As tropas israelitas estabeleceram uma base nos arredores da cidade – que alberga mais de um milhão de palestinianos – após dias de intensos bombardeamentos e fogo de artilharia.Israel quer sinalizar que está a avançar com o seu
plano de captura de toda a Cidade de Gaza, apesar das críticas
internacionais.

Centenas de palestinianos nos bairros de Zeitoun e Sabra, na Cidade de Gaza, partiram em direção à parte noroeste da cidade.

Um porta-voz militar disse que as tropas já estavam a operar nas zonas de Zeitoun e Jabalia para preparar o terreno para a ofensiva, que o ministro da Defesa, Israel Katz, aprovou na terça-feira e que será submetida ao gabinete de segurança ainda esta semana.

Cerca de 60 mil reservistas estão a ser convocados para o início de setembro, a fim de libertar militares no ativo para a operação.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou estar a “encurtar os prazos” para a tomada do que descreveu como “os últimos bastiões terroristas” em Gaza.Em comunicado, o Hamas acusou o líder israelita de
continuar uma “guerra brutal contra civis inocentes na Cidade de Gaza” e
criticou o que chamou de “desconsideração” por uma nova proposta de
cessar-fogo apresentada pelos mediadores regionais. Israel ainda não
respondeu formalmente ao plano.

Centenas de milhares de palestinianos na Cidade de Gaza deverão receber ordens para partir e seguir para sul de Gaza, à medida que os preparativos para o plano de tomada de Israel avançam.

No sul do território, o exército israelita afirmou na quarta-feira ter matado cerca de dez combatentes do Hamas na zona de Khan Younis, ao repelir um ataque do seu braço armado, que alega ter matado um número desconhecido de soldados israelitas.



As tropas israelitas entraram em confronto na quarta-feira com mais de 15 militantes do Hamas que emergiram de poços de túneis e atacaram com tiros e mísseis antitanque perto de Khan Younis, a sul da Cidade de Gaza, ferindo gravemente um soldado e ligeiramente outros dois. 

O Governo israelita anunciou a sua intenção de conquistar toda a Faixa de Gaza após o fracasso das negociações indiretas com o Hamas sobre um cessar-fogo e o acordo de libertação de reféns no mês passado.

Na quarta-feira, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), brigadeiro-general Effie Defrin, disse que o Hamas estava “abatido e ferido” após 22 meses de guerra.

Agravaremos os danos no Hamas na Cidade de Gaza, um bastião do terror governamental e militar da organização terrorista“, acrescentou. “Agravaremos os danos nas infraestruturas terroristas acima e abaixo da terra e cortaremos a dependência da população do Hamas“.

Mas Defrin disse que as FDI “não estavam à espera” para iniciar a operação. “Iniciámos as ações preliminares e, neste momento, as tropas das Forças de Defesa de Israel (IDF) estão a controlar os arredores da Cidade de Gaza.”

Duas brigadas operavam em terra no bairro de Zeitoun, onde nos últimos dias localizaram um túnel subterrâneo que continha armas, e uma terceira brigada operava na zona de Jabalia, acrescentou.

Para “minimizar os danos aos civis”, acrescentou, a população civil da Cidade de Gaza seria avisada para evacuar, por questões de segurança.

O Patriarcado Latino de Jerusalém, que supervisiona a única Igreja
Católica de Gaza, localizada na Cidade de Gaza, disse ter recebido
relatos de que os bairros próximos da pequena paróquia começaram a
receber avisos de evacuação.

Um porta-voz da agência de Defesa Civil de Gaza, gerida pelo Hamas, Mahmoud Bassal, disse à AFP, na terça-feira, que a situação era “muito perigosa e insuportável” nos bairros de Zeitoun e Sabra.

A agência informou que os ataques e disparos israelitas mataram 25 pessoas em todo o território na quarta-feira. Entre elas, três crianças e os seus pais, cuja casa na zona de Badr, no campo de refugiados de Shati, a oeste da Cidade de Gaza, foi bombardeada, informou a agência.

Defrin afirmou que as Forças de Defesa de Israel (IDF) estão também a fazer todos os possíveis para evitar danos nos 50 reféns ainda detidos pelo Hamas em Gaza, dos quais se acredita que 20 estejam vivos. As suas famílias manifestaram receios de que as pessoas na Cidade de Gaza possam estar em perigo devido a uma ofensiva terrestre.

A campanha militar de Israel provocou uma devastação generalizada na Faixa de Gaza, que antes da guerra albergava cerca de 2,3 milhões de palestinianos. Muitos edifícios, incluindo casas, escolas e mesquitas, foram destruídos, enquanto os militares acusaram o Hamas de operar dentro das infraestruturas civis, o que o Hamas nega.Apelos de cessar-fogo imediato

O avanço israelita levou o secretário-geral da ONU, António Guterres, a renovar os apelos para um cessar-fogo imediato “para evitar a morte e a destruição” que um ataque “inevitavelmente causaria”.

Guterres apelou também à libertação incondicional de todos os reféns mantidos pelo Hamas, bem como “evitar a morte em massa e a destruição que uma operação militar contra Gaza inevitavelmente causará”.

O secretário-geral da ONU exortou ainda Israel a reverter a decisão de expandir a construção de colonatos “ilegais” na Cisjordânia.

O plano de colonização israelita, que dividiria a Cisjordânia ocupada e a isolaria de Jerusalém Oriental, foi anunciado na semana passada e recebeu o aval final de uma comissão de planeamento do Ministério israelita da Defesa na quarta-feira.Fora de Jerusalém Oriental, que foi ocupada e
anexada por Israel, vivem na Cisjordânia cerca de três milhões de
palestinianos, para além de aproximadamente 500 mil israelitas que vivem
em colonatos que a ONU considera ilegais segundo o direito
internacional.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), por sua vez, afirmou que novas deslocações e a intensificação das hostilidades “correm o risco de agravar uma situação já catastrófica” para a população de 2,1 milhões de Gaza.

O CICV alertou para uma situação catastrófica tanto para os civis palestinianos como para os reféns caso a atividade militar em Gaza se intensifique.

Após meses de hostilidades implacáveis e repetidas deslocações, a população de Gaza está completamente exausta. O que precisam não é de mais pressão, mas de alívio. Não de mais medo, mas de uma oportunidade de respirar. Precisam de ter acesso ao essencial para viver com dignidade: alimentos, material médico e de higiene, água potável e abrigo seguro”, referiu um comunicado.

Qualquer intensificação adicional das operações militares só aumentará o sofrimento, desintegrará mais famílias e ameaçará uma crise humanitária irreversível. As vidas dos reféns também podem estar em risco”, acrescentou.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha apelou a um cessar-fogo imediato e à passagem rápida e desimpedida de assistência humanitária por GazaTrégua de 60 dias

Os mediadores Catar e Egito estão a tentar garantir um acordo de cessar-fogo e apresentaram uma nova proposta para uma trégua de 60 dias e a libertação de cerca de metade dos reféns, que o Hamas aceitou na segunda-feira.Israel ainda não apresentou uma resposta formal, mas
as autoridades israelitas insistiram na terça-feira que não aceitariam
mais um acordo parcial e exigiram um acordo abrangente que previsse a
libertação de todos os reféns.

A proposta, baseada num plano anterior dos EUA, prevê uma trégua de 60 dias, a libertação de dez reféns vivos e dos restos mortais de 18 reféns mortos em troca da libertação de prisioneiros palestinianos, bem como a entrada de mais ajuda humanitária, segundo fontes do Hamas e da Jihad Islâmica.

Os restantes reféns seriam libertados numa segunda troca, dentro do período de tréguas, durante o qual serão realizadas negociações para um cessar-fogo permanente.No entanto, há mais de uma semana, o exército
israelita, que tomou aproximadamente 75 por cento do território
palestiniano em mais de 22 meses de guerra, intensificou os seus ataques
e operações na Cidade de Gaza, na parte norte do território.

Na quarta-feira, o Hamas acusou Netanyahu de desconsiderar a proposta de cessar-fogo dos mediadores e disse que era o “verdadeiro obstrucionista de qualquer acordo, não se importa com as vidas (dos reféns israelitas) e que não tem qualquer intenção séria de os recuperar”, de acordo com um comunicado citado pela Reuters.

“O anúncio feito pelo exército de ocupação terrorista do início de uma operação contra a Cidade de Gaza e os seus quase um milhão de residentes e deslocados (…) demonstra (…) um flagrante desrespeito pelos esforços desenvolvidos pelos mediadores” no sentido de um acordo de cessar-fogo e da libertação dos reféns.

“Embora (o Hamas) tenha anunciado a sua concordância com a última proposta apresentada pelos mediadores, (Israel) insiste em continuar a sua guerra bárbara”, acrescentou o movimento palestiniano em comunicado.

O exército israelita lançou uma campanha em Gaza em resposta ao ataque liderado pelo Hamas ao sul de Israel, a 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e outras 251 foram feitas reféns.


Pelo menos 62.122 pessoas foram mortas em Gaza desde então, de acordo com o Ministério da Saúde do território. Os números do ministério são citados pela ONU e outros como a fonte mais fiável de estatísticas disponíveis sobre as vítimas.


c/ agências