” deriva de “traditional wife” ou, em português, “esposa tradicional”, e nasceu de um movimento que surgiu nas redes sociais, onde influencers conservadoras contam como escolhem não trabalhar e a sua vida orbita em torno dos seus maridos, filhos e casa, ao estilo dos anos 1960.

Sobre esta tendência, a investigadora de masculinidades Susanne Kaiser referiu ao P3 que se trata de uma performance: “Aquilo não é um casamento dos anos 1960, porque nessa altura as mulheres não tinham voz, não tinham a possibilidade de se divorciar. Não tinham salário, nem podiam trabalhar sem autorização do marido. Hoje, as tradwives podem dizer, de um momento para o outro: ‘Isto foi giro, ganhei muito dinheiro, mas desculpem, agora sou de esquerda, quero entrar na política e vou deixar o meu marido.’ Elas têm liberdade de escolha, e isso é muito diferente do que acontecia com as verdadeiras tradwives.”

“Broligarchy” foi outra palavra que entrou no dicionário. Junta “bro” (diminutivo de “brother”, ou “irmão) com “oligarchy” (“oligarquia). Refere-se a um “pequeno grupo de homens, especialmente homens que são donos ou estão envolvidos em negócios de tecnologia, que são extremamente ricos e poderosos e têm, ou querem ter, influência política”.

O dicionário conta ainda com as novas expressões “work spouse” (algo como “cônjuge laboral”), que se refere à relação entre duas pessoas que se ajudam e confiam uma na outra no local de trabalho; e “mouse jiggler”, uma ferramenta que simula o movimento do rato do computador, para fazer parecer que alguém está a trabalhar, quando na verdade não está.