No sudoeste do Donbass, nos 12% de território que as forças russas ainda não conseguiram tomar, fica a “faixa fortaleza”, com 50 quilómetros de extensão delimitada, a norte, pelas cidades de Slovyansk e Kramatorsk e, a sul, por Kostyantynivka e Druzhkivka. Trata-se de uma região profundamente urbanizada, com cidades industriais, estradas e linhas de caminhos de ferro.
Mas não foi só esta geografia que tornou a região num reduto de resistência aos avanços russos. Ao longo da última década, depois de estas quatro cidades terem sido tomadas — e recuperadas — a grupos pró-Rússia, Kiev dedicou-se a reforçar a malha natural da região, com uma extensão de “arame farpado, cimento, gravilha e ‘dentes de dragão’ [pequenas pirâmides de cimento que impedem o avanço de veículos]”, descreve a The Economist. A isto somam-se fortificações “passivas”, que incluem bunkers e trincheiras, e “ativas”, na forma de minas e armadilhas anti-tanques.
[Governo decide que é preciso invadir a embaixada para pôr fim ao sequestro. É chamada uma nova força de elite: o Grupo de Operações Especiais. “1983: Portugal à Queima-Roupa” é a história do ano em que dois grupos terroristas internacionais atacaram em Portugal. Um comando paramilitar tomou de assalto uma embaixada em Lisboa e esta execução sumária no Algarve abalou o Médio Oriente. Ouça no site do Observador o quinto episódio deste podcast plus narrado pela atriz Victoria Guerra, com banda sonora original dos Linda Martini. Também o pode escutar na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E ouça o primeiro episódio aqui, o segundo aqui, o terceiro aqui e o quarto aqui]
Em maio de 2022, três meses depois da invasão, a região de 120 quilómetros do oeste de Donetsk era definida como “a zona que pode definir o ‘destino’ da Ucrânia”. Foi nesta região que se travaram algumas das maiores e mais longas batalhas da guerra, em Bahkmut e Avdiivka, e onde se trava ainda a batalha pelo controlo total de Pokrovsk. Na “faixa fortaleza”, as características defensivas do terreno permitiram manter as tropas russas ao largo.
“A velocidade dos avanços russos acelerou no último mês, mas mesmo estando a tomar terreno, ainda iriam demorar anos (três ou mais) à velocidade atual para capturar todo este território”, avaliou Matthew Savill, diretor de ciências militares do RUSI, à Sky News. Assim se explica que Putin procure negociar diplomaticamente o controlo da região.
No entanto, em Kiev, somam-se motivos para não ceder à exigência russa. Em primeiro lugar, seria um “suicídio político” para Zelensky, escreve a CNN. Isto porque, segundo o Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, cerca de 75% dos ucranianos é contra a entrega de territórios à Rússia. Além disso, impõem-se obstáculos legais e sociais. O obstáculo legal é o que o Presidente tem mobilizado para justificar a sua recusa: o facto de a Constituição ucraniana não permitir alterações nas fronteiras, definidas em 1991 por ocasião da declaração de independência da Ucrânia da União Soviética.