E há outra consequência positiva – medicamentos. Mas são mais as consequências negativas
O acordo comercial fechado entre a União Europeia e os Estados Unidos traz boas e más notícias para Portugal. Primeiro as boas: o setor da cortiça faz parte de um conjunto de produtos que vai ficar com taxas “zero ou próxima de zero”, assim como os produtos farmacêuticos genéricos. Neste último é preciso ter atenção à palavra “genéricos”. Contudo, como Portugal tem visto crescer as exportações para os EUA de produtos farmacêuticos (no geral), poderá sentir esse impacto positivo da isenção.
E agora as más notícias – que podiam ser notícias piores: se Trump acenava com uma tarifa de 30% para a generalidade das importações da UE, o acordo fecha esse valor nos 15%. Ou seja, continua a haver uma penalização para as empresas nacionais, nomeadamente para aquelas que encaram o mercado dos EUA como um destino importante. É o caso do setor dos vinhos, que chegou a apanhar um susto quando Trump chegou a falar em tarifas de 200%.
O acordo, que não deixa de ser alvo de críticas dentro da União Europeia, prevê uma taxa de 15% para todos os bens do bloco comunitário que sejam importados pelos Estados Unidos da América. Mas há exceções: os bens que já estão sujeitos a taxas setoriais, como o alumínio e o aço (50%) e os carros e componentes (27,5%). Mais à frente já explicamos como é que este último poderá evoluir.
Bruxelas admite que este é o “cenário mais favorável”, mas não desiste de continuar a negociar com Washington para conseguir melhores condições.
Para Portugal, os EUA são um mercado importante: são o nosso quarto maior cliente, com um peso de quase 7% do valor total das exportações de bens do país. São mais de 5.300 milhões de euros.
Presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimenta a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Turnberry, Escócia, a 27 de julho foto Andrew Harnik/Getty Images
O regime específico que poupa Portugal
Há também um conjunto de produtos que vão beneficiar de um regime específico com “taxa zero ou próxima de zero”. É o caso dos “recursos naturais indisponíveis, como a cortiça, aeronaves e peças, produtos farmacêuticos genéricos e seus ingredientes”.
Havia a expectativa de isenção na cortiça – que se concretizou. A Associação Portuguesa da Cortiça (Apcor) já veio enaltecer a “importância estratégica” desta decisão para Portugal. Este produto representa 4% de exportações portuguesas de bens para os Estados Unidos da América – foram mais de 200 milhões de euros, sobretudo em rolhas, no ano passado.
O impacto deste acordo na indústria farmacêutica portuguesa está dependente da palavra “genérico”. Entre as principais exportadoras, a Hikma e a Hovione acabam por beneficiar desta decisão, uma vez que, segundo as referências disponíveis online, há produção de genéricos em Portugal.
A indústria farmacêutica tem sido uma das estrelas das exportações portuguesas para os Estados Unidos da América, com crescimentos vincados nos últimos anos: valem praticamente 1.200 milhões de euros. Para ter uma comparação: as exportações de medicamentos para os EUA têm o mesmo peso que a totalidade das exportações de cortiça portuguesa para os vários mercados.
Setor do vinho já tinha demonstrado os seus receios com esta guerra comercial de Trump foto Pexels
Vinhos e carros: logo se vê se dá para melhorar
Nem a pressão de França e de Itália fez com que os vinhos e outras bebidas alcoólicas recebessem um tratamento especial. Vão ser alvo dos 15% padrão – o que não deixa de ser uma notícia menos má porque Trump chegou a falar em 200%.
Os Estados Unidos são o segundo maior cliente das exportações nacionais de vinho, à frente de França. No ano passado, os americanos compraram mais de 102 milhões de euros deste produto nacional.
Por sua vez, os direitos aduaneiros sobre carros e componentes produzidos na União Europeia vão manter-se nos 27,5%. E só baixam para os 15% – como divulgado por Bruxelas – quando os europeus eliminarem taxas sobre bens industriais e abrirem o mercado ao marisco e a outros bens agroalimentares americanos.
Portugal sente o impacto, neste caso, de uma forma indireta. Os carros produzidos em Portugal – na Volkswagen Autoeuropa e na Stellantis em Mangualde – têm como destino outros países europeus, que lidavam depois com os EUA para a venda. Ora, se o mercado americano se torna mais difícil para os clientes de Portugal, o nosso país também sente os efeitos. Destaque, naturalmente, para a Alemanha, país que fez muita pressão para que um acordo pudesse aliviar o setor.