Várias empresas de correios da Europa decidiram suspender o envio de encomendas para os Estados Unidos depois de o Governo norte-americano ter anunciado que vai começar a cobrar taxas aduaneiras para todas as encomendas que entram no país. Justificando-se com o facto de terem pouco tempo para instalar os processos de cobrança das taxas e de falta de informação sobre as novas taxas, as empresas resolveram deixar de enviar encomendas por agora.

Até aqui as pequenas encomendas de valor abaixo de 800 dólares (682,50 euros) beneficiavam da isenção de taxas aduaneiras ao entrar nos Estados Unidos, segundo o princípio de de minimis non curat lex (a lei não se ocupa de coisas mínimas). A Administração Trump anunciou que mudará isso a partir de 29 de Agosto, tendo sido dadas ordens aos Serviços Aduaneiros dos EUA para começarem a cobrar “todas as taxas aplicáveis” nas encomendas de baixo valor.

“Os pormenores relativos a esta matéria ainda não foram esclarecidos pelas autoridades alfandegárias dos EUA e não foram desenvolvidas soluções informáticas que as empresas de correio possam utilizar”, justificou a empresa pública de correios norueguesa Posten Bring. “Os serviços postais europeus têm um prazo extremamente curto para se prepararem, especialmente porque estes procedimentos ainda exigem inúmeros esclarecimentos”, afirmou, em comunicado, a empresa de correio francesa LaPoste.

O sector das encomendas online, que deu um salto gigantesco durante a pandemia de covid-19, fez aumentar o número de pequenos volumes a entrar nos EUA de 134 milhões em 2015 para mais de 1,36 mil milhões o ano passado, de acordo com os números divulgados pela Casa Branca. E ajudou plataformas de comércio digital como as chinesas Shein e a Temu a transformarem-se em gigantes do comércio mundial: a Shein teve um volume de negócios de 38 mil milhões de dólares (32,4 mil milhões de euros) o ano passado, enquanto a Temu chegou aos 70,8 mil milhões de dólares (60,4 mil milhões de dólares).


“Esta medida terá um impacto significativo em todas as empresas de correio a nível mundial, bem como nos seus clientes que enviam remessas através das redes postais para o Serviço Postal dos Estados Unidos”, disse a PostEurop, a associação que representa os serviços postais europeus, citada pelo Financial Times.

A empresa de correios pública austríaca, na quinta-feira, e a alemã DHL, que detém a Deutsche Post, esta sexta-feira, foram das últimas a juntar-se a esta suspensão de serviços por parte dos correios europeus. Os correios britânicos (Royal Mail) vão suspender o serviço de encomendas para os EUA a partir desta terça-feira.

“A razão para as restrições, que esperamos sejam temporárias, são os novos processos de entrega postal implementados pelas autoridades norte-americanas”, afirmou a DHL em comunicado. “Questões importantes ainda não foram respondidas, incluindo quem terá de pagar as tarifas e de que forma.”

A 15 de Agosto, as autoridades norte-americanas esclareceram que a partir do dia 29, todas as encomendas sem excepção enviadas para os EUA terão de pagar a taxa alfandegária imposta às importações do país de onde a encomenda foi enviada.

A decisão estende-se a outros serviços postais no resto do mundo. Os correios da Coreia do Sul informaram que deixarão de aceitar encomendas, os de Singapura suspenderam os serviços a partir desta segunda-feira até ao dia 29, enquanto os australianos vão deixar de fazer o “trânsito” de correspondência de outros países com destino aos EUA.