“Foi com pesar, que tomei conhecimento da morte de Nuno Portas, pai dos meus dois filhos. Apesar de há muitos anos termos seguido caminhos diferentes, compartilhamos uma parte importante da vida e, acima de tudo, a dádiva de sermos pais de pessoas incríveis. Neste momento, meu coração está especialmente voltado para o filho que me resta e para os nossos netos, que enfrentam, agora, a dor de uma perda profunda. Desejo que ele encontre paz, e que a memória do que foi bom siga viva no coração de quem o amou”.

Foi desta forma que Helena Sacadura Cabral, ex-mulher do arquiteto, e mãe de dois dos seus três filhos (Miguel e Paulo Portas), se despediu e anunciou a morte do arquiteto português na sua página de Instagram na manhã deste domingo, 27 de julho de 2025. E segundo se sabe de doença prolongada.

Nuno Rodrigo Martins Portas, pai de Miguel e Paulo Portas e de Catarina Portas, nascido na freguesia de São Bartolomeu, concelho de Vila Viçosa, faria 91 anos a 23 de setembro, era considerado um dos arquitetos e urbanistas mais visionários” do século XX e XXI, deixando um legado considerado incalculável na Arquitetura portuguesa e mundial.

“Deixou-nos hoje uma das personalidades mais visionárias e brilhantes da vida académica, cultural, política e social da resistência de inspiração católica dos anos 50, 60 e 70 do século passado: Nuno Portas”, refere Marcelo Rebelo de Sousa na homenagem que faz a Nuno Portas no site oficial da Presidência da República. “Foi notável como arquiteto, como professor, como urbanista, como animador de movimentos artísticos, culturais em geral, cívicos, políticos e sociais”, destacando ainda a sua atividade cívica: “Permaneceu assim desde a resistência à ditadura até às primeiras décadas da democracia. Sendo uma personalidade visceralmente solitária, dedicou-se à comunidade e deixou discípulos muito diversificados em todos os domínios em que foi excecional.”

Filho de um engenheiro, Leopoldo Barreiro Portas, de ascendência Galega, e de sua mulher Umbelina do Carmo das Neves Martins, Nuno Portas começou por estudar com padres jesuítas no Instituto Nun’Alvares, em Caldas da Saúde, Santo Tirso, tendo depois frequentado a Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa de onde saiu por a sua “monografia” de licenciatura ter sido considerado “demasiado teórica”. Transferiu-se então para a Escola Superior de Belas-Artes do Porto, onde acabou por se licenciar em 1959.

Segundo reza a sua biografia na Wikipédia, mesmo antes de concluir o curso, já era colaborador do arquiteto Nuno Teotónio Pereira, tendo em1958 iniciado também uma colaboração com a revista Arquitectura, na qual, anos mais tarde, viria a ser diretor, e na qual escreveu textos que lhe valeram o Prémio Gulbenkian de Crítica de Arte, em 1963. Em 1962, ingressou no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, onde coordenou o Núcleo de Pesquisa de Arquitectura, Habitação e Urbanismo, até 1974. Como professor, lecionou a disciplina de Projeto na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, entre 1965 e 1971.

Em 1983, transferiu-se, mais uma vez, para o Porto, para lecionar no curso da Faculdade de Arquitectura do Porto, tendo participado na sua fundação. Regressaria a esta faculdade já em finais da década de 1980, na qualidade de professor catedrático convidado, em 1989, assumiu a direção do centro de estudos e a responsabilidade pelo lançamento do curso de mestrado em Planeamento e Projeto do Ambiente Urbano.

Como professor é ainda conhecido por ter ensinado como convidado na Escola Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona, do Instituto de Urbanismo de Paris, da Universidade de Paris VIII, do Politécnico de Milão, da Universidade de Ferrara e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É membro da Comissão Científica Consultiva do Departamento de Arquitectura da Universidade do Minho.