Filas intermináveis, infiltrações de água na pirâmide de vidro e variações de temperatura que colocam em risco obras de arte são apenas alguns dos desafios que o Museu do Louvre enfrenta quase 40 anos após a sua última grande renovação.
A diretora do museu, Laurence des Cars, expôs estas preocupações numa carta ao Ministério da Cultura em janeiro, alertando para a necessidade urgente de obras no edifício, cujo núcleo tem 800 anos. Segundo des Cars, serviços essenciais para os visitantes, como alimentação, casas de banho e sinalização, degradaram-se face à afluência anual de mais de 8 milhões de pessoas — o dobro de décadas anteriores, como revela o ‘Financial Times’.
A carta coincidiu com anúncios do Presidente francês Emmanuel Macron, que uma semana depois revelou planos para uma renovação do Louvre ao longo da próxima década, com um orçamento estimado em 800 milhões de euros.
“Será um Louvre repensado, restaurado e ampliado, tornando-se o epicentro da história da arte para o nosso país e para o mundo”, afirmou Macron diante da obra-prima de Leonardo da Vinci, a Mona Lisa. O presidente prometeu uma nova entrada a leste para aliviar filas e uma galeria subterrânea dedicada ao famoso retrato.
O projeto, apelidado de “nova renascença do Louvre”, insere-se na tradição de presidentes franceses deixarem a sua marca no panorama cultural de Paris, como Georges Pompidou com o Centre Pompidou, Valéry Giscard d’Estaing com o Musée d’Orsay e François Mitterrand com a pirâmide de vidro do Louvre, inaugurada em 1989.
Macron indicou que a renovação será financiada por bilheteira, doações, merchandising e taxas do Louvre Abu Dhabi. No entanto, especialistas alertam que a receita do museu — 211 milhões de euros brutos e 19 milhões de euros líquidos em 2024 — dificilmente cobrirá os custos crescentes da construção.
Além da sobrelotação, problemas estruturais comprometem o funcionamento do museu. Em 2023, uma exposição foi cancelada devido a um cano estourado, enquanto sistemas de climatização irregulares deixam galerias escaldantes no verão e frias no inverno — obras que representarão metade do orçamento da renovação.
A sobrelotação é mais evidente diante da Mona Lisa, com cerca de 20 mil visitantes diários a tentarem fotografar o retrato na Salle des États. Sob o plano de Macron, a pintura será transferida para uma galeria subterrânea com capacidade ampliada e entrada separada, permitindo ao Louvre atingir a meta de 12 milhões de visitantes anuais.
Outra medida polémica: visitantes fora da União Europeia pagarão mais pelo bilhete, numa tentativa de aumentar receita face à redução do apoio estatal, que representou 68% do orçamento do Louvre no último ano.