Qual é o livro que marcou em você a passagem entre simplesmente decifrar palavras e realmente se descobrir como leitor? Essa pergunta nos provoca a revisitar memórias, a reconhecer que em algum momento da vida houve um encontro especial com uma obra capaz de transformar nossa relação com a leitura. Nem sempre esse encontro acontece na infância, e talvez justamente por isso seja tão marcante quando chega.

Eu mesma não cresci rodeada de livros. Em minha casa, na infância, eles simplesmente não existiam como presença cotidiana. A leitura não fazia parte do meu universo familiar. Foi apenas na adolescência que esse cenário mudou — e mudou de forma definitiva. Aos 13 anos, recebi de presente um exemplar do livro “Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach.

Aquele livro, aparentemente simples, abriu em mim uma fresta para o infinito. A história da gaivota que ousa ir além do que todos acreditavam possível me fez questionar meus próprios limites. Não se tratava apenas de acompanhar uma narrativa; tratava-se de sentir que as palavras tinham poder de me deslocar, de me inspirar e de me fazer sonhar. Ali percebi que a leitura não era uma obrigação escolar ou um passatempo distante, mas um espaço de liberdade, de voo e de autodescoberta. 

Desde então, nunca mais li da mesma forma. Deixei de ser uma adolescente que “não tinha livros” para me tornar uma leitora que encontra nos livros asas para ver além.

E você, leitor que está aqui agora: qual foi o livro que mudou o seu olhar sobre a leitura? Qual obra transformou o simples ato de ler em experiência de vida?

Sobre o livro: o nascimento de Fernão Capelo Gaivota não foi um processo linear, mas uma trajetória marcada por recusa, insistência e, de certo modo, pelo acaso. O que parecia apenas um manuscrito sem destino tornou-se, após encontrar a editora certa, um fenômeno editorial inesperado. Publicado em 1970, o livro rapidamente ultrapassou a barreira inicial das poucas milhares de cópias, conquistando leitores de diferentes idades e culturas. Mais do que um sucesso de vendas, ele se consolidou como obra de referência espiritual e existencial, capaz de dialogar com questões universais como liberdade, limite e transcendência. Essa força simbólica, que teve origem em uma inspiração quase mística, continuou viva décadas depois, quando Bach retomou a parte omitida da narrativa e lançou, em 2014, a edição completa — reafirmando o caráter atemporal de sua criação.

Obras principais de Richard Bach

  • Estranho ao Solo (Stranger to the Ground) – 1963
  • Biplano (Biplane) – 1966
  • Nada por Acaso (Nothing by Chance) – 1969
  • Fernão Capelo Gaivota (Jonathan Livingston Seagull) – 1970
  • Um Dom de Asas (A Gift of Wings) – 1974
  • Ilusões: As Aventuras de um Messias Indeciso (Illusions: The Adventures of a Reluctant Messiah) – 1977
  • Não Existe Lugar Distante (There’s No Such Place As Far Away) – 1979
  • A Ponte para Sempre (The Bridge Across Forever) – 1984
  • Um (One) – 1988
  • Fugindo da Segurança (Running from Safety) – 1995
  • Fora de Mim (Out of My Mind) – 1999