Quem o via em cima do cavalo, debaixo de aplausos, enquanto enfrentava um touro numa arena estava longe de imaginar que Marcos Tenório Bastinhas, filho do falecido cavaleiro Joaquim Bastinhas e neto do também falecido comendador Rui Nabeiro, enfrentava em privado um peso muito maior do que o do animal que dominava na praça. Marcos Tenório Bastinhas sofre de doença mental. E decidiu que este era o momento certo para partilhar a sua luta contra uma grave depressão. Ao seu lado, contou com o apoio incondicional da mulher, Dália Madruga, que numa conversa sem tabus, no Dois às 10, na TVI, abriu o coração a Cristina Ferreira e, lavada em lágrimas, falou da fase dura que tem vivido ao lado do marido. 

Dias antes de ter marcado presença no programa das manhãs do canal de Queluz de Baixo, o cavaleiro já havia anunciado uma pausa na carreira. “Por motivos pessoais, decidi suspender a minha temporada taurina. Foi uma decisão difícil, mas necessária”, assumiu Marcos Tenório Bastinhas em comunicado partilhado nas redes sociais. Visivelmente mais magro e abatido, foi com um tom emocionado que o cavaleiro explicou perante as câmaras o motivo que levou à paragem temporária: “Desde o príncipio do ano vivi vários episódios que me fizeram sentir que as coisas não estavam a correr normalmente. Não estava bem em lado nenhum, sentia tristeza, não tinha um sentido de vida… havia alegria momentânea mas 90% do tempo era de tristeza, angústia, ansiedade, sentimento de querer fugir.”

A primeira pessoa a perceber que algo de errado se passava foi a mulher, Dália Madruga, com quem o cavaleiro tem três filhos: Clara, de 10 anos, Alice, de oito, e Joaquim, de três (com o casal vive também João, de 17 anos, fruto de uma relação anterior da antiga apresentadora da RTP). “Foi um processo gradual e chegou a um ponto em que tive de pedir ajuda. A Dália apercebeu-se do que se passava primeiro do que eu. Fui negando mas houve um dia em que tive de aceitar ajuda. Disseram-me que estava numa depressão profunda. Hoje sinto-me muito bem em ir às consultas e até sinto falta quando não vou”, explicou Marcos.

Com 25 anos de carreira no mundo da tauromaquia, já nem a alegria das corridas parecia fazer diferença na vida do cavaleiro. “Era apatia total”, explicou. “Senti que não podia continuar porque ia pôr a minha vida em risco”, frisou Marcos, que admitiu ter mesmo pensado em pôr termo à vida. “Houve pensamentos e situações concretas. Tive pensamentos de alguém que não queria estar aqui”, confidenciou.  

Lavada em lágrimas, depois de ouvir as palavras do marido, Dália Madruga, de 46 anos lembrou o pedido que fez constantemente a Marcos: “É difícil pedir-lhe todos os dias: ‘não me deixes sozinha que temos os nossos quatro filhos para educar’, ‘eu não consigo fazer isto sozinha’”. Mas consciente de que o marido podia ceder num momento de maior vulnerabilidade, a antiga apresentadora salientou que não o deixava sozinho em nenhum momento. “Eu, todos os dias, lhe pedia isso. Nunca o deixava sozinho com medo, andei muitos meses que não o deixava sair de casa sozinho (…). Nunca larguei a mão dele, nem nunca vou largar, porque eu não concebo a ideia de perder o amor da minha vida.”

E Dália continua de mão dada com Marcos, acreditando que o primeiro passo para tratar da doença está dado. “Acreditamos que falar é o primeiro passo. E que ninguém deve sentir-se envergonhado por estar doente – seja física ou emocionalmente. As doenças existem. A dor existe. E esconder não cura.” 

Depois da partilha do casal na televisão, surgiu uma onda de carinho nas redes sociais. “O amor e apoio que recebemos foi algo que nos tocou profundamente. Ficámos sem palavras. E é esse amor que nos dá forças para continuar. Porque juntos, em comunidade, podemos – e devemos – normalizar a saúde mental. Torná-la acessível. Descomplicada. Sem tabus”, escreveu Dália no seu Instagram.

Texto: Andreia Valente; Fotos: D.R.

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