Histórias diferentes de vida, interrompidas por uma mesma tragédia, conduzem as crônicas biográficas de Luís Carlos Valois em sua nova obra, ‘Apocalipse Penitenciário: histórias de vidas e mortes censuradas’. O livro, escrito como uma espécie de registro do massacre que chocou o Brasil em 2017, será lançado nesta quinta-feira (21), às 19h, no Casarão de Ideias, em Manaus.
A obra é resultado de sete anos de pesquisas em processos jurídicos e de uma série de entrevistas com familiares e amigos de todos os 56 detentos mortos na maior rebelião do sistema prisional brasileiro. O evento, marcado pelo enfrentamento de duas facções, gerou horas de conflito e barbárie no superlotado Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), ganhando repercussão na imprensa internacional.
Uma história para além dos números
Valois, que na época atuava como juiz da Vara de Execução Penal do Amazonas, afirma que o livro é uma forma de humanizar as vítimas. “Eu precisava mostrar que não eram números ou estatísticas apenas. Eram seres humanos, alguns sem qualquer ligação com o tráfico de drogas, que tiveram suas vidas interrompidas de forma brutal e deixaram órfão as mães, filhos, esposas e amigos. Eu precisava contar essa história de um jeito humanizado. Acho que consegui cumprir esse propósito”, destaca o autor.
Ele conta que as 55 crônicas do livro, com exceção de um capítulo dedicado a dois irmãos, foram escritas a partir de depoimentos comoventes e impactantes sobre a personalidade e a trajetória de cada detento.
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O fim de um ciclo na vida e na carreira
A tragédia do Compaj, da qual Valois participou de forma decisiva nas negociações para a libertação de reféns, marcou profundamente sua vida profissional. Em 2024, após 29 anos de atuação na 1ª Vara de Execução Penal do Amazonas, ele mudou de área, assumindo a 9ª Vara Cível e de Direitos do Trabalho.
“Depois daquela rebelião eu sabia que não podia mais continuar trabalhando no mesmo local. Não sei explicar o porquê, talvez alguma espécie de trauma, mas continuar visitando o local da chacina semanalmente era muito difícil. Assim, o fim do livro coincidiu com minha mudança de área de atuação na justiça, hoje não sou mais um juiz criminal. Tenho como um encerramento de ciclo, que não seria completo sem terminar o livro também. É um legado, uma espécie de manifesto de luto que, com o livro, penso estar encerrado”, revela o juiz.
A obra: ciência, vivência e liberdade na escrita
As crônicas biográficas de ‘Apocalipse Penitenciário’ fazem parte de um projeto de pós-doutorado de Valois em Criminologia na Universidade de Hamburgo, na Alemanha. Ele explica que a obra mescla a pesquisa científica com sua experiência de vida.
“Procurei mesclar a pesquisa, as entrevistas, com a minha própria experiência, meus conceitos e estudos. O resultado chamo de crônicas biográficas, porque tem muito de crônica, de vida, de morte, junto com ciência e reflexões sobre tudo isso”, afirma. Ele ainda agradece ao professor Sebastian Scheerer, da Universidade de Hamburgo, pelo apoio e pela liberdade na escrita.
A editora mineira D’Plácido assina a edição da obra, que já foi lançada em Belo Horizonte e terá eventos em São Paulo e no Rio de Janeiro.
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