Luís Filipe Vieira (LFV) assumiu a sua candidatura à presidência do Benfica. Nas várias aparições públicas têm sido muitas as críticas que apontou à gestão de Rui Costa, mas será que os dois são assim tão diferentes?

O período da presidência de Rui Costa à frente do Benfica tem sido marcado (desportivamente) por três fatores muito óbvios: vendas consideráveis, investimentos avultados e resultados abaixo das expectativas.

Em quatro anos como presidente, Rui Costa venceu um Campeonato, uma Taça da Liga e uma Supertaça. Adicionalmente tem um terceiro e dois segundos lugares na principal competição nacional. O insucesso desportivo é o melhor argumento que todos os candidatos à presidência do Benfica têm a seu favor, até porque é aquele que os adeptos melhor compreendem.

No caso de Luís Filipe Vieira será que este argumento faz sentido? Será que faz sentido referir que com ele no Benfica o clube encarnado estaria melhor desportivamente? Para podermos tirar uma conclusão devemos analisar a performance de LFV na presidência do Benfica. Seria injusto fazer esta comparação com base no primeiro mandato de LFV à frente dos encarnados, até porque em 2003 as condições financeiras e a estabilidade que o clube apresentava eram muito diferentes da que atravessava quando Rui Costa tomou posse.

Assim, para podermos fazer uma comparação justa deveremos encontrar um período em que as condições sejam semelhantes. Os últimos quatro anos da presidência de Vieira no Benfica enquadram-se no contexto que Rui Costa herdou quando assumiu a presidência do clube. Se contextualizarmos, os últimos quatro anos de LFV à frente do Benfica coincidiram com a invasão de Alcochete que fez com que o Sporting tivesse ficado mais frágil, e com o FC Porto a passar por problemas de fair-play financeiro.

Já o Benfica, não só estava equilibrado financeiramente com vendas muito altas de jogadores (ex. João Félix em 2019/2020), como concretizava investimentos muito elevados na equipa, como o demonstra o forte investimento de €115 M na época 2019/2020.

Com um contexto similar, com vantagem sobre os rivais, com vendas e investimentos consideráveis, quais foram os resultados desportivos da gestão de LFV? Em quatro anos venceu um Campeonato e duas Supertaças. Adicionalmente, assim como Rui Costa, tem um terceiro e dois segundos lugares na Liga, ou seja, precisamente os mesmos resultados que Rui Costa conseguiu no mesmo período de tempo!

Tendo em conta estes factos, no capítulo desportivo, farão sentido as críticas que LFV tem vindo a fazer a Rui Costa? Ou será que Rui Costa apenas se limitou a seguir a trajetória que LFV tinha iniciado quatro anos antes? Será que o critério das contratações foi assim tão diferente nos mandatos de Rui Costa e LFV? Neste caso os factos falam por si…

Uma das ideias que LFV tem vindo a passar é que, quando se demitiu, o clube tinha uma situação financeira muito melhor do que atualmente com uma dívida financeira líquida de €80 M. Tal não é verdade.

Para isto basta analisarmos o Relatórios e Contas 2020/2021 e compará-lo com o de 2023/2024. De uma forma simples, o Benfica em 2020/2021 tinha um valor total de empréstimos de €145 M. A estes devemos juntar a cedência de créditos (que também devem ser considerados como dívida financeira) que totalizavam €90 M. Estas cedências de créditos corresponderam à antecipação de 50% dos direitos de TV até à época 25/26. No total a exposição à dívida era de €145 M+€90 M o que perfazia €235 M.

Para chegarmos à dívida líquida temos de retirar o valor que estava em caixa e que na altura era de €44 M. Assim a dívida líquida que LFV deixou foi de €191 M. Contudo, será importante referir que quando LFV se demitiu estava em curso um empréstimo obrigacionista de €35 M. Ora se juntarmos estes €35 M, a dívida líquida do Benfica na data em que LFV se demitiu era de €226 M.

Ao analisarmos o último Relatório e Contas anual (2023/2024) percebemos que a dívida atual é muito semelhante: €222 M em empréstimos, aos quais devemos acrescentar €42 M em cedência de créditos, o que perfaz um valor de €264 M. A este valor retiramos o valor que consta em caixa (€20 M) de forma a obtermos o valor global de €244 M de dívida líquida.

Os factos comprovam que a exposição à dívida no mandato de Rui Costa se manteve estável. Contudo, devo reconhecer que LFV tem razão quando refere que hoje em dia existe um descontrolo muito maior na gestão financeira do Benfica. Exemplo disto mesmo é a forma como a rubrica fornecedores passou de €109 M (2020/21) para €187 M (2023/24).

Importa referir que esta rubrica corresponde, praticamente na sua globalidade, a dívidas a clubes, ou seja, às contratações de jogadores, o que demonstra a trajetória que o clube encarnado tem vindo a seguir. Através de factos, também na parte financeira, comprovamos que a forma de gerir de Rui Costa e LFV é similar, com a diferença de que no mandato de Rui Costa o descontrolo financeiro aumentou.

São muitos os pontos que os ligam. Uma grande percentagem da equipa de Rui Costa foram pessoas escolhidas por LFV.

Os dois evitam fazer uma auditoria às contas que dissipe fantasmas, traga transparência e mais credibilidade. Afinal o que os separa?

Parece-me óbvio que aquilo que os coloca em lados opostos foi a falta de solidariedade que Rui Costa demonstrou com LFV. O primeiro sinal foi o momento da tomada de posse em pleno relvado onde Rui Costa por nenhuma vez tocou no nome de LFV. Posteriormente e ao longo de todo o seu mandato a ideia que passa é que LFV é persona non grata.

Os próximos dois meses serão, sem dúvida, muito interessantes até para percebermos as estratégias de campanha de cada um deles. Uma coisa é certa, apesar das críticas que LFV tem vindo a fazer a Rui Costa, o percurso de Rui Costa no Benfica é o seguimento da trajetória que LFV estava a imprimir.

Até no caso do apoio a Pedro Proença as ações dos dois são similares: em 2019 LFV deixou andar (segundo palavras suas) e apoiou Proença; em 2025 Rui Costa deixou andar e apoiou Proença!

A sua contratação é o maior investimento da história do Villarreal. Um passo importante para o jovem português com os olhos no Mundial que irá decorrer nos EUA.

O início de temporada do clube açoriano não está a corresponder às expectativas.