O projeto da Yamaha para relançar a sua competitividade no MotoGP a partir de 2025 prometia ser ambicioso, estratégico e bem estruturado. A aquisição da equipa Prima Pramac, combinada com a contratação de dois pilotos experientes — Jack Miller e Miguel Oliveira — parecia ser o primeiro passo para uma reconstrução sólida, baseada em conhecimento técnico e capacidade de desenvolvimento. No entanto, menos de um ano após o anúncio deste novo ciclo, a Yamaha é novamente alvo de críticas pela forma como tem gerido as suas fileiras, deixando uma sensação de desorganização e falta de visão a médio prazo.

A confirmação da chegada de Toprak Razgatlioglu ao MotoGP em 2026, proveniente do Campeonato do mundo de Superbike, reacende a controvérsia. O piloto turco, que é muito talentoso, mas ainda carece de experiência na classe rainha, ocupará uma das vagas na equipa Pramac Yamaha — aparentemente em detrimento de Miguel Oliveira. Esta decisão levanta sérias questões sobre a consistência do plano inicialmente delineado pela fábrica de Iwata.

Oliveira, que aceitou o desafio de regressar a uma moto competitiva e contribuir ativamente para o desenvolvimento da nova M1, era visto como uma peça fundamental no projeto de relançamento da Yamaha. A sua experiência com várias marcas (KTM, Aprilia e agora Yamaha), bem como a sua reconhecida capacidade de adaptação e leitura dos aspetos técnicos, eram trunfos importantes para a evolução da moto. No entanto, após apenas uma temporada, o piloto português parece estar prestes a ser descartado em favor de uma mudança de direção abrupta e de curto prazo.

Ao mesmo tempo, a permanência de Jack Miller na estrutura — renovada até 2026 — reforça ainda mais a natureza inconsistente das decisões da Yamaha. Ambos os pilotos chegaram ao projeto com objetivos claros de estabilidade e progressão conjunta, mas apenas um deles parece beneficiar desta continuidade. Substituir Oliveira por Razgatlioglu, apesar do inegável talento do piloto turco, representa uma aposta de alto risco numa fase ainda prematura do desenvolvimento da nova moto.

A questão não é apenas a qualidade dos pilotos envolvidos, mas a falta de continuidade e a gestão instável que a Yamaha tem demonstrado nos últimos anos. A contratação de Toprak poderia ter sido feita em paralelo com um plano de integração progressivo, sem sacrificar o projeto estabelecido. Em vez disso, a mudança sugere um padrão familiar na estrutura japonesa: decisões reativas, pressão interna e falta de uma linha técnica clara.

Fonte: Gold & Goose / Red Bull Content Pool //

Com as limitações dos regulamentos atuais, desenvolver uma moto vencedora requer consistência, trabalho em equipa e confiança entre pilotos e engenheiros. Quebrar este ciclo a meio do processo pode comprometer os ganhos obtidos e atrasar ainda mais o regresso da Yamaha à frente da grelha.

Para Miguel Oliveira, o cenário abre incertezas: pode ir para o Campeonato do mundo de Superbike, como já se especula, ou ser integrado numa função de testes e desenvolvimento. Mas, independentemente do futuro do piloto português, permanece a sensação de que a Yamaha perdeu uma oportunidade de consolidar um projeto estruturado e coeso, preferindo repetir os erros que a têm mantido longe do topo do MotoGP nos últimos anos.