Elementos da Guarda Nacional da Carolina do Sul e do Ohio foram vistos na noite de domingo a realizar patrulhas armadas nas imediações da maior estação ferroviária e na zona ribeirinha de Washington D.C., a capital norte-americana, numa nova intensificação da presença militar nas ruas da cidade. A acção foi ordenada pelo secretário da Defesa, Pete Hegseth. Um porta-voz da Guarda Nacional, citado pelo New York Times, indica que o uso de armas de fogo só acontecerá em caso de “ameaça iminente de morte ou agressão grave”.

Mais de 2200 militares dos contingentes da Guarda Nacional do Distrito de Columbia, Carolina do Sul, Luisiana, Mississípi, Ohio e Virgínia Ocidental estão neste momento em missão na capital depois de, a 11 de Agosto, o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter ordenado a sua mobilização para conter uma alegada vaga de criminalidade na cidade que as estatísticas oficiais e as autoridades de D.C. desmentem. Cerca de 80% dos residentes da capital inquiridos pelo Washington Post opõe-se à presença das tropas nas ruas e uma vasta maioria considera a metrópole segura.

Os soldados, bem como inúmeros elementos de agências policiais federais como o FBI, também mobilizados para a capital, têm passado os últimos dias a responder a pequenas ocorrências, a auxiliar na detenção de imigrantes em situação irregular, ou simplesmente a patrulhar as ruas da capital, sem um propósito imediatamente evidente. Ao contrário dos agentes policiais federais, os militares não estão autorizados a realizar detenções em solo norte-americano, salvo num conjunto limitado de circunstâncias, pelo que a sua presença, sem armas de fogo, era até aqui vista sobretudo como simbólica e dissuasora. O cenário muda agora.

Chicago e Baltimore na calha

Washington D.C. é a segunda grande cidade norte-americana palco de intervenção federal após Los Angeles, mas poderá não ser a última. Segundo a Fox News, cerca de 1700 elementos da Guarda Nacional de 19 estados predominantemente republicanos estarão a preparar-se para serem mobilizados para Chicago — que, tal como D.C. e L.A., é uma cidade governada pelo Partido Democrata (em Washington, Trump alcançou apenas 6% dos votos nas presidenciais de 2024), com mayors negros e uma significativa população não branca.

As autoridades de Chicago também rejeitam a intervenção federal. O governador democrata do Illinois, J.B. Pritzker, repetiu durante o fim-de-semana uma acusação feita na Califórnia e em D.C., a de que Trump está a “fabricar uma crise, a politizar os americanos que servem de uniforme, e a cometer abuso de poder para desviar as atenções da dor que está a causar às famílias trabalhadoras”. O presidente da câmara local, Brandon Johnson, promete avançar para os tribunais para travar a eventual mobilização de tropas federais, um expediente que não foi bem-sucedido em Washington e em Los Angeles.

Na noite de domingo, e através da rede social Truth Social, Trump juntou outro potencial alvo à sua lista de cidades intervencionadas: Baltimore, a maior metrópole do estado de Maryland, perto da capital Washington, e outro bastião do Partido Democrata e da América negra. A ameaça foi feita em resposta a um convite recente do governador democrata de Maryland, Wes Moore, que desafiou Trump a visitar a cidade para se inteirar da estratégia local contra o crime e o problema das pessoas sem-abrigo.

Moore indica reduções percentuais de dois dígitos nos índices de criminalidade violenta após um pico, comum à generalidade das metrópoles norte-americanas, durante a pandemia. “Se há algo que Maryland provou nos últimos dois anos é que podemos ter uma boa performance sem sermos performativos”, declarou o governador democrata, citado pela CBS, criticando o policiamento por militares na vizinha Washington. Trump respondeu com a ameaça de mobilização de forças federais e com a eventual suspensão do financiamento à reconstrução da ponte Francis Scott Key, destruída em Março de 2024 pela colisão de um cargueiro.