Michael Pereira, lusodescendente de 31 anos, natural de Zermatt, na Suíça, foi coroado Mr Gay Europe 2025 na Praça Dam, durante o Pride Amsterdam. A vitória do médico é também um motivo de orgulho para as comunidades portuguesas espalhadas pela Europa.
Entre 12 concorrentes de vários países, Michael destacou-se com a sua campanha “Safe to Grow”, que promove espaços seguros e o bem-estar da juventude LGBTQIA+.
“Vencer o Mr Gay Europe foi, honestamente, algo que ainda estou a processar. Nunca me vi como “o tipo que ganha concursos”, mas de repente estava ali, com uma faixa ao peito e uma grande responsabilidade nos ombros. Para mim, este título é muito mais do que uma coroa. É uma oportunidade real de levar temas urgentes para o centro das conversas, especialmente sobre a infância queer”, confessou, em entrevista ao jornal “BOM DIA”.
O pediatra explicou a origem da sua campanha: “A ideia nasceu das feridas que trago comigo e da esperança de que outras crianças não tenham de passar pelo mesmo. Como pediatra, vejo de perto o impacto do medo, da vergonha e do silêncio nas vidas de crianças queer. Mas também sei o poder transformador de um olhar empático, de uma palavra certa, de um ambiente onde se pode simplesmente ser.”
Medicina e ativismo unidos
Sobre a apresentação do projeto ao júri, Michael reconhece que partilhar a sua história foi como uma catarse. “Falar de coisas tão pessoais, com o pequeno Michael ainda a tremer cá dentro, foi difícil… mas também libertador. Senti que, naquele momento, curei uma parte de mim. E percebi que a minha história, com todas as suas dores, pode ser ponte e não prisão”, confessa.
Questionado sobre os desafios da comunidade LGBTQIA+ na Europa, aponta “a invisibilidade das infâncias queer. Fala-se muito de direitos LGBTQIA+, mas ainda há muito tabu quando o tema são as crianças. Há quem ache que somos “demais” por querer proteger crianças LGBTQIA+ quando, na verdade, ainda fazemos de menos. E isso mata. Literalmente. É aí que quero insistir: ninguém nasce para viver com medo de ser quem é.”
O médico sublinha o quanto é importante manter os pés na terra, mantendo-se fiel às raízes. “Tento não me perder na imagem e lembrar-me sempre do porquê de estar aqui. A minha história não é perfeita, mas é real e se ela puder tocar uma pessoa só, já valeu a pena. A responsabilidade é grande, sim, mas também é um privilégio. E um privilégio exige ação”, acrescenta, ainda na entrevista ao “BOM DIA”.
Por isso, a ligação a Portugal é muito importante para Michael Pereira: “Portugal é a minha origem. É a língua que embala as minhas emoções, é a comida da minha infância, é a casa dos meus avós. Cresci na Suíça, mas os meus valores, a minha força emocional e até a minha forma de cuidar dos outros vêm da cultura portuguesa. Sinto que trago dois mundos em mim e isso é uma riqueza enorme.”