A impactação fecal (IF) é uma condição comum em crianças com constipação funcional (CF), caracterizada pela presença de uma massa de fezes endurecidas no reto ou cólon, que não pode ser evacuada espontaneamente. Apesar da sua relevância clínica, não há consenso sobre sua definição nem um protocolo terapêutico padronizado. A IF pode levar a complicações significativas e comprometer a qualidade de vida da criança. Um estudo recentemente pulicado, teve como objetivo avaliar a eficácia e segurança das intervenções terapêuticas disponíveis para IF em crianças e identificar lacunas na literatura atual. 

Para tal fim, foi realizada uma revisão sistemática conforme as diretrizes PRISMA, incluindo ensaios clínicos randomizados (ECRs) sobre tratamentos farmacológicos e não farmacológicos para crianças de 0 a 18 anos com IF secundária à CF. Foram excluídas crianças com causas orgânicas de constipação. Os desfechos primários foram sucesso do tratamento, frequência de evacuação e desistências por eventos adversos. A qualidade das evidências foi avaliada pelo sistema GRADE. Dentre os resultados, destacam-se os seguintes:  

Dos 13.341 registros identificados, apenas 8 ECRs foram incluídos, totalizando 513 participantes. A maioria dos estudos utilizou os critérios de Roma III para diagnosticar CF, mas não houve uniformidade na definição de IF. As comparações entre os tratamentos mostraram: 

  • PEG vs Enema Retal: Evidência de baixa qualidade sugere que não há diferença significativa na eficácia, embora o enema possa aumentar a frequência de evacuação. 
  • PEG vs PEG com Picosulfato de Sódio: Evidência de qualidade moderada indica provável ausência de diferença na eficácia. 
  • Outras comparações (óleo de parafina oral vs retal, lactulose vs PEG, óleo mineral vs solução de lavagem oral, tratamento hospitalar vs domiciliar com PEG) apresentaram evidências de qualidade muito baixa, impossibilitando conclusões confiáveis. 

Não foram relatados eventos adversos graves ou óbitos. A heterogeneidade clínica e metodológica dos estudos limita a aplicabilidade dos resultados. 

Conclusão 

Nenhuma abordagem terapêutica demonstrou superioridade clara. A evidência disponível é limitada por heterogeneidade clínica, definições inconsistentes de IF e número reduzido de estudos. É urgente estabelecer uma definição consensual de IF e padronizar os desfechos clínicos para orientar futuras pesquisas e práticas clínicas. 

Embora o PEG e os enemas retais sejam amplamente utilizados, não há evidência robusta que favoreça um tratamento específico para IF em crianças. A escolha terapêutica deve considerar a tolerabilidade e aceitação pela criança e seus cuidadores. Profissionais de saúde devem estar atentos à necessidade de mais estudos de alta qualidade e à importância de uma abordagem individualizada.