Donald Trump garantiu na segunda-feira que a sua Administração não tem planos para reduzir o número de vistos emitidos a cidadãos oriundos da China para estudarem em estabelecimentos de ensino nos Estados Unidos, e revelou mesmo que o objectivo é aumentar o número actual de alunos chineses para 600 mil; ou seja, mais do dobro.

Numa altura em que China e EUA se encontram em negociações comerciais, em fase de trégua, e em conversações para a realização de um encontro de alto nível entre o Presidente norte-americano e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, esta sugestão de Trump contraria posições anteriores da Casa Branca, que olha para o gigante asiático como o principal adversário económico e geopolítico dos EUA a curto e médio prazo, e de alguns estados governados pelo Partido Republicano.

Em Maio, Marco Rubio, secretário de Estado, disse que os EUA iam começar a revogar “de forma agressiva” vistos emitidos a cidadãos de nacionalidade chinesa, especialmente os que têm “ligações ao Partido Comunista Chinês ou que estudam em áreas críticas”.


O South China Morning Post, jornal de Hong Kong, lembra ainda que foram recentemente propostas leis nos congressos estaduais do Texas e do Ohio destinadas a limitar ou mesmo proibir o número de estudantes chineses em universidades públicas, no âmbito de um esforço contra a “influência externa” naqueles estabelecimentos de ensino.

Actualmente, há cerca de 270 mil estudantes chineses em universidades norte-americanas. Com mais de 331 mil, a Índia supera a China no país mais representado no ensino superior nos EUA.

“Oiço tantas histórias de que não vamos permitir que os estudantes [chineses] (…) venham para cá. Vamos permitir que os estudantes deles venham. É muito importante. [Serão] 600 mil estudantes. Vamos entender-nos com a China”, disse Trump aos jornalistas reunidos na segunda-feira na Casa Branca, citado pela Fox News.

Questionado sobre um possível encontro com Xi, o Presidente dos EUA mostrou-se optimista, dizendo que espera que aconteça até ao final do ano – fala-se em Outubro. Trump acrescentou que a relação com a China é “muito importante” e argumentou que é “muito melhor do ponto de vista económico” do que era com o seu antecessor, Joe Biden. “Estamos a receber muito dinheiro da China por causa das tarifas e de outras questões”, atirou.


Horas antes destas declarações, a embaixada da República Popular da China em Washington D.C. recomendava aos seus estudantes nos EUA que fossem “cautelosos na escolha” de Houston, no Texas, como destino, denunciando casos de “interrogatório e de assédio injustificados” a cidadãos chineses, levados a cabo pelas autoridades fronteiriças no Aeroporto Intercontinental George Bush.

Na semana passada, sem especificar se os casos ocorreram naquele aeroporto, Mao Ning, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, já tinha dito que estudantes chineses foram levados para “quartos pequenos e escuros” e inspeccionados pela guarda fronteiriça norte-americana durante “mais de 70 horas”.

Também na semana passada, o Departamento de Estado dos EUA revelava que mais de 6000 estudantes estrangeiros viram os seus vistos serem revogados desde que Donald Trump tomou posse, em Janeiro.