Uma pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) está buscando novas formas de tratamento e prevenção para a epilepsia, além de outras doenças debilitantes, como Alzheimer e AVC (acidente vascular cerebral).
Como em alguns casos não há possibilidade da realização de cirurgia, o Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia (Brainn, na sigla em inglês) da Unicamp dedicou uma das linhas de pesquisa às epilepsias para encontrar soluções.
O estudo é coordenado por Fernando Cendes, professor do Departamento de Neurologia e coordenador do Braiin, com um Cepid (Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão) e financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Como é feita a pesquisa?
Na pesquisa, o instituto coleta, organiza e realiza análise de uma série de dados clínicos, genéticos e de imagem dos pacientes atendidos pelo HC (Hospital de Clínicas) da Unicamp, que possuem ou não a doença.
Dessa forma, eles reúnem informações que possam auxiliar as questões que ainda estão em aberto da condição. Com a pesquisa, eles esperam compreender melhor sobre o quadro epilético para que seja possível desenvolver tecnologias de apoio aos pacientes, como, por exemplo, algoritmos capazes de prever as crises com apenas minutos de antecedência, além de terapias mais individualizadas.
Cendes também lidera estudos com neuroimagem, usando três linhas principais de pesquisa: dados sobre ressonância magnética e eletroencefalograma para identificar biomarcadores da doença.
A primeira linha de pesquisa busca determinar e quantificar as alterações estruturais pela epilepsia no cérebro. Já a segunda procura identificar conexões em diferentes áreas do órgão, relacionando os encontrados com outros dados dos pacientes, como, por exemplo, resposta ao tratamento, complicações e prognóstico.
Em uma das pesquisas, é investigada a relação entre as alterações nas imagens e as comorbidades em pessoas com a doença. Nela, foi percebida que e pacientes adultos e adolescentes, entre as condições mais comuns, são encontrados distúrbios mentais, como transtornos de humor, depressão e ansiedade, além de transtornos psicóticos e do impulso.
De acordo com informações do Jornal da Unicamp, embora parte dessas adversidades possa ser uma reação do paciente em razão de sua condição, estudos já demonstraram que a “biologia também desempenha um papel relevante nesses casos”.
Um dos desafios encontrado pela pesquisa foi de descobrir por que enquanto algumas pessoas reagem bem aos medicamentos, outras não.
“No caso das displasias corticais focais, uma malformação ocorrida durante o desenvolvimento do feto que representa a principal causa de epilepsia focal grave em crianças, o empecilho está na quantidade de medicação necessária para interromper as crises. Ao contrário da maior parte das epilepsias, apenas 10% dos pacientes com essa displasia respondem bem aos fármacos porque essas medicações provocam mudanças nas atividades neuronais. Grandes quantidades de remédio poderiam causar efeitos adversos graves, não sendo tolerados pelos pacientes”, relata a publicação.
A médica geneticista Iscia Lopes-Cendes, do Brainn e da FCM, relatou os desafios no tratamento de epilepsias de difícil controle, especialmente quando as lesões cerebrais estão próximas a áreas essenciais como fala, visão e audição, o que limita a remoção cirúrgica completa.
No Laboratório de Genética Molecular, ela lidera pesquisas sobre as bases genéticas dessas epilepsias. Avanços nas epilepsias monogênicas já identificaram mutações em canais iônicos, mas epilepsias poligênicas e multifatoriais ainda são difíceis de entender devido à sutileza das variações genéticas.
Um marco importante foi alcançado em 2022, com a criação do primeiro modelo de displasia cortical focal em minicérebros humanos, permitindo observar anomalias celulares inéditas. O LGM mantém um banco de tecidos que possibilitou, entre outras colaborações, a participação em um estudo publicado na Nature com dados genéticos de cerca de 80 mil pessoas.
Para lidar com a diversidade genética brasileira, foi criada a plataforma Bipmed, reunindo dados genômicos e clínicos de brasileiros para apoiar o desenvolvimento de tratamentos personalizados. Em 2024, o Brainn publicou o primeiro Atlas Celular da Displasia Cortical Focal, usando sequenciamento de célula única para mapear mais de 60 mil células. Essa tecnologia também foi aplicada em estudos sobre epilepsia do lobo temporal mesial, com resultados esperados até o fim de 2025. Esses esforços visam ampliar o entendimento da regulação gênica em pacientes brasileiros e desenvolver terapias mais eficazes.
Nem todos podem realizar a cirurgia
De acordo com o médico neurologista Fernando Cendes, docente na FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp, dos pacientes com epilepsia de lobo temporal que são operados, 70% ficam livres de crises para o resto da vida. Em outros casos, o período sem problemas com a doença pode ser de 20 ou 30 anos.
Ao jornal da universidade, o médico também informou que os 30% têm a qualidade de vida melhorada por conta da cirurgia e, consequentemente, as crises ficam menos frequentes. Apesar disso, para que o procedimento seja realizado, é necessário identificar o foco da doença e, dessa forma, garantir que não cause ainda mais déficits para o paciente. Por conta disso, alguns casos não podem ser tratados através de cirurgia.
Quer ficar ligado em tudo o que rola em Campinas? Siga o perfil do acidade on Campinas no Instagram e também no Facebook.
Receba notícias do acidade on Campinas no WhatsApp e fique por dentro de tudo! Basta acessar o link aqui!
Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Campinas e região por meio do WhatsApp do acidade on Campinas: (19) 97159-8294.
LEIA TAMBÉM NO ACIDADE ON PIRACICABA
Carreta carregada com 30 toneladas de madeira tomba em rodovia de Santa Bárbara
Carro atropela duas pessoas em acostamento e motorista foge sem prestar socorro