Numa publicação de 16 de agosto no Facebook, sinalizada para verificação de factos pelo Polígrafo, destaca-se que “a principal causa dos fogos em Portugal é o fator humano”, na medida em que “a maior parte dos incêndios, mais de 90%, têm origem em ações humanas“.
“Seja por incendiarismo (fogo posto intencional) ou por negligência (como queimas de lixo ou queimadas descontroladas)”, especifica-se.
O autor do texto conclui depois que “embora a percentagem exata varie a cada ano, estudos indicam que o incendiarismo e as queimadas representam, em conjunto, mais de 40% das causas apuradas”.
É verdade que “mais de 90% dos fogos em Portugal têm origem em ações humanas”?
Não. De acordo com o “3.º Relatório Provisório de Incêndios Rurais de 2025“, produzido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), com dados (ainda provisórios) referentes ao período de 1 de janeiro a 31 de julho de 2025, do total de 4.758 incêndios rurais verificados no referido período, 2.895 foram investigados e têm o processo de averiguação de causas concluído – 61% do número total de incêndios, responsáveis por 33% da área total ardida.
Desses 2.895 incêndios, a investigação permitiu a atribuição de uma causa para 2.231 incêndios – 77% dos incêndios investigados, responsáveis por 27% da área total ardida.
Embora a categoria de “incendiarismo – indivíduos imputáveis” tenha a percentagem mais elevada, de 25%, mesmo somando todas as categaorias de “uso do fogo”, com os vários tipos de queimadas, entre outras causas resultantes de negligência, não chega a “mais de 90%” do total.
Desde logo porque 18% correspondem a “outras causas apuradas“, além de 2% referentes a “queda de raios”, 8% no âmbito de “transportes e comunicações” (o que engloba, por exemplo, linhas de transporte de eletricidade como as que estiveram na origem do incêndio de 2017 em Pedrógão Grande) e 8% de reacendimentos.
Há uma percentagem significativa de incêndios causados por “ações humanas” – com intencionalidade ou meramente negligência -, mas não corresponde a “mais de 90%”. No presente ano de 2025, até ao momento, fixa-se em cerca de 64%.
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Avaliação do Polígrafo: