Conferência de imprensa que antecedeu o início da reunião na Casa Branca entre Trump, Zelensky e vários líderes europeus correu de forma completamente diferente daquele agressivo encontro de há seis meses. Pelo meio, o líder ucraniano virou-se para o mesmo jornalista que o tinha atacado há meio ano por não usar um fato: “Eu mudei, você não”. E surpresa: Trump não excluiu enviar tropas para o terreno

“Fica fabuloso com esse fato”, apontou Brian Glenn, repórter do Real America’s Voice – que em fevereiro foi dos críticos mais ferozes por Zelensky ter aparecido na Sala Oval com camuflado militar. Desta vez, ao constatar que o presidente ucraniano decidiu vestir-se com um fato negro (sem gravata) para o encontro-relâmpago com Donald Trump, apreciou o vestuário. “Eu disse o mesmo”, comentou Trump. Pelo meio, Zelensky disse isto a Brian Glenn: “O senhor é que está com o mesmo fato. Eu mudei, você não”. Mordaz. 

A mudança não foi só visual. Comparativamente com a última reunião no mesmo local entre os dois líderes, em fevereiro, o ambiente da Sala Oval revelou-se muito mais favorável para os interesses do presidente ucraniano. Onde anteriormente Zelensky tinha sido retratado como um “ditador” que estava a “brincar com a Terceira Guerra Mundial” sem ter “nenhumas cartas na mão”, agora ouviu de Trump que os EUA iriam estar envolvidos nas garantias de segurança a Kiev e que isso, eventualmente, pode até vir a significar tropas americanas no terreno.

Sobre este ponto, Trump não disse expressamente que soldados norte-americanos vão ser enviados para a Ucrânia mas também não o excluiu depois de questionado pelos repórteres que estavam presentes na conferência de imprensa que antecedeu o início da reunião entre as delegações norte-americanas, ucranianas, francesas, finlandesas, italianas e alemãs. Trump disse assim sobre essa possibilidade de enviar militares para o terreno: “Saberão talvez ao fim do dia”. E acrescentou que estaria disposto a “trabalhar com toda a gente” para garantir que a paz “seja de longa duração”. “Vamos trabalhar com a Rússia, vamos trabalhar com a Ucrânia e vamos certificarmo-nos de que funciona”, disse o presidente americano. A CNN Internacional sublinha que o facto de Trump não excluir o envio de tropas “é uma mudança significativa“.

A Europa, continuou, é “a primeira linha de defesa, porque está lá, na Europa”. “Mas vamos ajudá-los. Além disso, estaremos envolvidos”, sublinhou. Já Zelensky afirmou que o seu país precisa de “todas” as garantias de segurança para avançar para um acordo com a Rússia. Elencou, em primeiro lugar, a necessidade de um “exército forte, o que inclui armas, pessoas, treino e informações militares”. Em segundo, reforçou, iremos discutir com os nossos parceiros.

O encontro acontece meras 72 horas após a Cimeira do Alasca que juntou Putin e Trump à mesma mesa e que o presidente norte-americano veio a descrever como “muito bom” no objetivo de chegar a um possível acordo alcançado com a Rússia. Antes de Zelensky chegar à Sala Oval esta segunda-feira, contudo, Moscovo, através do seu diplomata principal Sergei Lavrov, deixou uma condição: não pode haver tropas da NATO destacadas na Ucrânia como parte de qualquer acordo de paz. E Trump não excluiu – mas também não disse que o iria fazer, porque “talvez ao fim do dia” saibamos – enviar soldados dos EUA.

Trump reforça que é “muito importante conseguir o acordo” para “parar a matança” e que irá telefonar a Putin no final do encontro. “Não sei se se define dessa forma, mas algo como a NATO, quero dizer, vamos dar — temos pessoas à espera noutra sala neste momento. Vieram todos da Europa. As figuras mais importantes da Europa… e querem oferecer proteção. Sentem-se muito fortemente em relação a isso e vamos ajudá-los nisso. Acho que é muito importante. Acho, acho que é mesmo muito importante conseguir esse acordo.” Um pouco confiso.

De resto, houve também uma grande diferença face ao encontro de fevereiro: JD Vance, o vice-presidente dos EUA, manteve-se praticamente calado durante quase toda a conferência de imprensa, quando há seis meses foi um dos principais vetores do ataque a Zelensky, acusando várias vezes o líder ucraniano de ser ingrato e de nunca ter dito obrigado. Já esta segunda-feira, e só nos primeiros dez segundos da sua intervenção, o líder ucraniano deixou quatro obrigados. “Muito obrigado pelo convite e muito obrigado pelos seus esforços, esforços pessoais, para travar as mortes e pôr fim a esta guerra. Obrigado por aproveitar esta oportunidade, muitos agradecimentos à sua esposa”.

Além disso, a operação de charme de Zelensky contou ainda com uma carta de Olena Zelenska, a primeira-dama ucraniana, dirigida à mulher de Trump, Melania. “A minha esposa entregou a carta. Não é para si, é para sua esposa”, afirmou dirigindo-se a Trump. Houve sorrisos na sala.