No que é considerdo um marco histórico, o pequeno Estado insular de Tuvalu, no Pacífico, acaba de dar início à primeira migração em massa provocada pelas alterações climáticas. Esta semana, 280 tuvaluanos receberam os primeiros vistos do mundo especificamente destinados a refugiados climáticos, permitindo-lhes mudar-se para a Austrália enquanto o seu país continua a afundar-se.
Duas das nove ilhas que compõem Tuvalu já estão submersas devido à subida do nível do mar, e os cientistas preveem que todo o território poderá desaparecer nas próximas décadas. Com apenas cerca de 11.000 habitantes, Tuvalu enfrenta uma ameaça existencial sem precedentes e está a agir antes que seja tarde demais.
“É uma decisão muito difícil. Deixar o nosso país é também deixar a nossa cultura”, lamenta um dos habitantes agora forçados a partir, citado em reportagem retransmitida pela RTVE. A mudança “representa não só a perda de terra, mas também de identidade, de laços comunitários e de história”.
A iniciativa surge após um acordo pioneiro firmado entre Tuvalu e a Austrália no final de 2023, que prevê a atribuição anual de 280 vistos para habitantes tuvaluanos. O objectivo é permitir que possam viver, estudar e trabalhar em território australiano, longe da ameaça das águas.
O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, considerou o acordo “um exemplo de responsabilidade regional perante a crise climática”.
A procura tem superado largamente a oferta: cerca de 80% da população de Tuvalu já apresentou pedido para estes vistos, no que é considerado um primeiro passo numa nova era de mobilidade forçada pela crise climática, que poderá afetar milhões de pessoas em zonas costeiras e ilhas vulneráveis em todo o mundo.
Entretanto, o Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas emitiu esta semana um parecer histórico, sublinhando que os Estados têm a obrigação de agir contra as alterações climáticas. Apesar de não ter força legal vinculativa, o parecer dá força às reivindicações de países como Tuvalu, que lutam não apenas por ajuda, mas por sobrevivência.
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Tuvalu, Simon Kofe, já tinha alertado na Cimeira do Clima de Glasgow, em 2021: “A mobilidade climática tem de passar para o centro da agenda internacional”. Fê-lo de forma memorável, com uma declaração gravada com água pelos joelhos, simbolizando o futuro que se aproxima – e que, para Tuvalu, já chegou.