De um lado, a aldeia de Piódão, embrulhada num cenário verde; do outro, a mesma aldeia, mas desta vez o verde foi substituído pelos tons cinzentos que as chamas deixaram.
As imagens representam um cenário que por esta altura se replica em várias zonas do país. Estas são da autoria de Pedro Abranches Mateus, que a captou numa paragem em Piódão – a aldeia que este ano viu começar um incêndio que já se alastrou a Pampilhosa da Serra, Seia, Covilhã, Fundão e Castelo Branco – enquanto se dirigia ao Monte do Colcurinho.
“Quando cheguei a casa e estava a ver as fotografias, apareceu-me correspondência com fotos idênticas que eu já tinha. Apareceu-me a de 2020, praticamente do mesmo ângulo”, conta ao P3.
Pedro Abranches Mateus é bombeiro, mas a fotografia sempre fez parte da sua vida. Começou a interessar-se por influência do avô e dos tios, e gosta de fotografar “natureza e pessoas”: “Há muitas pessoas que não têm noção das dificuldades que se passam neste país”, aponta. “Tento mostrar os incêndios para quem não tem noção desta realidade e o quão grave é e que consequências tem. Principalmente no Portugal mais interior.”
Já tinha fotografado os incêndios em 2017 e, este ano, tem olhado (e captado) a Serra do Açor e Serra da Estrela – próximas da sua zona, Cabanas de Viriato. “Venho a estes sítios com regularidade. À Serra da Estrela venho quase todas as semanas a fotografar a natureza e as praias fluviais. Mas como sei que ardeu, vim agora ver como é que estava”, refere.
Este ano, esteve a combater fogos em Tondela e Viseu. “Os incêndios são cada vez mais violentos, mais rápidos e com uma dimensão maior. Mesmo havendo mais meios e tecnologia, existe um comportamento mais anómalo”, avalia. “No ano passado, tivemos um incêndio muito grande na minha zona, e passados dois ou três dias já estavam a fazer plantação de eucalipto. Aquilo estava minimamente limpo para pôr floresta autóctone, pelo menos em zonas estratégicas, para fazer corta-fogo, mas não, fica tudo ao abandono.”