Sebastião Bugalho prometeu no Congresso estar junto dos autarcas e está a cumprir: em 10 meses, já participou em mais de 30 eventos partidários, quase sempre como convidado principal, e incluindo muitas apresentações de candidatos autárquicas. Esta “rota da carne assada” — que lhe permite ir ganhando proximidade junto do aparelho do PSD profundo e das bases — é importante para ambições futuras de liderança do partido, cenário que o próprio nunca enjeitou. Ainda assim, ao Observador, Sebastião Bugalho resume as participações a estar a “ajudar o partido” e nega estar a fazê-lo com olho em ambições de uma futura liderança: “Estou nem aí“.

Sebastião Bugalho — que muitas vezes foi comparado a Paulo Portas ao longo do seu percurso — utiliza a mesma expressão que o antigo líder centrista usou em 2015 numa das primeiras vezes que lhe perguntaram sobre Presidenciais. Portas sempre quis muito Belém, mas utilizou a expressão eternizada no pop latino de Luka para transmitir que não era, então, o momento dele. Sobre essa, para já extemporânea ambição, Sebastião Bugalho remete para uma entrevista dada ao Observador no último Congresso do PSD onde — questionado sobre se existia uma fila geracional para a sucessão de Montenegro com Moedas, Leitão Amaro e Hugo Soares à sua frente — o eurodeputado atirou:”Quem tirar essa senha, corre o risco de esperar muito tempo [porque] é cedo para formar essa fila.” Mas acrescenta que não se sente “nem atrás nem à frente de ninguém, mas ao lado dessa geração”. Já lá iremos.

Afinal, Bugalho transformou água em vinho e deu o passo que faltava para “outros milagres”

Ao mesmo tempo que nunca descartou o sonho da liderança do PSD, o eurodeputado afasta uma estratégia pessoal no mergulho que tem feito nas estruturas do partido nos últimos meses, lembrando que a presença é sempre “articulada com a secretaria-geral”. Ou seja: com Hugo Soares. E, por afinidade, com Luís Montenegro. “Sinto que me foi dada uma grande oportunidade por parte do partido de estar junto das pessoas e do próprio partido. Foi um gesto de confiança. E pelo qual tenho gratidão”, diz Bugalho ao Observador. “Já tinha sentido um grande calor humano durante a campanha eleitoral. Volto a sentir a vontade de fazer coisas junto dos nossos. Apaixonei-me pelo PSD“, acrescenta.

No Congresso do PSD, a 19 de outubro de 2024, Bugalho disponibilizou-se então a ir fazer campanha com os autarcas sociais-democratas pelo país fora. “Contem comigo”, disse. Era uma win-win situation: por um lado, podia dizer, com propriedade, que estava a retribuir o apoio dado por esses mesmos autarcas nas Europeias (e mostrar gratidão); por outro, podia continuar a conhecer o PSD pelo país fora (o que lhe dá popularidade junto do aparelho do PSD e lhe permite criar rede interna).

Bugalho não perdeu tempo. Pouco depois do Congresso participou num jantar de Natal em Vila Pouca de Aguiar, organizado pela concelhia e distrital de Vila Real, num pavilhão que tinha tanta gente como um comício de campanha. Ainda no inverno de 2024, participaria também do jantar de natal das estruturas do PSD/Santarém em Tomar.

Já em 2025, Sebastião Bugalho — ou porque as concelhias lhe pedem ou porque a própria direção do partido o indica — tem participado em apresentações de candidatos autárquicos. No distrito de Santarém, esteve na apresentação do candidato de Torres Novas, do candidato de Ferreira do Zêzere e, embora a apresentação do candidato pela capital de distrito tenha tido Hugo Soares como co-protagonista, Bugalho foi o convidado da apresentação da lista de vereadores e à Assembleia Municipal de Santarém.

A proximidade de Sebastião Bugalho com Rui Ventura, líder da distrital da Guarda, também levou a que o eurodeputado tivesse várias presenças por essas bandas. Nesse distrito, fez a apresentação de três candidatos a presidente da autarquia: Pinhel, Vila Nova de Foz Côa e Gouveia.

No distrito de Aveiro, Sebastião Bugalho esteve na apresentação do candidato de Albergaria-a-Velha, onde há a particularidade do candidato do PSD, em coligação com a IL, ir contra o CDS. Sem surpresa, Mário Amorim Lopes, da IL, foi outro dos presentes na sessão. Em Estarreja, Bugalho também foi figura central na apresentação da candidata do PSD. No mesmo distrito, em Arouca, Bugalho foi a uma conferência da concelhia ainda numa fase de pré-candidatura para estar ao lado do candidato independente que junta PSD, CDS, IL e PAN. Esteve ainda na apresentação do candidato na Mealhada, numa deslocação que, naturalmente, envolveu um almoço de leitão. Já no distrito de Viseu, Bugalho apresentou o candidato em Penalva do Castelo e em Resende. Participou ainda num evento sobre a Europa organizado pela JSD/Viseu, não deixando de cumprimentar o presidente da câmara Fernando Ruas.

As presenças de Sebastião Bugalho também foram notadas no distrito de Coimbra. O caso mais caricato aconteceu na Lousã quando a luz foi abaixo durante a apresentação do candidato. Vítor Carvalho, o candidato, até brincou: “Na última vez que faltou a luz [numa referência ao apagão em período de legislativas], ganhámos as eleições”. Mais recentemente, Bugalho passou ainda em Tábua na quarta-feira e foi convidado para um evento que decorre este fim-de-semana em Mira. Ainda no mesmo distrito, Bugalho esteve na tomada de posse da JSD de Coimbra. No caso de Leiria, Bugalho só fez a apresentação do candidato em Figueiró dos Vinhos, mas participou noutros eventos como a tomada de posse do presidente da concelhia do PSD/Pombal, João Antunes dos Santos, que decorreu num quartel de bombeiros.

No distrito do Porto, embora em alguns casos acompanhado, Sebastião Bugalho também participou em vários eventos. Desde logo, claro, em apresentações de candidatos: em Paços de Ferreira, partilhando o palco com Pedro Duarte; em Paredes, onde o candidato é  Mário Rocha, proprietário da Antarte, que tinha na primeira fila figuras públicas de outras áreas como Carlos Magno ou Jorge Gabriel. Também ao lado de Pedro Duarte, Bugalho participou igualmente na tomada de posse do núcleo do PSD no Centro Histórico do Porto, quando o ex-ministro ainda não tinha anunciado que seria candidato à invicta. Já no distrito de Braga, não apresentou nenhum candidato, mas participou numa conferência sobre Europa ao lado de Mário Passos, presidente de câmara de Famalicão, poderosa concelhia do distrito. No distrito de Viana do Castelo, também participou num encontro com jovens e apresentação da candidata de Caminha.

Mais a sul também houve presenças, embora menos. Bugalho esteve na apresentação do candidato a Mafra (distrito de Lisboa), José Bizarro Duarte, partner da PWC, e também em Sesimbra, no distrito de Setúbal. Em algumas das sessões, atestou o Observador junto de alguns dos locais por onde passou, o eurodeputado chegou a ouvir graças de militantes a sugerirem que no futuro chegará lá. Lá, a líder do partido.

Sebastião Bugalho deve a Montenegro o seu maior momento de afirmação no maior partido português: ser o cabeça de lista de umas eleições nacionais de círculo único (as Europeias). A entrada no PSD — mesmo contra aquilo que tinha sido anunciado pelo próprio — também foi promovida, no palco do Congresso, pelo atual líder.

Os próximos de Bugalho — embora o próprio não queira falar sobre o assunto — sabem as razões pelas quais o eurodeputado não entender ser uma hipótese no imediato. É que, explica uma fonte próxima do eurodeputado, “todos os líderes do PSD que tiveram sucesso e conseguiram alcançar os seus objetivos passaram por um processo de demarcação de quem estava incumbente. Foi o caso. de Montenegro com Rio, Passos com Ferreira Leite, Durão com Marcelo. E Bugalho nunca faria isso. Nunca iria contra Montenegro”. O que não significa, porém, que afaste suceder-lhe quando o atual primeiro-ministro decidir ‘meter os papéis para a reforma’.