O médico e neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis alertou sobre os riscos da inteligência artificial (IA) durante entrevista ao Podcast ONU News. Segundo o especialista, a tecnologia não é capaz de pensar como seres humanos, mas pode reduzir a inteligência humana, transformando pessoas em “zumbis digitais”.

Nicolelis afirma que a inteligência é uma propriedade dos organismos biológicos, resultado da seleção natural, e não pode ser reproduzida por máquinas. Ele criticou o termo “inteligência artificial”, destacando que os sistemas digitais dependem do trabalho de milhões de pessoas para operar e não têm autonomia cognitiva.

Redução da inteligência humana e impactos digitais

O neurocientista explicou que, ao adaptar-se ao ambiente digital, o cérebro humano pode diminuir sua capacidade cognitiva, alinhando-se à lógica das máquinas.

“Se nosso mundo se transformar totalmente digital, o cérebro humano vai se adaptar a ele, reduzindo a inteligência ao nível dos sistemas digitais”, alertou Nicolelis.

Além disso, ele destacou que o uso abusivo de telas e de agentes de IA altera funções cognitivas e aumenta a propagação de informações falsas, incluindo artigos científicos fabricados, o que compromete a confiabilidade da produção acadêmica.

Trabalho precário e violação de propriedade intelectual

Nicolelis apontou ainda que a criação de modelos de IA gigantescos depende de trabalho precário e exploração de dados sem consentimento. Ele citou que seus livros foram usados para treinar algoritmos sem autorização, exemplificando a falta de regulamentação na proteção da propriedade intelectual.

O neurocientista comparou a situação à Revolução Industrial, em que trabalhadores eram explorados, e ressaltou a necessidade de regulação urgente do trabalho humano empregado na filtragem e classificação de dados digitais.

Terapias neurológicas e interfaces cérebro-máquina

Pioneiro no estudo de redes neurais biológicas, Nicolelis desenvolveu interfaces cérebro-máquina que permitem a reabilitação de pacientes com lesões medulares e o tratamento de doenças neurológicas como Parkinson, epilepsia e Alzheimer.

Seu projeto “Treat One Billion” visa criar uma rede global de institutos e hospitais para aplicar terapias não invasivas e escaláveis, alcançando até 1 bilhão de pessoas sem alternativas terapêuticas eficientes. O tratamento é baseado na conexão do cérebro com dispositivos eletrônicos, computacionais ou mecânicos, sem implantes e sem efeitos colaterais.

Regulamentação e desafios globais

Nicolelis defendeu que a ONU e órgãos reguladores concentrem esforços em três áreas: trabalho precário de classificação de dados, uso não autorizado de propriedade intelectual e disseminação de informações falsas. Ele alertou para os efeitos da IA em setores como jornalismo, ciência e educação, que podem sofrer impactos negativos sem regras claras e fiscalização.

*Com informações da ONU News.

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