Publicada na The Lancet, pesquisa com dados de SP mostra impacto da Qdenga e reforça uso em surtos
Mulher recebendo vacina contra dengue na manhã desta quinta-feira (Foto: Arquivo / Henrique Kawaminami)
Um estudo publicado nesta terça-feira (19) na revista científica The Lancet Infectious Diseases comprovou, pela primeira vez em dados de vida real, a eficácia da vacina da dengue, a TAK-003 (Qdenga), em adolescentes. A pesquisa foi conduzida em São Paulo, durante a epidemia histórica de dengue de 2024, e teve coordenação de cientistas da Fiocruz Mato Grosso do Sul e da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Estudo internacional com coordenação da Fiocruz MS e UFMS comprovou a eficácia da vacina contra dengue TAK-003 (Qdenga) em adolescentes. A pesquisa, publicada na revista The Lancet Infectious Diseases, analisou dados de 92.621 testes realizados em São Paulo durante a epidemia de 2024. Os resultados indicam que a vacina apresentou eficácia de 50,2% contra casos sintomáticos e 67,5% contra hospitalizações após a primeira dose. A segunda dose elevou a proteção contra sintomas para 61,7%. A imunidade se inicia 14 dias após a primeira aplicação, com queda após 90 dias, reforçando a necessidade da segunda dose. O estudo, apoiado pelo CNPq e com colaboração de universidades americanas, pode influenciar recomendações da OMS para campanhas de vacinação.
A investigação analisou 92.621 testes de adolescentes de 10 a 14 anos em São Paulo, aplicados entre fevereiro e dezembro de 2024. O método utilizado foi o chamado teste-negativo, padrão internacional em estudos de vacinas, que cruza dados de vigilância epidemiológica com registros de vacinação.
Do total de testes, 43.873 tiveram resultado positivo para dengue e 48.748 foram negativos, funcionando como grupo de comparação. A partir dessa base, foi possível estimar a efetividade da vacina em condições reais de epidemia.
Eficácia da vacina contra dengue TAK-003 ao longo dos dias após a 1ª dose (Foto: Gráfico divulgação)
Os resultados mostraram que, após a primeira dose, a eficácia contra casos sintomáticos foi de 50,2%, enquanto contra hospitalizações o índice alcançou 67,5%. Com a segunda dose, a proteção contra sintomas aumentou para 61,7%. A imunidade começa a ser percebida a partir do 14º dia após a primeira aplicação, mas cai depois de 90 dias, reforçando a necessidade de completar o esquema vacinal. A vacina foi eficaz contra os sorotipos um e dois, predominantes durante o surto de 2024.
O que isso quer dizer? – Conforme a pesquisa, embora os índices fiquem abaixo dos registrados em ensaios clínicos, os cientistas ressaltam que os dados de São Paulo comprovam a proteção significativa da TAK-003 em meio a surtos. O aspecto mais relevante é a rapidez da resposta: em apenas duas semanas após a aplicação, já havia efeito protetor contra casos sintomáticos, um ponto crucial para reduzir hospitalizações e aliviar sistemas de saúde em colapso.
A queda da proteção após 90 dias da primeira dose também foi confirmada, o que reforça a importância de manter o esquema de duas doses para garantir proteção prolongada.
Impacto social – O estudo teve apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e contou com colaboração de instituições internacionais como a Universidade de Yale, a Johns Hopkins University e a Universidade de Emory, nos Estados Unidos. Os achados brasileiros podem influenciar diretamente recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), tanto para campanhas emergenciais em áreas endêmicas quanto para a vacinação de viajantes com destino a regiões de risco.
Pessoas aguardando imunização na USF 26 de agosto (Foto: Arquivo / Henrique Kawaminami)
Protagonismo sul-mato-grossense – Mesmo tendo sido realizado em São Paulo, o estudo é também um marco para Mato Grosso do Sul, que em 2024 esteve entre os estados mais castigados pela dengue. Para pesquisadores locais, a publicação em uma das revistas médicas mais prestigiadas do mundo comprova a força da ciência feita no Estado.
“O fato de termos pesquisadores daqui liderando e participando de um estudo publicado em uma das revistas mais respeitadas do mundo mostra a relevância da pesquisa científica feita em Mato Grosso do Sul”, concluiu Croda.
Além de Croda, participaram do trabalho pesquisadores como Lisany Krug Mareto (UFMS) e Roberto Dias de Oliveira, da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) e da Fiocruz-MS (Fundação Oswaldo Cruz de Mato Grosso do Sul). A UFMS foi responsável pelo processo ético de aprovação do estudo, reforçando a centralidade do Estado na produção de conhecimento que agora repercute internacionalmente.
“É a primeira comprovação robusta, fora de ensaios clínicos, de que a TAK-003 é eficaz. Isso pode salvar vidas e desafogar os hospitais durante epidemias”, destacou Croda.
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