“Em breve, as portas do inferno abrir-se-ão sobre as cabeças dos assassinos e violadores do Hamas em Gaza, até que aceitem as condições estabelecidas por Israel para o fim da guerra, principalmente a libertação de todos os reféns e o desarmamento” do movimento islâmico palestiniano, escreveu, em hebraico, o ministro israelita da Defesa, Israel Katz, no X.
אישרנו אתמול את תוכניות צה”ל להכרעת החמאס בעזה – באש עצימה, בפינוי תושבים ובתמרון.
בקרוב ייפתחו שערי הגיהנום על ראשם של מרצחי ואנסי החמאס בעזה – עד שיסכימו לתנאי ישראל לסיום המלחמה ובראשם שחרור כל החטופים והתפרקות מנשקם.
אם לא יסכימו – עזה בירת החמאס תהפוך לרפיח ובית חאנון. בדיוק…
— ישראל כ”ץ Israel Katz (@Israel_katz) August 22, 2025
“Se não aceitarem, a capital do Hamas passará a ser Rafah ou Beit Hanoun. Exatamente como prometi – assim será”, acrescentou, referindo-se a duas cidades da Faixa de Gaza amplamente arrasadas por Israel na guerra de quase dois anos com o Hamas.
O ministro reafirmou ainda as exigências de cessar-fogo impostas por Israel: libertação de todos os reféns e desarmamento completo do Hamas.O Hamas disse que libertaria os reféns em troca do
fim da guerra, mas rejeitou o desarmamento sem a criação de um Estado
palestino.
Numa declaração em vídeo durante uma visita à sede da Divisão de Gaza em Israel na noite de quinta-feira, Netanyahu disse ter “dado instruções para o início imediato das negociações para a libertação de todos os nossos reféns”.
“Vim aprovar os planos das Forças de Defesa de Israel (IDF) para assumir o controlo da Cidade de Gaza e derrotar o Hamas”, disse.
“Estas duas questões — derrotar o Hamas e libertar todos os nossos reféns — andam de mãos dadas”, acrescentou Netanyahu, sem fornecer detalhes sobre o que envolveria a próxima etapa das negociações.
Sem a citar explicitamente, respondia à mais recente proposta dos mediadores — Egito, Catar e Estados Unidos — para um cessar-fogo no território palestiniano, que se encontra no meio de uma situação humanitária catastrófica.
O Hamas, cujo ataque sem precedentes a Israel, a 7 de outubro de 2023, desencadeou a guerra, acordou na segunda-feira um projeto de acordo que prevê, segundo fontes palestinianas, uma trégua de 60 dias durante a qual os reféns ainda detidos em Gaza (49, incluindo 27 declarados mortos pelo exército israelita) seriam libertados em duas fases em troca da libertação de centenas de prisioneiros palestinianos.
Mas o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, terá aparentemente rejeitado a proposta, afirmando ter instruído o início das negociações para a libertação de todos os restantes reféns e o fim da guerra em Gaza em termos “aceitáveis para Israel”.
Israel acredita que apenas 20 dos 50 reféns ainda estão vivos após 22 meses de guerra.
Os meios de comunicação israelitas citaram uma autoridade israelita, afirmando que os negociadores serão enviados para novas negociações assim que o local for definido.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) alertaram as autoridades médicas e as organizações internacionais para que se preparem para a retirada planeada de toda a população de um milhão de habitantes da Cidade de Gaza para abrigos no Sul antes da chegada das tropas.
O Ministério da Saúde de Gaza, liderado pelo Hamas, disse que rejeita “qualquer medida que possa minar o que resta do sistema de saúde”.O Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de
Assuntos Humanitários (OCHA) alertou que o plano de Israel para expandir
as operações militares em Gaza teria consequências terríveis para os já
exaustos 2,4 milhões de palestinianos em Gaza.
Netanyahu anunciou a intenção de Israel de assumir o controlo de toda a Faixa de Gaza após o fracasso das negociações indiretas com o Hamas sobre um cessar-fogo e o acordo de libertação de reféns no mês passado.
O ataque de 7 de outubro resultou nas mortes de 1.219 pessoas do lado israelita, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.
A campanha de represália militar israelita na Faixa de Gaza fez pelo menos 62.192 mortos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza do governo do Hamas. O ministério, cujos números são considerados fiáveis pela ONU, não especifica o número de combatentes mortos.
Fome confirmada pela primeira vez em Gaza
FAO, UNICEF, PAM e OMS, agências das Nações Unidas, reiteram apelo ao cessar-fogo imediato e ao acesso humanitário irrestrito para conter as mortes por fome e subnutrição.
Mais de meio milhão de pessoas em Gaza estão presas na fome, marcada por inanição generalizada, miséria e mortes evitáveis, de acordo com uma nova análise da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC) divulgada esta sexta-feira.
Prevê-se que as condições de fome se propaguem da província de Gaza para
as províncias de Deir Al Balah e Khan Younis nas próximas semanas.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a UNICEF, o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) têm destacado coletiva e consistentemente a extrema urgência de uma resposta humanitária imediata e em grande escala, dada a escalada de mortes relacionadas com a fome, o rápido agravamento dos níveis de subnutrição aguda e a queda acentuada do consumo alimentar, com centenas de milhares de pessoas a passarem dias sem ter o que comer.
As agências reforçaram que a fome deve ser contida a todo o custo. Um cessar-fogo imediato e o fim do conflito são cruciais para permitir uma resposta humanitária desimpedida e em grande escala que possa salvar vidas.
Israel nega fome em Gaza e acusa ONU de ouvir “mentiras do Hamas”.
As agências estão também profundamente preocupadas com a ameaça de uma ofensiva militar intensificada na Cidade de Gaza e com qualquer escalada do conflito, pois isso teria consequências ainda mais devastadoras para os civis, onde já existem condições de fome. Muitas pessoas – especialmente crianças doentes e desnutridas, idosos e pessoas com deficiência – podem não conseguir evacuar.
A Classificação Integrada da Fase de Segurança
Alimentar (IPC) é uma iniciativa inovadora de 21 parceiros – composta
por agências da ONU e ONG internacionais – para melhorar a análise e a
tomada de decisões em matéria de segurança alimentar e nutrição.
Até ao final de setembro, mais de 640 mil pessoas enfrentarão níveis catastróficos de insegurança alimentar – classificados como Fase 5 do IPC – em toda a Faixa de Gaza.
“Mais 1,14 milhões de pessoas no território estarão em situação de Emergência (Fase 4 do IPC) e outras 396 mil pessoas em situação de Crise (Fase 3 do IPC). Estima-se que as condições no norte de Gaza sejam tão graves – ou piores – como as da Cidade de Gaza”, lê-se no relatório.
No entanto, dados limitados impediram uma classificação do IPC, realçando a necessidade urgente de acesso para avaliar e prestar assistência. Rafah não foi analisada devido a indícios de que a região está em grande parte despovoada.Classificar como fome significa que a categoria mais
extrema é acionada quando três limiares críticos – privação alimentar
extrema, subnutrição aguda e mortes relacionadas com a fome – são
ultrapassados. A análise mais recente afirma agora, com base em provas
razoáveis, que estes critérios foram cumpridos.
Quase dois anos de conflito, repetidas deslocações e severas restrições ao acesso humanitário, agravados por repetidas interrupções e impedimentos ao acesso a alimentos, água, cuidados de saúde, apoio à agricultura, pecuária e pesca, e o colapso dos sistemas de saúde, saneamento e mercado, levaram a população à fome.
O acesso a alimentos em Gaza continua severamente limitado. Em julho, o número de agregados familiares que reportam fome muito severa duplicou em todo o território em comparação com maio e mais do que triplicou na Cidade de Gaza. Mais de uma em cada três pessoas (39 por cento) indicou que passava dias seguidos sem comer, e os adultos saltam refeições regularmente para alimentar os seus filhos.
A subnutrição infantil em Gaza está a acelerar a um ritmo catastrófico. Só em julho, mais de 12 mil crianças foram identificadas como gravemente subnutridas – o número mensal mais elevado alguma vez registado e um aumento de seis vezes desde o início do ano. Quase uma em cada quatro destas crianças sofria de
subnutrição aguda grave (DAG), a forma mais letal, com impactos a curto e
longo prazo.
Desde a última Análise do IPC, em maio, o número de crianças que se prevê estarem em risco grave de morte por subnutrição até ao final de junho de 2026 triplicou de 14.100 para 43.400.
Da mesma forma, para as mulheres grávidas e lactantes, o número estimado de casos triplicou de 17 mil em maio para 55 mil mulheres que se prevê que sofram de níveis perigosos de subnutrição até meados de 2026. O impacto é visível: um em cada cinco bebés nasce prematuro ou com baixo peso.
A nova avaliação relata o agravamento mais grave desde que o IPC começou a analisar a insegurança alimentar aguda e a subnutrição aguda na Faixa de Gaza, e marca a primeira vez que uma situação de fome foi oficialmente confirmada na região do Médio Oriente.
Desde julho, os fornecimentos de alimentos e ajuda humanitária que chegam a Gaza aumentaram ligeiramente, mas permaneceram insuficientes, inconsistentes e inacessíveis em comparação com a necessidade.
Entretanto, aproximadamente 98 por cento das terras agrícolas do território estão danificadas ou inacessíveis – dizimando o sector agrícola e a produção local de alimentos – e nove em cada dez pessoas foram deslocadas em série das suas casas.
O dinheiro é extremamente escasso, as operações de ajuda humanitária continuam severamente interrompidas, com a maioria dos camiões da ONU saqueados no meio do crescente desespero.
Os preços dos alimentos são extremamente elevados e não há combustível e água suficientes para cozinhar, para além de medicamentos e material médico.
Também o sistema de saúde de Gaza se deteriorou gravemente, o acesso a água potável e a serviços de saneamento foi drasticamente reduzido, enquanto as infeções multirresistentes estão a aumentar e os níveis de morbilidade — incluindo diarreia, febre, infeções respiratórias agudas e cutâneas — são alarmantemente elevados entre as crianças.
Israel nega fome em Gaza
Israel rejeitou que haja fome em Gaza e acusa a ONU de se basear “nas mentiras do Hamas”, o grupo extremista palestiniano que controla a Faixa de Gaza.
“Não há fome em Gaza“, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita num comunicado.
O IPC “acaba de publicar um relatório feito à medida para a falsa campanha do Hamas”, disse a diplomacia de Israel num comunicado citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Para Israel, que acusou o IPC de ter ignorado as próprias regras e critérios, o relatório baseia-se “nas mentiras do Hamas, branqueadas por organizações com interesses particulares”.O Ministério acrescentou que nas últimas semanas, a
Faixa de Gaza “foi inundada por um afluxo maciço de ajuda em bens de
primeira necessidade, o que provocou uma forte queda de preços”.
“Todas as previsões feitas pelo IPC sobre Gaza durante a guerra revelaram-se infundadas e totalmente falsas“, salientou o ministério.
“Esta avaliação também será deitada no lixo dos documentos políticos desprezíveis”, acrescentou.
O Cogat, órgão do Ministério da Defesa israelita que supervisiona os assuntos civis nos Territórios Palestinos Ocupados, também denunciou o relatório do IPC como “falso e tendencioso”.
Num comunicado, o Cogat rejeitou “veementemente a afirmação de fome na Faixa de Gaza, e em particular na cidade de Gaza”.
“Os relatórios e avaliações (…) do IPC (…) não refletem a realidade no terreno”, disse o Cogat.
Para os militares israelitas, o relatório não leva em conta os esforços envidados nas últimas semanas para “estabilizar a situação humanitária na Faixa de Gaza”, nem as informações transmitida pelo Cogat aos autores do documento.
c/ agências