A autoestima de milhares de pessoas é diretamente influenciada por problemas dentários que, em muitos casos, levam ao isolamento social. Em idades mais avançadas, quando a socialização se torna ainda mais indispensável, a falta de cuidado odontológico pode determinar, inclusive, se a pessoa terá vontade de sair de casa.


Luciana Tedesco, dentista especialista em periodontia, relata que uma paciente passou a se isolar por vergonha.


— Ela estava com a autoestima comprometida pelos dentes. Antes tinha uma vida social ativa, mas deixou de conviver com as amigas por causa do sorriso — conta.


Com o envelhecimento da população, cuidados odontológicos com doenças crônicas serão cada vez mais essenciais.


A modalidade de atendimento domiciliar, voltada a pacientes com dificuldade de locomoção ou outras condições que os impeçam de ir ao consultório, é desconhecida por parte da população, segundo Luciana. Mas pode ajudar no cuidado de idosos e evitar complicações.




Sem tratamento adequado, doenças crônicas podem surgir e, com o avanço delas, levar à perda parcial ou total dos dentes. Conheça as condições mais comuns entre idosos:


Doenças periodontais

As principais são a gengivite e a periodontite. Muitas vezes indolores, alguns pacientes só percebem a doença em estágio avançado.


A gengivite é marcada por sangramento, inchaço e vermelhidão na gengiva. É reversível e não há perda de inserção — a estrutura que mantém o dente fixo ao osso não é comprometida. Na periodontite, uma evolução da gengivite, a distância entre a gengiva e o dente é ainda maior, com risco de perda óssea e deixando o dente mole.


— Ambas refletem desequilíbrios metabólicos e imunológicos do organismo— explica Dany Moura, cirurgiã-dentista.


O tratamento inclui raspagem subgengival, controle de placa, laserterapia, antibióticos tópicos e, em casos mais avançados, cirurgia periodontal.


Cáries radiculares

As cáries radiculares são mais comuns em idosos. A diferença em relação às cáries comuns (coronárias) é que atingem a raiz, a parte mais vulnerável do dente.


Alguns sintomas são descoloração próxima à raiz, cavidades visíveis, fraturas no dente, sensibilidade e, em casos graves e dor.


Segundo Dany Moura, as principais causas para o problema são boca seca, dieta rica em carboidratos, dificuldade motora para higienização, mucosa mais fina e comprometimento do sistema imune bucal.


— O tratamento em idosos é diferente, pois o biotipo, a fragilidade óssea e a resposta inflamatória de cada paciente devem ser considerados — afirma Dany.


Pode ser feito o selamento da parte interna, restauração com resina ou cerâmica ou até a remoção do dente — sendo substituído por implante ou prótese.


Edentulismo

É caracterizado pela perda parcial ou total dos dentes. Ocorre por diversos fatores, como doença periodontal avançada, cáries extensas, bruxismo não tratado, traumas e falta de prevenção.


— É evitável quando há cuidado contínuo. A perda dentária é reflexo de um organismo inflamado e desnutrido — destaca Dany.


Alguns sinais importantes a serem observados são: mau hálito constante, retração gengival, dentes moles, abscessos recorrentes, perda óssea e falhas em próteses já existentes. Além disso, inflamações e sangramentos também são sinais de que o organismo não está funcionando corretamente.


— A falta de dentes impacta na postura e na saúde emocional do paciente. Além disso, prejudica a fonética, a estética e a autoestima. A ausência de dentes altera a dinâmica muscular da face, causa envelhecimento precoce e acelera a reabsorção óssea do terço inferior da face — explica.


Xerostomia

A xerostomia, ou boca seca, é, na verdade, um sintoma e não uma doença, podendo acarretar problemas futuros.


Segundo Luciana, a diminuição da quantidade e a mudança na qualidade da saliva deixam o idoso mais suscetível às cáries, que, por consequência, podem levar a outras complicações.


O sintoma pode surgir como efeito colateral do uso de medicamentos, mas também pode estar associado ao diabetes e a doenças autoimunes. A especialista recomenda a investigação clínica para determinar o tratamento mais adequado.


Câncer bucal

Ao notar feridas que não cicatrizam, manchas vermelhas ou brancas persistentes na língua e nas mucosas, dor ao engolir, nódulos endurecidos, dores localizadas, sangramentos espontâneos e alterações na mobilidade da língua ou mandíbula, procure atenção imediata.


Os principais fatores de risco, segundo as especialistas, são o tabagismo, consumo de álcool, má alimentação, baixa imunidade, HPV, próteses mal adaptadas, traumas, exposição solar, infecções crônicas e a falta de exames periódicos.


No cuidado com idosos que não conseguem se comunicar, a tarefa de identificação é mais complexa, mas Luciana destaca sinais importantes para serem observados:


— Se fica mais irritado, recusa o alimento, coloca a mão na boca. É importante quem convive com o paciente estar atento.


Em casos iniciais, uma cirurgia pode resolver e curar. Nos mais avançados, terapias também são necessárias.


— O diagnóstico precoce aumenta as chances de cura, com mínimo impacto funcional e estético — destaca Dany.


Prevenção

Seja para a própria prevenção ou na atenção a idosos, acamados ou não, há medidas indispensáveis para manter a saúde bucal. As dentistas recomendam a visitas periódicas ao dentista, higiene oral adequada, uso de escovas de dente macias, fio dental, enxaguante bucal em alguns casos e pastas de dente com flúor.


Segundo Luciana, outra opção é o Waterpik, um irrigador dental que usa jatos de água para remover restos de comida e placas bacterianas.


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