Mark Warren admite que receia estar envolvido num esquema russo

Um homem do Alasca pode ter saído como o grande vencedor da reunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin, em Anchorage, na semana passada. Saiu da base de Elmendorf-Richardson a conduzir uma moto nova, cortesia do governo russo.

A delegação de Putin presenteou Mark Warren, um inspetor de incêndios reformado da Câmara Municipal de Anchorage, com uma mota Ural Gear Up com sidecar, uma semana depois de ter dado uma entrevista a uma estação televisiva, que se tornou viral na Rússia. A empresa de motociclos, fundada em 1941 na Sibéria Ocidental, fabrica agora as suas motos em Petropavlovsk, no Cazaquistão, e distribui-as através de uma equipa sediada em Woodinville, Washington.

Warren já tinha uma moto Ural, comprada a um vizinho. Estava a passear na moto uma semana antes do encontro entre Trump e Putin quando uma equipa de televisão russa o viu e lhe pediu uma entrevista.

Warren contou como tinha dificuldades em obter peças para a moto por causa de problemas de oferta e procura.

“A entrevista tornou-se viral, foi uma loucura, e não sei porquê, porque sou apenas um tipo supernormal”, afirmou Warren, na terça-feira. “Entrevistaram um velhote numa Ural e, por algum motivo, acharam interessante.”

A 13 de agosto, dois dias antes da reunião entre Trump e Putin para discutir um acordo para a paz na Ucrânia, Warren recebeu um telefonema do jornalista russo que o entrevistou, para lhe dar uma notícia: “Decidiram dar-te uma moto”.

Warren recebeu um documento que indicava que o presente foi providenciado através da Embaixada russa nos EUA, que não respondeu a um pedido de comentário da Associated Press (AP).

Inicialmente, Warren pensou que poderia estar a ser alvo de uma burla. Mas depois de Putin e Trump terem deixado a Base Conjunta Elmendorf-Richardson após uma reunião de três horas na sexta-feira passada, recebeu outra chamada a informar que a moto estava na base.

Foi informado de que deveria dirigir-se a um hotel em Anchorage no dia seguinte para receber a moto. Acompanhado da mulher e, quando chegou ao parte de estacionamento, onde estavam seis homens que presumiu serem russos, encontrou a moto, avaliada em 22 mil dólares.

“Fiquei boquiaberto”, confessa. “E só me lembro de dizer: ‘Vocês só podem estar a brincar comigo’.”

Tudo o que os russos pediram em troca foi uma entrevista: “Se querem alguma coisa de mim, vão ficar muito desapontados.”

Para receber a moto, Warren só teve de aceitar dar uma entrevista e tirar fotografias a passear com ela no parque de estacionamento na base de Anchorage (Bill Roth/Anchorage Daily News via AP)

Dois repórteres e um funcionário da embaixada subiram para a moto com ele. Warren conduziu lentamente pelo parque de estacionamento enquanto um operador de câmara corria ao seu lado e filmava.

Warren admite que receava estar, de alguma forma, envolvido nalgum esquema russo. “Não quero um bando de haters atrás de mim a dizer que comprei uma mota russa. (…) Não quero isso para a minha família”.

No momento em que assinava os documentos da transferência da moto para a embaixada russa, percebeu que a mesma tinha sido fabricada a 12 de agosto.

“É óbvio que ela saiu da concessionária e entrou num jato em provavelmente 24 horas”, conclui Warren.