Pelo menos seis pessoas morreram e 76 ficaram feridas na sequência de um ataque com explosivos nas imediações de uma base militar em Cali, no oeste da Colômbia, esta quinta-feira. O ataque, descrito como “narcoterrorista” pelo autarca da cidade, Alejandro Éder, terá envolvido um camião-bomba, que explodiu perto da base aérea militar Marco Fidel Suárez.
A localização da base, rodeada de bairros residenciais, ditou que o ataque da tarde de quinta-feira tivesse atingido várias habitações, lojas e dezenas de veículos nas imediações. As imagens que circulam nas redes sociais mostram várias pessoas no chão, a receberem cuidados médicos de emergência, assim como um camião em chamas e janelas estilhaçadas. O pânico tomou a rua, altamente transitada às 14h50 (hora local do ataque): “Por favor, chamem ambulâncias, há muitos feridos”, ouve-se um homem a dizer num dos vídeos partilhados.
A autarquia de Cali dá conta, por enquanto, de “oito menores e três adultos com mais de 60 anos” entre os feridos. Há pelo menos quatro pessoas em estado crítico.
Ainda que nenhum grupo tenha ainda reivindicado a autoria do ataque, o Presidente colombiano, Gustavo Petro — que viajou até Cali para responder à crise — aponta o dedo às “facções dirigidas por Ivan Mórdisco”, como é conhecido Néstor Gregorio Vera Fernández, que comanda o grupo Estado Maior Central (EMC). Alejandro Éder, por seu turno, aponta contra a coluna dirigida por Jaime Martínez, que também faz parte do mesmo grupo, o EMC. A imprensa colombiana fala já do pior acto terrorista numa capital regional desde 2019 perpetrado por grupos dissidentes.
Este atentado acontece apenas horas depois de a Frente 36 do EMC, um dos grupos dissidentes das já extintas guerrilhas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), ter atacado um helicóptero da polícia do departamento de Antioquia, no noroeste do país, causando a morte de 12 polícias.
Éder ordenou a “militarização” da localidade, a terceira maior cidade da Colômbia, e ofereceu uma recompensa de até 400 milhões de pesos (mais de 85 mil euros) a quem divulgar informação que facilite a detenção dos autores do ataque. Já o Ministério da Defesa colombiano oferece até 200 milhões de pesos (quase 43 mil euros) a quem tenha “informação que permita que nos antecipemos a qualquer atentado terrorista no país”, escreveu o ministro Pedro Sánchez no X.
Já foi detida pelo menos uma pessoa, suspeito de ser um dos autores materiais do crime, enquanto tentava fugir. É um homem, de 23 anos, que foi identificado como pertencente às estruturas do EMC pelo Presidente colombiano. A procuradoria local fala, no entanto, em dois homens detidos.
Petro descreve o atentado como uma “reacção terrorista” às derrotas infligidas pelo Exército colombiano a uma coluna da EMC – com mais de “250 mil munições recuperadas, cinco casas cheias de explosivos” e “200 partes de espingardas” apreendidos no departamento de Cauca, vizinho a Valle de Cauca, onde se situa Cali. “A reacção é esta que, como já sabem, acaba a afectar a população em massa”, descreve.
“Não atacaram a instalação militar, que é da Força Aeroespacial Colombiana, mas o golpe contra a população de Cali é indubitavelmente profundo, brutal, de terror”, lamentou desde Cali, onde participou num conselho de Segurança de urgência. Atirando contra os grupos “a que se chama mal como dissidências, porque são grupos de narcotráfico actualmente, com coordenação internacional”, diz que “estamos a enfrentar uma máfia internacional, com grupos armados aqui, não é uma confrontação política, usa a debilidade social da região”.
Olhando para o número total de mortos causados por ataques do EMC nos últimos dias, o Gabinete do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos na Colômbia condenou o “ataque indiscriminado com explosivos” e instou os grupos armados não estatais a “respeitarem os direitos humanos e o direito internacional humanitário (DIH), em particular, o princípio da distinção”, que obriga a diferenciar entre combatentes e população civil, para evitar ataques contra pessoas não envolvidas no conflito, e e as autoridades a “investigar, julgar e punir os responsáveis”.
O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) alertou que, em 2024, o conflito armado colombiano atingiu o seu ponto mais crítico desde o acordo de paz com as FARC em 2016, e que 2025 se perfila como o ano com as piores condições humanitárias da última década.