Conceitos como inteligência artificial, dispositivo inteligente e ciberespaço são pautas recorrentes da atualidade, mas em 1982, quando “Tron: Uma Odisseia Eletrônia” estreou nos cinemas, a realidade era outra. O título se mostrou à frente do tempo ao levar esses temas para as telonas mais de quatro décadas atrás e deu início a uma franquia de sucesso nos cinemas.
O primeiro filme conta a história de Kevin Flynn (Jeff Bridges), programador de games que decide invadir os arquivos da empresa que o demitiu para provar a autoria de projetos que foram roubados por um ex-colega. Porém, ao tentar hackear a companhia, ele acaba literalmente transportado para dentro do sistema, onde precisa sobreviver a jogos mortais e unir forças com programas para lutar contra o Programa Master Control, uma IA maligna que domina o ambiente, chamado “Grade”.
Essa história é uma criação do animador Steven Lisberger, que ficou encantado com a ideia de unir modernidade e tradição. Ao jogar o videogame Pong, o cineasta imaginou uma versão virtual das arenas de gladiadores antigas, como a da lenda de Espártaco. Para realizar em tela o mundo que recebe essas competições, o diretor e sua equipe fincaram um pé na informática disponível no mundo real e o outro na fantasia.
Enquanto a computação foi representada com o embasamento teórico da consultoria deAlan Kay, um dos pioneiros da área, os visuais ganharam vida nas artes conceituais do designer futuristaSyd Mead e do renomado quadrinista francês Jean Giraud, o Moebius. Uma equipe cujo trabalho serviu para vislumbrar um espaço cibernético que sequer existia.
A produção recorreu à computação gráfica (CGI) para criar o visual da Grade. Apesar de não ser o primeiro filme a utilizar esse tipo de efeito especial, o longa foi pioneiro ao trazê-lo em grande escala, incluindo cenários, veículos e até em personagens, com o vilão Programa Master Control sendo considerado o primeiro personagem de computação gráfica dotado de atuação.
O CGI do longa foi produzido por quatro firmas de computação, dotadas de equipamentos e técnicas próprias, que deram à equipe o desafio de dominar uma tecnologia que dava os primeiros passos. Em entrevista para a edição especial de 20 anos do filme, o animador Bill Kroyer lembrou a dificuldade em traduzir as ideias do cinema para os programadores: “Eles nunca haviam feito um filme e nós nunca havíamos usado computadores”.
Apesar de ser a mais alta tecnologia disponível na época, os computadores eram muito limitados. Em entrevista à Variety, o diretor Steven Lisberger afirmou que “a forma como fizemos a computação gráfica é inconcebível para as pessoas hoje. Não havia movimento, computadores só conseguiam gerar quadros individuais. Não havia uma forma de colocá-los no filme digitalmente, então você colocava uma câmera em frente à tela do computador e filmava quadro a quadro”.
Para realizar esse mundo escuro iluminado apenas por neon, a produção utilizou uma técnica chamada “backlit animation”, em que os atores foram filmados em figurinos e cenários completamente preto e branco. Um processo trouxe um desafio extra aos intérpretes, que precisavam imaginar tudo o que havia em volta.
Após as gravações, cada quadro do filme foi separado em camadas que ganharam tratamento isolado, momento em que receberam cores, objetos criados por computador e tudo mais. Um processo trabalhoso cujo resultado aproximou os realizadores ao personagem principal da história.
O trabalho tecnológico colocou o filme na vanguarda do uso de computação gráfica em Hollywood. De lá para cá, “Tron” se tornou uma franquia. Duas sequências foram lançadas desde então e mais uma chega aos cinemas ainda este ano, “Tron: Ares“.
Assista ao trailer de “Tron: Ares”