As viagens de avião, apesar de ser o meio de transporte com maiores emissões de gases com feito de estufa, são 26 vezes mais baratas do que as de comboio na Europa. Isto mostra que o sistema de transportes europeu é um total falhanço, denuncia a associação ambientalista internacional Greenpeace, num estudo feito em 142 rotas em 31 países, entre os quais Portugal.
Os voos de baixo “alimentam a injustiça climática e expõem o sistema de viagens falido da Europa”. As viagens aéreas são mais baratas para os passageiros do que as viagens de comboio em 54% das 109 rotas ferroviárias transfronteiriças analisadas, com distâncias inferiores a 1500 km, que podem ser percorridas razoavelmente tanto por via ferroviária como aérea.
As companhias aéreas de baixo custo dominam as escolhas “por meio de preços injustos”, diz o comunicado de imprensa da Greenpeace Reino Unido.
As viagens de avião emitem, em média, cinco vezes mais CO2 por passageiro-km do que os comboios
O pior é em França
Há grandes diferenças entre países. Apesar de serem bem conhecidos os seus seus comboios TGV, é em França que o transporte ferroviário transfronteiriço é mais caro, quando comparado com as viagens aéreas: 95% de todas as rotas são mais caras de comboio, ou pelo menos em seis de cada nove dias. Espanha vem a seguir, com 92% das viagens por comboio mais caras do que de avião, 90% no Reino Unido, e Itália 88%.
As companhias áreas não pagam taxas de querosene nem IVA quando vendem bilhetes para viagens internacionais, quando os operadores ferroviários têm de pagar taxas de energia, IVA e, em muitos países, por acesso às linhas férreas, sublinha a Greenpeace no relatório.
Porto mal servido
Em Portugal, foram analisadas apenas quatro rotas, incluindo duas nacionais. Das duas rotas que ligam Portugal e Espanha, Lisboa-Madrid foi considerada mais barata de comboio do que de avião, enquanto a outra, Porto-Madrid, é mais cara por ferrovia. Esta última implica a compra de dois bilhetes: Porto-Vigo e Vigo-Madrid.
A viagem Porto-Lisboa consegue ser na maior parte dos dias mais barata de comboio, mas Porto-Faro, apesar de ser uma rota interna, na maior parte dos dias é mais cara de comboio do que de avião.
Segundo o comunicado da Greenpeace, esta situação “não se deve à eficiência [comercial], mas sim à inacção política que permite que as companhias aéreas prejudiquem o transporte ferroviário, às custas do planeta”.
A Greenpeace considera existir na Europa “um sistema tributário que recompensa a existência de voos baratos que prejudicam o clima”. Em 2022, as emissões directas de gases com efeito de estufa da aviação representaram 3,8% a 4% do total de emissões na União Europeia e o que se projecta é que continuem a crescer, e podem triplicar até 2050.
O relatório da Greenpeace refere que companhias aéreas de baixo custo, como a Ryanair, Wizz Air, Vueling e EasyJet “dominam os céus europeus”, com tarifas de passagens frequentemente inferiores às taxas aeroportuárias.
“Estes preços existem apenas devido à isenção de impostos sobre combustíveis de aviação e porque as passagens aéreas internacionais são isentas de IVA. Em contrapartida, as operadoras ferroviárias frequentemente pagam o IVA integralmente, [suportam] o aumento dos custos de energia e as altas taxas de acesso às linhas férreas”, sublinha a Greenpeace.
Tendência de melhoria lenta
Viagens de comboio podem custar até 26 vezes mais do que os voos – o exemplo mais extremo encontrado pela Greenpeace é o da viagem de Barcelona a Londres, que custa apenas 14,99 libras (cerca de 17 euros) de avião, em comparação com 389 euros de comboio.
O custo ambiental é enorme, destaca a Greenpeace. As viagens de avião emitem, em média, cinco vezes mais CO2 por passageiro-km do que os comboios. Em comparação com ferrovias, que utilizam 100% de electricidade renovável, o impacto pode ser 80 vezes pior.
A Greenpeace admite terem existido melhorias desde 2023, data do primeiro estudo, mas refere que o sistema ainda funciona mal. Assim, a Greenpeace afirma que, desde 2023, a proporção de rotas onde os comboios são predominantemente mais baratos aumentou de 25% para 41%, graças a melhores conexões ferroviárias e à redução de ligações aéreas ultrabaratas via hubs como Londres ou Dublin. Mas a tendência é lenta, e continua a ser necessário modificar completamente o sistema de tarifas e preçário, sublinha. com Lusa