A casa nas falésias da Azóia, uma localidade perto do Cabo da Roca, em Sintra, foi comprada há 20 anos. 

“A paisagem é tão bonita que é quase criminoso impor uma arquitectura”, pensou João Tiago Aguiar, arquitecto responsável pelo projecto, que decidiu pôr em prática uma “não-arquitectura”.

Ao longo dos anos, a construção inicial, um moinho, foi sendo aos poucos aumentada com outros edifícios ─ era comum adicionar-se espaços, sem pensar no produto final, explica o arquitecto. Durante o confinamento, a família percebeu a existência de algumas lacunas e, por isso, começou uma remodelação.

A casa que “vive muito para dentro” foi remodelada com “vãos de sacada”. Este processo alterou a vista que os habitantes tinham quando deitados, já que passaram de só ver o céu para conseguirem ver a paisagem completa.

“A cozinha estava de costas para as outras zonas, era como se estivesse de castigo, agora estabelece contacto com a zona exterior”, descreve o arquitecto do atelier João Tiago Aguiar Arquitectos.

O moinho ficou totalmente equipado, com cozinha, casa de banho e quarto. O piso -1, anteriormente usado como sala de jogos, manteve a sua essência, mas, como o moinho, tornou-se um espaço que pode ser usado de forma independente.

O piso superior, anteriormente ocupado por três quartos pequenos, deu lugar a duas suítes de boas dimensões. Uma delas com a melhor vista da casa já que está direccionada para o pôr-do-sol. O volume central foi demolido e reconstruído, pois a sua forma peculiar criava ângulos estranhos na ligação com os outros dois volumes. Assim, foi utilizado o vidro espelhado para reflectir ao máximo o ambiente envolvente.

Na parte exterior do piso térreo foram usados azulejos como revestimento. Criados pela artista e ceramista MAVC, os azulejos foram pensados para se assemelharem ao movimento do mar, através do formato bidimensional e tridimensional, e ainda a cor, azul-verde água, com a dupla função de estabelecer continuidade com o mar e a vegetação. Este mesmo princípio foi aplicado na piscina.

Os donos, que moram em Lisboa, só visitam a casa nas férias e aos fins-de-semana. “Foi importante não ter nada que exigisse muita manutenção. É uma casa muito grande, numa localização remota e as pessoas não querem ter de estar sempre a pensar no que vão ter de arranjar a seguir”, explica.

A zona superior e a cobertura foram revestidas com cal pigmentada para se aproximar do aspecto da pedra da falésia. A pintura “às manchas” dá uma aparência de artesanato e ajuda ao envolvimento no meio. “A casa vista de cima parece pedras”, garante o arquitecto.