Nita dos Alfaiates, como é carinhosamente apelidada Mariana Rita, cresceu num monte alentejano chamado Monte dos Alfaiates. Não sabia ler, nem escrever, mas foi com ela que a neta, Rita Orvalho, passou quase toda a infância após ter perdido o pai, que morreu um pouco antes do seu nascimento.

A avó é agora a inspiração da primeira florista da Comporta, que abriu portas a 17 de maio. A Monitta nasce do desejo de “cuidar das pessoas” que por ali passam, segundo a responsável, que quer homenagear não só “as mulheres fortes da sua vida”, mas também as suas raízes.

“As pessoas compram flores umas às outras como uma forma de afeto. Queria um espaço onde o podem fazer sem sentirem que são apenas mais um cliente. Ninguém que por aqui passa nos é indiferente”, acrescenta Rita, atualmente com 29 anos. 

A ideia da loja surge também por por influência do pai de Rita, que tinha uma enorme paixão por plantas. “A primeira coisa que fazia, quando chegava a casa, era ver como estavam tomar conta delas. Tinha uma varanda cheia de bonsais.”

O próprio nome do espaço faz referência ao Monte dos Alfaiates, misturado com a alcunha da avó Mariana Rita, que continua bastante presente na vida da neta. A quem não a conhece, Rita Orvalho apresenta-se sempre, orgulhosamente, como a neta da Nita dos Alfaiates.

Abrir uma florista nunca esteve nos planos de Rita Orvalho. Formou-se em comunicação empresarial e mudou-se para a Comporta há cerca de seis anos, um pouco antes da pandemia. Foi então que surgiu uma oportunidade na área da restauração, altura me que surge o gosto pela hospitalidade.

Mais tarde, teve a primeira experiência na área de hotelaria e, confessa, aprendeu tudo o que sabe sobre o mundo dos negócios. O que não mudou foi este cuidado pelas pessoas. “Quando recebo um cliente, penso que terá imensas coisas na cabeça e que sai para desanuviar e estar bem. Quero contribuir para isso.”

Agora fá-lo através dos ramos expostos num espaço de 80 metros quadrados, que em tempos pertenceu à antiga padaria do Gomes. Rita mantém o armário onde estava exposto o pão e admite que, com exceção do balcão, optou por adaptar a estrutura com o mínimo de alterações possível. 

No interior, trabalha tanto com flores frescas como secas, consoante a estação. Gosta ainda de trabalhar com espécies exóticas – como a sul africana Leucospermum, a sua favorita – que são importadas de várias partes do mundo. Segundo a responsável, é o que tem marcado a diferença entre quem a visita.

“A melhor parte das flores exóticas é que duram imenso tempo neste ambiente mais quente. É uma mais-valia na altura do verão”, refere.

Todas as propostas são entregues por um fornecedor do Montijo, conhecida por ser a capital das flores. E os clientes habituais nunca se aborrecem: há novidades todas as semanas com espécies diferentes e inesperadas, combinadas com outras peças únicas e produzidas na região.

Nas prateleiras, há potes de Marrocos, muita cerâmica do Alentejo, mais precisamente das zonas de Estremoz e do Redondo, bem como loiças da avó Nita. O plano, revela Rita, passa ainda por trazer novas parcerias e alargar a oferta às plantas que o pai tanto adorava. 

Este verão, lançou também a novidade dos ramos que vêm envoltos em tecido reutilizável e que pode ser pensado “como um presente duradouro”. “Estava a pensar no Monte dos Alfaiates e a pensar como poderia trazer a parte dos tecidos. É uma alternativa sustentável, porque tenho clientes que guardam o tecido em casa para fazer outras coisas.”

No meio desta aventura, Mariana Rita vai acompanhando, passo a passo, o projeto da neta. “Tem um mercado ao pé de casa dela, onde vai regularmente, e falou deste projeto à senhora que lá trabalha”, conta. “Foram as duas ver a loja à Internet e agora diz-me que vai lá todas as semanas para poder acompanhar tudo o que vou publicando. Liga-me sempre, por vezes emocionada, mas está radiante.”

Nita mora sozinha em Évora, por sua escolha, mas já se tornou uma estrela entre as clientes da Monitta após a neta ter decidido entrevistá-la, em vídeo, para lhe contar que ia sair do seu trabalho para arriscar neste desafio. “Estava nervosa, mas a reação foi ótima”, nota.

Tímida, a avó recorda no vídeo a vida no Monte dos Alfaiates. “Era a brincar. Nem à escola a avó chegou a ir então levava todos os dias a brincar lá no monte. Umas vezes com a tia, Maria Antónia, outras vezes com o tio, o meu irmão. Os três levávamos a vida airada a brincar no monte, porque outra coisa não tínhamos.”

Em breve, a Monitta vai passar a ter uma subscrição de entregas de flores, de 15 em 15 dias, e está a começar a trabalhar já no Natal. A sazonalidade é um grande desafio para a marca e, assim que terminar o verão, inicia-se um novo capítulo.

Rita está também focada nas parcerias com hotéis, fazendo algumas entregas na zona. O objetivo é  alcançar ainda mais espaços e, eventualmente, entrar no mundo dos casamentos e das festas. “Já tive pessoas a contactar com pedidos para o próximo ano”, conclui.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua do Comércio
    7580-642 Comporta
  • HORÁRIO
  • Terça-feira a sábado das 10h às 19h
  • Domingo das 10h às 13h