A Mercedes decidiu adquirir motores à BMW para motorizar os seus carros, porque são melhores do que os seus para veículos electrificados, de acordo com a publicação alemã Manager Magazin. Audi, BMW e Mercedes sempre se digladiaram para liderar entre as marcas premium germânicas, pelo que esta decisão é estranha em termos estratégicos e discutível quanto à mensagem que passa para o mercado.

Segundo a publicação alemã, mesmo com descontos massivos, a Mercedes não conseguiu evitar uma quebra de 55% nas vendas de veículos eléctricos nos EUA durante a primeira metade de 2025, nomeadamente nos EQS, EQE e EQB. Na China, outro grande mercado para este construtor europeu, as vendas baixaram 10% no primeiro trimestre de 2025, depois de cair 7% em 2024, sendo que considerando apenas os modelos eléctricos viram a procura diminuir 24% no segundo trimestre de 2025. Já na BMW e na Audi — o único destes três rivais que oferece eléctricos com plataformas específicas, para maximizar as vantagens da tecnologia — os dados são distintos, com ambas as marcas a aumentarem as vendas de eléctricos globalmente 32% no início de 2025.

Este motor BMW vai em breve equipar uma série de modelos da Mercedes, entre híbridos plug-in e full hybrid

A abraços com uns modelos eléctricos que já venderam melhor, a Mercedes optou por um remédio de curto prazo que consiste em reforçar a oferta de modelos electrificados, sobretudo full hybrid. Porém e ainda de acordo com a publicação Manager Magazin, muito popular entre os administradores das marcas alemãs, os motores de quatro cilindros da Mercedes servem para os motores mild hybrid, mas não são os melhores para associar a sistemas fullhybrid ou híbridos plug-in, o que levou o construtor de Estugarda a comprar os motores tetracilíndricos à BMW.

Não é a primeira vez que a Mercedes recorre a motores de outros fabricantes, como as unidades 1.5 turbodiesel e a 1.3 sobrealimentada a gasolina da Renault, que montou nos Classe A, B e C, além do CLA, GLA e GLB. Mas esta era uma situação distinta, uma vez que não só a Renault não é um rival directo da marca alemã, como havia um acordo de colaboração entre ambas, que envolvia até o fornecimento de pequenos furgões. Também não é a primeira vez que a BMW vende os seus motores a terceiros, mas, mais uma vez, não a concorrentes directos. Foi o caso da Land Rover, para utilizar nos Range Rover, e é ainda o caso da Toyota que monta no Supra um motor alemão, ainda que também exista uma colaboração a uma escala maior, uma vez que a BMW cedeu o chassi e a mecânica do Z4 para conceber o Supra, enquanto os japoneses cederam aos germânicos a sua tecnologia das células de combustível a hidrogénio.

O mercado global está a ficar complicado para as marcas de luxo germânicas, que até aqui têm imposto a sua reputação, tecnologia e qualidade de construção para atrair clientes dispostos a pagar um preço superior em todos os mercados onde estão presentes. Mas, repentinamente, a entrada em cena dos veículos eléctricos retirou-lhes a vantagem tecnológica e a concorrência chinesa — incentivada pelo Governo local — começou gradualmente a reduzir-lhes o volume de vendas, algo preocupante quando muitos deles vendiam na China cerca de 30% da sua produção global.